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Encontro debate como a cultura racista sobrevive após tantos anos da abolição

por Maria Luisa Marcoccia Última modificação 2021-05-14T15:37:58-03:00

A mesma forma lenta e gradual que se arrastou pelo século 19 para se chegar à libertação dos escravos, em 1888, repete-se no resgate da população negra no Brasil pós-abolição. Esses brasileiros mantêm-se marginalizados e com poucas ações de integração social e econômica tantos anos após a chamada Lei Áurea.

“Até hoje temos histórico de uma abolição que não acabou, já que permanecem os atos raciais violentos”, citou Paulo Roberto Lopes de Almeida Jr, coordenador do Ministério Afro da 3ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista, em debate na Universidade Metodista de São Paulo na passagem do 13 de maio deste ano.

Os convidados do evento promovido pelo Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da Umesp foram unânimes em dizer que há pouco a comemorar e muito a alertar sobre a pós-extinção do trabalho escravo, pois a população negra está distante dos mesmos status e direitos sociais dos brancos. “O 13 de maio é uma falácia porque tirou o protagonismo dos negros”, disse Diná Branchini, ex-membro da Pastoral de Combate ao Racismo da Igreja Metodista, segundo quem o racismo é camuflado no Brasil, mas se manifesta quando a sociedade reage com críticas às políticas afirmativas de cotas para universidades e vagas de trabalho.

Laboratório de traumas

Gabi Camuçatto, professora de Educação Física e graduanda em Psicologia, lamentou que o negro é visto como alguém sujo e preguiçoso e que isso marca em especial crianças em idade pré-escolar, que não sabem reagir à violência racial. “Cabe ao professor corrigir essa distância social promovendo ações antirracistas no comportamento, nos conteúdos das aulas e nas falas que resgatam histórias e valores, inclusive para crianças não-negras”, disse, qualificando o ambiente escolar como “um laboratório de traumas”.

O teólogo Roberto Loiola, especialista em Educação para Diversidade Cultural e Cidadania e em História e Cultura Africana e Afro-brasileira, aprofundou o conceito de cultura racista e como o ambiente social determina o olhar individual. Também mostrou a influência do metodismo histórico sobre o abolicionismo.

O também teólogo e historiador Ras André Guimarães expôs que, apesar das ações de opressão e de uma abolição sem reparação aos então escravos, a população negra não foi nem é alienada. Citou as várias fugas e movimentos de rebelião como formas de enfrentamento, como a Frente Negra Brasileira na década de 1930. Guimarães também apontou que a abolição foi obtida sob pressão, porque o Brasil estava às vésperas de se tornar República e precisava “modernizar” as relações produtivas com um mundo que havia abandonado a escravidão há tempos. O problema é que fez isso com o “embranquecimento” da mão-de-obra ao incentivar a imigração de europeus.

Caminhar coletivo

Para a coordenadora do NAC da Metodista, Cláudia Cezar, eventos como “Por uma cultura antirracista: diálogos no pós-abolição”, da última quinta-feira, contribuem para estimular reflexões e transformações, mas também mudanças. E isso ocorre sobretudo quando a iniciativa é coletiva, afirmou. O encontro teve parceria da Pastoral Nacional de Combate ao Racismo da Igreja Metodista e do Ministério de Ações Afirmativas Afrodescendentes na 3ª Região.

O reitor da UMESP, professor Márcio Oliverio, destacou que a universidade mostra seu respeito à diversidade e inclusão promovendo a boa formação do aluno, máxima produção de conhecimentos, na composição dos quadros de funcionários e no desafio de o aluno negro manter-se firme na escola.

Acompanhe a íntegra do evento, que contou também com intervenções de Juliana Yade, educadora e referência da Pastoral Nacional de Combate ao Racismo da Igreja Metodista, e da arte-educadora Nina Mancin, com o poema E Agora, Maria?

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