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Comunicações aprovadas nos GTs

por Marcello Vinicius de Freitas Ferreira Última modificação 2023-10-20T17:40:52-03:00
XXVI Semana de Estudos de Religião

GT 01: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

Coordenação: Prof. Dr. Kenner Roger Cazotto Terra (FUV); Prof. Dr. José Ademar Kaefer (Umesp); Prof. Dr. Paulo Roberto Garcia (Umesp); Prof. Dr. Marcelo da Silva Carneiro (Umesp); Prof. Dr. Flávio Schmiddt (EST) 

Ementa: O GT “Literatura e Religião no Mundo Bíblico” acolherá comunicações que estejam relacionadas com o imaginário, formação literária e recepção da Bíblia na tradição literária do Ocidente. Nesse sentido, as comunicações podem trabalhar com a escritura poética dos textos bíblicos (gêneros e técnicas retóricas utilizadas na sua composição e que considerem também a dinâmica de persuasão e a sua função em seus contextos históricos e sociais) ou procurem apresentar sua visão religiosa e teológica ou, então, procurem apreender a estrutura do pensamento próprio à sua temporalidade e a maneira em que ela interfere na nossa experiência do tempo histórico (o pensamento e o imaginário apocalípticos, as formas profanas da apocalíptica na literatura, no cinema, e a sua fortuna iconográfica, ligada ao poder figurativo deste tema). As comunicações podem também enfocar a apropriação dos modelos narrativos bíblicos e das suas imagens na tradição literária Ocidental, bem como o fato de que no processo de leitura o leitor procura desvendar os sentidos, os significados e as diversas possibilidades de interpretação do texto que tem diante de si (estética da recepção).

Palavras-chave: imaginário; textos bíblicos; estética da recepção; apocalíptica.

 

Dia 24/10/2023 – Terça-Feira – 14h00-17h00

Coordenação José Ademar Kaefer

  1. A estrutura de Gênesis a partir das tôlәdōt

Daniel Claudino Fiuza, Umesp, prdanielfiuza@gmail.com

Resumo: A ESTRUTURA DE GÊNESIS A PARTIR DAS tôlәdōt O tema condutor das narrativas de Gn 24-36 (Isaac-Jacó) está vinculado em como as promessas serão levadas adiante, a despeito dos conflitos entre os irmãos, Esaú e Jacó. Vale ressaltar que esses conjuntos redacionais (Gn 24-36; 37-50), estão cercados de narrativas que rememoram e revisitam a figura de Ismael através de suas תּוֹלְדֹת (tôlәdōt). Já as narrativas de Gn 37-50 tentarão responder a questão de como Israel chegou no Egito. Estas narrativas expõem a migração e o assentamento de Jacó-Israel, e as suas תּוֹלְדֹת naquele lugar. Ao narrar o assentamento destas famílias no Egito, essa seção final do livro do Gênesis faz o fechamento destas narrativas e prepara o povo de Israel para o Êxodo do Egito. Apesar de todos esses títulos genealógicos demonstrados nessas narrativas com o pano de fundo da Babilônia, Mesopotâmia, Canaã e Egito, o livro do Gênesis está estruturado por uma sucessão de histórias de conflitos e disputas entre irmãos por territórios e bênçãos dos seus pais. Esses irmãos conflituosos não são apenas figuras essenciais na história do povo de Israel; eles são a história do povo de Israel. Os atuais estudos do primeiro livro da Bíblia Hebraica, o livro do Gênesis, tendem a estruturá-lo a partir das תּוֹלְדֹת (tôlәdōt), cujo termo carrega os seguintes sentidos: gerações, genealogias, linha de descendentes, lista genealógica de ancestral, contemporâneos e ordem de nascimento. Estes estudos indicam que há um imprescindível interesse dos redatores dos textos bíblicos ao escreverem a história fazendo uso dessas genealogias, ou dos descendentes, a fim de inseri-los, quer seja numa sucessão contínua de ações, quer seja nas narrativas de mitos e etiologias. Isso demonstra que essas genealogias fornecem estrutura para o contexto narrativo abrangente em todo o livro do Gênesis.

  1. A materialidade dos judeus da ilha de Elefantina

Douglas Pedrosa, Umesp, douglaspedrosasf@gmail.com

Resumo: No início do século XX, foi descoberto a presença de um grupo de judeus que viviam no extremo sul do Egito, na ilha de Elefantina. Por intermédio de papiros e óstracos, conseguiu-se, portanto, compreender o cotidiano de uma comunidade judaica fora de Judá. Em 1968, foi lançada a importante obra de Bezalel Porten, que estuda exaustivamente os documentos que compõem este corpus. Todavia, outras publicações têm buscado repensar a materialidade de Elefantina, visto que, todos os papiros são do relevante e próspero período persa. Em razão disso, esta comunicação visa apresentar a origem da comunidade de Elefantina, a natureza dos textos e seus aspectos sociorreligiosos com relação à comunidade judaica do século V AEC. 

  1. Javé o Deus desconhecido do reino do norte: a busca da localização do início da adoração de Javé e seus funcionários de culto de fertilização

Glauce de Oliveira Santos da Silva, Umesp, presbglauce@gmail.com

Resumo: A dinastia Amri (845-841 a.C.), parece ter aderido Baal e Asherá como divindades oficiais (1Rs 16,31-33; 18,19; Rs 10,25-27). A reforma de Jeú acontece em um cenário de golpe militar, que extingui a dinastia de Amri. A descrição bíblica narra uma sequência de matança, que resultam com as destruições do santuário de Baal, e as imagens de Baal e de Asherá, e o estabelecimento de Javé como Deus oficial (2Rs9,1-10,31). Provavelmente esta reforma deve ter alcançado sobretudo o santuário oficial de Samaria e talvez ainda Betel, Guigal e Dã (Am 4,4; 5,5; 7,10-13; 8,14), santuários sobre os quais o rei tinha controle. Porém não se fala dos outros santuários tribais, onde seguramente Asherá e Baal continuaram sendo cultuados, ao lado de Javé, das divindades familiares (Elohim) e de muitas outras divindades que semelhantemente achava-se nas casas e nos locais de culto das aldeias e vilas camponesas. Esses cultos são antigos, conforme a autonomia que usufruíam e mesmos com as imposições de deslocamento, não raro, cada família e clã, na época pré-estatal, celebrava seus peculiares culto, tinha seus próprios altares, suas representações de divindades familiares. O rito, altares e sacrifícios são práticas que tinham a finalidade de garantir a prosperidade da comunidade, todos mantinham seus costumes, com interesse variados, sem a necessidade de impor uma padronização. É bastante provável que essa prática tenha persistido até a reforma liderada por Jeú. Mesmo após a eliminação dos sacerdotes de Baal e a destruição dos postes-ídolos, como é narrado no texto (2Rs 10, 25, 26), a adoração a Javé coexistia com a adoração a Baal e Asherá. No entanto, é importante entender a partir de quando, em que período e em que contexto específico a adoração a Javé começou a ganhar destaque no norte. Embora o santuário estivesse sob o controle do rei, as casas e os locais de culto nas aldeias e vilas camponesas escapavam do seu controle direto no que diz respeito à prática religiosa. A partir do suposto reino dividido Jeroboão instaura sacerdotes que não são da tribo de Levi, escolhido entre o povo (1 Rs12,31), embora a atitude de Jeroboão seja arbitrária conforme o texto bíblico nos apresenta, possivelmente já era uma prática costumeira, partindo do pressuposto dos hábitos aqui descritos.

  1. Introdução e histórico de interpretação do Cântico dos Cânticos

Lucas Garcia Neiro, Umesp, lucasneiro@hotmail.com

Resumo: “Saiba, meu irmão, que você encontrará grandes diferenças na interpretação do Cântico dos Cânticos. Na verdade, elas diferem porque o Cântico dos Cânticos se assemelha a fechaduras cujas chaves foram perdidas” (SAADIA apud POPE, 1977, p. 89, tradução nossa). Cântico dos Cânticos é um livro singular do cânon sagrado. Seu sentido e canonização foram alvos de grandes discussões nos primeiros séculos do cristianismo. A interpretação do Cântico foi alvo de discussão ao longo da história. Dentre as inúmeras interpretações recebidas, as que tiveram maior destaque são a interpretação alegórica, tipológica, mística, mítico-cultual, natural e dramática. A interpretação alegórica traz a ideia de que o amor e o romance tratados no livro representam o amor de YHWH por Israel. A interpretações tipológica e mística são consideradas derivações da interpretação alegórica. Na interpretação tipológica, o romance do casal não é descartado em termos humanos, mas aponta para algo supostamente maior do que ele mesmo: o amor de Cristo pela Igreja. Enquanto a interpretação alegórica se ocupa de interpretar o Cântico como uma metáfora do amor de Deus por Israel, negando o erotismo do livro, a interpretação mística encontra o erotismo onde existe o desejo, e, ao mesmo tempo, uma rejeição da sexualidade carnal. Por isso, essa interpretação encontrou lugar nos monastérios celibatários da igreja medieval. A interpretação mítico-cultual encontra no Cântico o culto às divindades femininas da fertilidade, como Asherah, Astart e Anat. Tanto os elementos quanto o imaginário primaveril livro dão margem para essa interpretação. Por fim, a interpretação natural entende que o Cântico trata do amor erótico-sexual dos amantes. Dentro dessa leitura, muitas margens para interpretação são abertas, como o drama e as tradições dos poemas de amor, por exemplo. Caminhar pelo histórico de interpretação, bem como discorrer sobre a situação atual da pesquisa no que se refere à autoria, estrutura, gênero literário e data de composição nos darão pistas para a melhor compreensão do mais belo Cântico de Salomão.

Palavras-chave: Cântico dos Cânticos; interpretação; introdução.

  1. Quem é Yesurun?

José Ademar Kaefer, Umesp, jademarkaefer@gmail.com

Resumo: Dois versículos em Deuteronômio 33 chamam a atenção por cousa de uma expressão rara: “Yesurun”! Dt 33,5 diz: “Havia um rei em Yesurun, quando os chefes do povo estavam reunidos junto com as tribos de Israel”; Dt 33,26 diz: “Ninguém é como El de Yesurun. Aquele que cavalga os céus, em seu auxílio, e sua majestade são as nuvens”. O significado já foi motivo de muita especulação. M. Noth afirmou que Yesurun é um conceito que se refere a yashar, “reto”, “justo”, em oposição a Jacó, interpretado em Gn 27:36 como “enganador”. E como tal, Yesurun seria um nome “poético” ou “afetuoso” para Israel. H. Seebass é de opinião que se trata de um povo vizinho de Judá e não pertencente às doze tribos de Israel. Como a tribo de Simeão já havia desaparecido neste período, este povoado teria a função de substituí-la. Assim, YHWH também teria se tornado o Deus de Yesurun. A pergunta é: trata-se de um Deus terreno ou de YHWH? Veremos.

Palavras-chave: Yesurun, rei; Deuteronômio; YHWH; Israel.

  1. A dinastia hasmoneia e sua influência na composição final do cânon judaico

Jheymes França Correia dos Santos; Umesp; j.hey.mes@hotmail.com

Resumo: A presente comunicação visa apresentar alguns aspectos do Período Hasmoneu nos séculos II e I AEC. Pretendemos, a partir do avanço dos estudos literários, das descobertas arqueológicas e das fontes extrabíblicas, mostrar se em que medida é possível identificar “inserções” ou “produções” hasmonea em outros textos bíblicos que descrevem a história de um “Israel”, tendo em vista uma indicação de que houve uma tentativa de reescrever parte da história bíblica do Primeiro Testamento no Período Hasmoneu.

Palavras-chave: Período Hasmoneu; Redação Bíblica; Exegese

  1. A contribuição do monoteísmo de Israel para ausência de sexualidade em Yahweh

Rui Caetano, Umesp, profruicaetano@gmail.com

Resumo: A religião tem desempenhado um papel fundamental na formação das sociedades ao longo da história, influenciando valores, normas, instituições e identidades culturais. No entanto, as dinâmicas religiosas contemporâneas estão sendo moldadas por uma série de fatores, incluindo globalização, avanços tecnológicos, migração, pluralismo religioso, mudanças nas estruturas sociais e ideologias. Dessa forma, está pesquisa visa investigar como o monoteísmo israelita contribuiu para que o cristianismo veja o sexo e a sexualidade como promiscuidade. Quais as consequências para às práticas e identidades religiosas e, para sociedade.

Palavras-chave: Prostituição, Monoteísmo e Sexualidade

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

Coordenação: Paulo Roberto Garcia

  1. A desacolhida do pobre no Decálogo

Antonio Telles Rodrigues, Umesp, tellesacademico@gmail.com

Resumo: Nas comunidades antigas, a vida econômica era escravista. Isso sugere que Israel, assim como seus vizinhos, também desenvolvia a sua economia a partir desse regime. Todavia, conforme a narrativa de Êxodo, depois de exilado e libertado da escravidão egípcia, Israel ficou proibido de exercer esse regime econômico (ainda defendido no Decálogo), trazendo para si, a partir da Torá, leis apodíticas e casuísticas, com vista a organizar, de modo vertical (Deus e Israel) e horizontal (Israel e si mesmo), a sua vida religiosa e terrena. Entre os fatores relacionado à questão, para a comunicação a ser realizada na XXVI Semana de Estudos de Religião da Umesp, destacam-se a representação do próximo e a desacolhida do pobre no Decálogo. Outro aspecto relevante diz respeito à ressignificação do Decálogo feita por Jesus ao resumi-lo nos dois maiores mandamentos: Mt 22. 37-39, que nada mais são do que a retomada do שמע “Shëmá” Dt. 6.4 (relação vertical/Deus e Israel) e a questão do “próximo” (relação horizontal/toda humanidade para consigo mesmo). Como exemplos, pode-se citar Mt 5 - que apresenta o cumprimento da Lei vestida de uma nova justiça a favor da vida, inclusive da vida dos pobres, e o próprio Jesus que, além de tudo, foi um servo obediente ao Pai (cf. Jo 6.38) e amoroso ao ser humano (cf. Jo 15. 12-14). Cumprindo assim, os dois maiores Mandamentos, sua síntese do Decálogo. Decálogo este que defende os bens do próximo em detrimento da vida do pobre, acolhida e defendida por Jesus. Palavras chaves: Decálogo; Desacolhida do pobre, Acolhida do próximo, Relação Vertical e Horizontal; Jesus e o Decálogo. Obs): esta comunicação é uma porção do meu projeto de pesquisa de doutorado.

  1. Sábado amoroso: literatura e tabu religioso na Antiguidade

Milton Torres, UNASP, miltntorres@gmail.com

Resumo: Os poetas do período helenístico optaram pelo epigrama em detrimento de outras formas poéticas. Por isso, surgiram certos livros de antologias poéticas que incluíram os epigramas e ficaram conhecidos como “grinaldas” (στέφανοι), a primeira das quais pode ter sido a de Meleagro (com aproximadamente mil epigramas), o que fez com que se extinguisse a diferença entre elegia, como poema para ser recitado, e o epigrama, como poema para ser colocado numa inscrição. Meleagro aparece, de modo conspícuo, no livro 5 da Antologia Palatina, uma suposta coleção de várias “grinaldas”, e sua poesia exótica é considerada a culminação da tradição epigramática helenística. Esta comunicação pretende examinar o epigrama 160 dessa antologia, que versa sobre as atitudes de um judeu helenístico quanto à prática de sexo durante o dia de sábado, especialmente em comparação com a notória proibição de acender fogo durante esse dia. Trata-se, portanto, de um exemplo de como a tradição literária pode incidir luz sobre as práticas e tabus religiosos da Antiguidade.

Palavras-chave: sábado; epigrama; sexo; tabu religioso; Antiguidade.

  1. Concepções populares sobre o desenvolvimento da crença nas divindades. Características do protocristianismo no aspecto da bricolagem e da semiótica

Fernando Rocha, Umesp, rocha_fernando@hotmail.com

Resumo: Esta pesquisa buscará reconhecer e identificar o desenvolvimento da vida religiosa presente nos primeiros cristãos. Trata-se de identificar formas, ambientes e sistemas perceptivos sobre a divindade, bem como se essas relações interferiram na construção de uma cristologia do protocristianismo.

  1. JESUS, O MESTRE DO DISCIPULADO BÍBLICO: UM ESTUDO EXEGÉTICO-TEOLÓGICO DE MARCOS 3,13-19

Jhonathan James de Sousa, EST, prjjdesousa@gmail.com

Resumo: o tema do discipulado no ministério de Jesus, para evidenciar a metodologia usada por Jesus na escolha dos doze discípulos. O estudo faz uma pesquisa exegética do texto de Marcos 3,13-19, ressaltando a dupla missão que Jesus designou aos doze discípulos, a saber: “para estarem com ele e para os enviar a proclamar e expelir demônios”. Recapitula, então, a importância da escolha divina e o desdobramento do chamado para atuação missionária com Jesus. Por fim, à luz do que foi evidenciado e analisado, infere-se, desse texto, que o método usado por Jesus no processo do discipulado pode ser de grande valor para a reflexão sobre o tema.

Palavras-chave: discípulos; discipulado; proclamação; exorcismo; exegese

  1. O cristianismo primitivo da bacia do Mediterrâneo e os conflitos com a comunidade de Jerusalém. Um olhar sobre os conflitos que cercaram a oferta levantada nas igrejas gentílicas para a igreja de Jerusalém

Paulo Roberto Garcia, Umesp, paulo.garcia@metodista.br

Resumo: O cristianismo primitivo em suas diversas facetas, que preferimos designar de cristianismos primitivos, precisou em seus inícios dialogar com a cultura e a religiosidade das diversas partes do mundo dominado pelo império romano onde ele se desenvolveu. Ao abordar o tema da oferta levantada pelas igrejas do cristianismo da bacia do mediterrâneo em seu espectro mais específico das comunidades de memória paulina para a igreja cristã de Jerusalém, podemos perceber os dramas e os conflitos que marcaram essas diversas expressões cristãs no seu início. Para isso, usaremos duas fontes. A primeira, uma fonte de primeira mão, que são as cartas de Paulo aos Coríntios e Romanos. A segunda, uma fonte de segunda mão, o livro de Atos dos Apóstolos. O desafio de recuperar as informações que permitem reconstituir esses conflitos será assumido a partir dos paradigmas da história indiciária, em especial nas teorias de Carlo Ginsburg. Esse instrumental dialogará com os pressupostos exegéticos tendo como objetivo reconstituir esses momentos iniciais dos cristianismos.

 

Dia 26/10/2023 – Quinta-Feira – 09h00-12h00

Coordenação: Marcelo da Silva Carneiro / Flavio Schmiddt

  1. O estudo da Septuaginta a partir da perspectiva da memória e identidade: apontamentos para uma jornada

Marcelo da Silva Carneiro, Umesp, marcelo.carneiro@metodista.br

Resumo: Os estudos sobre a Septuaginta têm como principal aporte a análise da tradução do hebraico para o grego, com suas diferenças e nuances. Nos últimos anos, a percepção, fundamentada nas descobertas das cavernas de Qumran, de que pode ter havido um texto hebraico base para a tradução (a Vorlage) diferente do texto massorético que temos acesso. Isso indicaria diferentes desdobramentos nas análises comparativas feitas até então. Além disso, há algumas décadas, os pesquisadores e pesquisadoras passaram também a analisar mais amiúde a relação da LXX com o NT, como ela influenciou a teologia dos autores, quando estes a usaram como base para sua argumentação escriturística. Em um passo mais adiante, minha comunicação terá como proposta apresentar as implicações do estudo da Septuaginta como elemento gerador da identidade judaica alexandrina, construído a partir da memória coletiva adaptada para o ambiente helênico-egípcio. Isso nos forçará a olhar a LXX em um campo mais amplo, como parte de uma grande rede textual judaica, em seu início de processo de canonização. Essa canonização tem caráter mais aberto, dialogando com o mundo cultural, e, ao mesmo tempo, entrando em conflito com ele.

Palavras-chave: Septuaginta; canonização; Identidade; memória coletiva; judaísmo do Segundo Templo.

  1. A circuncisão, a lei e o sábado - releituras a partir de Justino de Roma em diálogo com o Judeu Trifão: análise introdutória

José do Carmo da Silva, Umesp, przedocarmo@gmail.com

Resumo: A presente pesquisa científica objetiva analisar a construção da fé e identidade cristã no cristianismo primitivo a partir da ação de Justino, o Mártir (100 - 165). Também conhecido como Justino de Roma, o pioneiro Pai Apologista atuou no início do período pós Pais Apostólicos. Na época de Justino, o cristianismo era visto como parte ou continuidade do judaísmo formativo, portanto, a meta é trazer luz sobre sua colaboração na diferenciação entre ambos os seguimentos, a partir de suas releituras sobre a Circuncisão, a Lei e o Sábado, pontos nevrálgicos da identidade do judaísmo formativo. Isso se dará através da análise de trechos de uma das obras de Justino, a saber: Diálogo com O Judeu Trifão – (Dial. 10, 12 e 16). A ferramenta de análise será o paradigma indiciário, método pesquisado e utilizado pelo historiador italiano Carlo Ginzburg. Palavras-chave: Justino; Circuncisão; Lei; Sábado; Judaísmo Cristão.

  1. O dialogismo e a polifonia como métodos de análise: um exercício de leitura em Lucas 7.36-49

Josemir Carvalho, Umesp, josemircjr@gmail.com

Resumo: Nos últimos anos tem se observado que a vasta gama que hoje é percebida nas pesquisas dentro do cristianismo primitivo acabaria se tornando limitada se não tivesse havido uma aproximação entre Religião e Linguagem, isto é, caso não houvesse o apoio da linguística e da literatura, os métodos histórico-críticos poderiam, em algum momento, entender terem cumprido o papel da interpretação bíblica, anulando, assim, o seu aspecto fundamental: o de tratar de obra literária. São essas pesquisas, contudo, sobre as primeiras décadas da igreja que tornam possível entender os processos de transmissão e de formação dos discursos dos primeiros círculos cristãos. Dentro desses processos de transmissão, recepção e recriação das tradições, e de suas expansões e retrações, pode-se investigar quais vozes não se calam dentro das narrativas, mostrando sua força e consequentemente dos seus grupos formadores ao longo do tempo, culminando na sua presença nas versões escritas das memórias. Em outras palavras, essas vozes que precedem e se mostram nos textos permanecem presentes e independentes de outros discursos que pudessem vir a dominar certos círculos, até submetendo-se a interferências nos seus diálogos, mas não deixando de mostrar sua existência (e, assim, de seus sujeitos). Nessa presença de consciências autônomas a de uma possível autoria solitária e dominante, questionamos nesta pesquisa se o conceito de polifonia proposto por Mikhail Bakhtin se apresenta como categoria literária possível nesses contextos de pura dialogicidade. Podendo ser assim considerada, o que deve ser observado naquilo que se revela no texto e o que deve se considerar da vida que se passa (e se passou) até a sua versão escrita, no caminho das memórias e tradições circulantes àqueles ciclos, aqui, os da comunidade lucana? Uma vez que esta pesquisa se soma a um longo caminho já trilhado pelas Linguagens da Religião, buscamos nos apoiar tanto em aspectos sociais como linguísticos do Cristianismo Primitivo.

Palavras-chave: cristianismo primitivo; dialogismo; polifonia; literatura; lucas.

  1. O fim do mundo na visão dos Sutras Budistas

Plinio Tsai, Umesp, pliniomarcostsai@gmail.com

Resumo: A literatura budista, vasta e multifacetada, reserva, em seu seio, elementos da experiência religiosa sobre os mais diversos aspectos da existência. O Digha Agama, possui um texto que é uma referência no assunto sobre o fim do mundo, chamado de Agama 33, que aborda de maneira profunda a temática, um assunto que, ao longo da história, tem mexido com o imaginário coletivo. Segundo esse texto, o universo não é estático. Ele se encontra em constante movimento, seguindo ciclos de criação e destruição, nomeados "kalpas". Esses ciclos são subdivididos em quatro momentos: nascimento, sustentação, dissolução e um período de vazio. O estágio de dissolução é particularmente intrigante, pois detalha uma série de eventos cataclísmicos, frequentemente associados aos elementos naturais - fogo, água e vento. Mas, mais do que fenômenos físicos, representam a efemeridade da vida. O Agama 33 vai além e estabelece uma relação direta entre o comportamento humano e a iminência da destruição. Conforme a humanidade se distancia de valores morais, cedendo à ganância, ao ódio e à ignorância, o mundo caminha a passos largos para sua própria ruína. No entanto, em meio a essa visão um tanto sombria, há um fio de esperança. Para os budistas, o término de um ciclo não significa um fim absoluto. Depois do apocalipse, a vida recomeça, abrindo portas para novas possibilidades de evolução espiritual. Portanto, o Agama 33 do Digha Agama não apenas nos oferece uma visão sobre o fim do mundo, mas também uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a necessidade de vivermos com ética e compaixão. Em um universo em constante mudança, o texto sugere que há sempre espaço para recomeços, mesmo após o fim.

  1. O bibliolog no ensino religioso

Flavio Schmiddt, EST, flavio@est.edu.br

Resumo: O Ensino Religioso proporciona a oportunidade de trabalhar com diferentes textos sagrados sob as mais diversas formas. As formas clássicas de abordagem do texto bíblico nem sempre logram alcançar os objetivos desejados. É neste espaço que entra o Bibliolog. Como uma forma de vivenciar textos sagrados, o Bibliolog se apresenta como mais uma ferramenta pedagógica para o Ensino Religioso. Tomando por base os princípios do Bibliolog, o mesmo se apresenta como uma forma inclusiva de vivenciar o texto, superando questões de religião, gênero, raça e classe social. O objetivo da presente comunicação é apresentar a vivência do Bibliolog como estratégia de superação das diferentes formas de discriminação e preconceito. Trata-se de uma apresentação teórica do Bibliolog.

Palavras-chave: Bibliolog; Ensino Religioso, Vivência, Textos Sagrados, Tradição Cristã.

GT 02: Espiritualidade, Pluralidade Religiosa e Diálogo

Coordenação: Prof. Dr. Claudio de Oliveira Ribeiro (UFJF); Prof. Dr. Gilbraz de Souza Aragão (UNICAP); Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz (PUC-Minas)

Ementa: O GT “Espiritualidades Contemporâneas, Pluralidade Religiosa e Diálogo” tem por objetivo analisar a pluralidade religiosa atual e as tendências de diálogo na contemporaneidade buscando compreender a religiosidade do mundo contemporâneo. Acolhe pesquisas sobre as experiências da espiritualidade no cotidiano; dos estágios do desenvolvimento da experiência espiritual e a função da meditação; dos desvios do comportamento supersticioso e do misticismo; de práticas fundamentalistas. Pluralidade e mobilidade religiosas perpassam a realidade e os dados estatísticos da atualidade. Este contexto culturalmente plural convida as tradições religiosas e espirituais a dialogarem. Sem renegar ou desconhecer o que há de único e irrevogável em cada experiência, trata-se de perceber, no convívio com a diversidade, o dinamismo espiritual que está entre e para além das religiões/espiritualidades. Incluem-se nesse debate aquelas expressões laicas e sem deus. O diálogo inter-religioso que elas todas proporcionam faz repensar o sentido de tolerância e o compromisso ético dessas espiritualidades com a paz mundial.

Palavras-chave: espiritualidades contemporâneas; pluralidade religiosa; diálogo; religiosidade.

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

  1. O pluralismo como pressuposto: postulados e problematizações.

Flávia Amaro, Umesp, flavia.ramaro@gmail.com

Resumo: Antes de se pensar o pluralismo como um aspecto auto evidente na sociedade brasileira, talvez fosse interessante discutir o fato de as definições e classificações de religião, bem como as de secularismo e pluralismo, terem surgido com a modernidade e sua correlata lógica liberal ocidentalocêntrica. É preciso levar em consideração que, a exaltação da diferença religiosa defendida na esteira do pluralismo não deixa de revelar suas imbricadas raízes na violência colonial do passado e na colonialidade do sagrado do presente. No pluralismo as disputas por fronteiras melhor delimitadas são responsáveis por acirrar a concorrência entre as diferentes religiões componentes do campo religioso nacional. Visto por esse ângulo, a liberdade religiosa ao invés de garantir um espaço público secular, na realidade favorece disputas concorrenciais. Assim, pode-se deferir que, em certa medida o aspecto religioso perde terreno para a dimensão política e mercadológica. A partir do momento que nós pesquisadores das ciências da religião admitirmos o pluralismo como um pressuposto, o desafio passa a ser refletir sobre como o campo religioso administra essas tensões e conciliações, o que incorrerá em uma ampliação do referencial de investigação analítico. Partindo dessas premissas, o objetivo desta comunicação é refletir sobre as peculiaridades do pluralismo no Brasil. Para tanto foi realizada uma revisão bibliográfica.

Palavras-chave: campo religioso; Brasil; liberdade religiosa; pluralismo; violência colonial.

  1. O sentido das festas religiosas: Crenças e práticas ao sagrado na festa de São Sebastião

Juliane Maria, UEPA, juliane.rodrigues1996@gmail.com

Resumo: Partindo da inquietação e da necessidade de conhecer qual o sentido das festas religiosas e da realidade cultural na sociedade brasileira, busca-se analisar os aspectos religiosos para compreender a cultura e a religião. Busca-se também responder algumas indagações a respeito do sentido das manifestações religiosas. Para isso, lança-se um primeiro olhar a festa de São Sebastião no município de igarapé-Açu. Sabe-se que com o passar do tempo, com o mundo moderno, muitas tradições foram se perdendo, a correria do dia a dia, as milhares de informações foram tomando lugar das tradições, mas, mesmo com todas essas inovações do mundo moderno, em muitos lugares, ainda se preservam festas religiosas com grande importância, e com grandes participações populares, e mesmo diante de todas as inovações, em algumas cidades e vilarejos ainda se mantém viva a tradição religiosa. Sabe-se também que a religião é um fator preponderante na vida de todos os seres humanos, pois tem fundamental importância na construção da sociedade, e tornou-se um fator para amenizar tantos problemas existenciais da humanidade nessa perspectiva por ser algo de dimensão humana torna-se importante a reflexão sobre essa temática. A religiosidade tem um significado próprio para cada pessoa, a fé vivida é sentida individualmente, por cada crente no ser superior, tornar-se partilhada no momento em que as crenças se revelam de forma comunitária. As experiências coletivas são organizadas normalmente, nos templos, sinagogas e mesquitas, onde o povo religioso frequenta no ato de fé.

  1. A Religiosidade popular nos quilombos Urbanos e Rurais da Amazônia: a Festa de São Benedito no quilombo do Barranco em Manaus e a Festa de Nossa Senhora Aparecida no quilombo Sagrado Coração de Jesus do Lago do Serpa em Itacoatiara – AM.

Vinícius Alves da Rosa, Umesp, viniciusalves1@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho realiza, com o viés acadêmico, um recorte epistemológico para investigar as religiosidades observadas em duas unidades étnicas, oficialmente denominadas de comunidades remanescente de quilombos, situadas no Estado do Amazonas. A pesquisa desenvolvida, no âmbito das Ciências da Religião, propõe apresentar a festa de São Benedito, um festejo de vertente católica popular, organizado há 133 anos no quilombo urbano do Barranco de São Benedito, localizado na zona centro-sul em Manaus. O fato evidencia as estratégias protagonizadas pelo coletivo quilombola, ao participar das etapas do ritual religioso no interior do quilombo; expressando a longevidade da devoção em honra ao Santo Protetor, pois, amiúde, mostra a sua potência, como símbolo de resistência cultural, apresentada ao longo de sua história. A festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada no quilombo rural Sagrado Coração de Jesus do Lago de Serpa, no município de Itacoatiara-AM, desde 1976, sobre a expressão religiosa celebrada na Comunidade quilombola. Cabe destacar a procissão fluvial que acorre na data de 22 de setembro, em razão da imagem da santa Padroeira dos quilombolas ter sido encontrada no Lago do Serpa, localizado nas adjacências do quilombo exatamente neste dia. Buscar-se-á compreender como a religiosidade se configura na vida social da comunidade quilombola urbana e da comunidade quilombola rural, ambas territorializadas na Amazônia brasileira. O marco teórico conceitua a categoria analítica “religiosidade popular”. A etnografia será o método utilizado. A pesquisa de campo desenvolvida pelo autor deste trabalho, a partir de 2021, para a escrita da tese doutoral, permite realizar o levantamento dos dados de ambas as comunidades étnicas selecionadas para este estudo. A confissão religiosa do quilombo rural e do urbano é majoritariamente católica, com destaque à festa de São Benedito em Manaus e a devoção à Nossa Senhora Aparecida, em Itacoatiara- AM.

Palavras-chaves: religiosidade popular; quilombo urbano; quilombo rural; festa de São Benedito; Festa de Nossa Senhora Aparecida.

  1. Glossolalia: o lugar do dom de Línguas na vivência religiosa dos cristãos pentecostais

Marcelo Serafim de Souza, EST, marcelohefziba@hotmail.com

Resumo: Para os pentecostais os dons ou manifestações dos dons carismáticos que caracterizaram a Igreja do primeiro século, ainda estão em pleno vigor. Dentre estes, o “falar em outras línguas” ou glossolalia, também conhecido como diversidade de línguas ou “línguas estranhas”. O presente estudo se propõe a abordar o assunto em uma perspectiva da teologia prática pentecostal e apontar o lugar do referido dom dentro da vivência dos cristãos pentecostais. As questões envolvendo as crenças e práticas dos primórdios cristãos, e posteriormente das igrejas, desde sua gênese, diz respeito as interpretações que os seguidores de Jesus Cristo deram aos seus ensinamentos e da hermenêutica aplicada pelos apóstolos às profecias e outros conteúdos veterotestamentários, como por exemplo, o capítulo 2 do livro do profeta Joel. Com a implantação da Igreja em Jerusalém, seguindo o exemplo de Jesus no desenvolvimento do seu ministério terreno, os cristãos passaram a reproduzir milagres que viram ou ouviram dizer que ele fizera. Prodígios como cura, libertação ou exorcismo de pessoas possessas de demônios, ressurreição de mortos, entre outros, caracterizaram os seguidores do Salvador. Entretanto, esses prodígios somente passaram a fazer parte do cristianismo depois do derramamento ou batismo no Espírito Santo, conforme previsto por Jesus Cristo. Pois, a partir de então, os cristãos foram revestidos de poder e os milagres os seguiram. Dentre as doutrinas cristãs é comum a ideia, ou pelo menos a mais aceita entre as diversas correntes teológicas, o fato de que o Espírito Santo, é Deus, e que é ELE quem capacita os cristãos através de dons espirituais para servir a Deus e seu reino. Segundo as profecias acerca da atuação do Espírito Santo na vida dos fiéis, no Antigo Testamento, o profeta Joel registrou a promessa de Deus de que ele derramaria indistintamente sobre todas as pessoas, fazendo velhos sonhar e jovens profetizar e ter visões, conforme o versículo 28 do capítulo 2. E no versículo 29 de supracitado capítulo o “derramar do Espírito”, ali contido é uma promessa divina, conforme a hermenêutica pentecostal, cumprida em Atos 2 no “dia de Pentecostes”, entre os cristãos primitivos, que reverbera até os dias atuais.

Palavras-chave: glossolalia; falar em línguas; batismo com Espírito Santo.

  1. Pérolas fundamentalistas presentes em igrejas, sob a ótica do teólogo reformado sul-africano David Jacobus Bosch

Martinho Rennecke, EST, mrennecke@hotmail.com

Resumo: Esta comunicação versa sobre experiências da espiritualidade no dia a dia, especialmente de alguns desvios como as práticas fundamentalistas presentes em igrejas, apontadas por Bosch. A ideia de rejeição do mundo, a Igreja como mediadora da salvação e como sendo o Reino de Deus na terra, como meta da missão, a alegoria e a metafísica como hermenêuticas, o efeito devastador do pecado e a restauração individual, atrair pessoas para a Igreja, a centralidade da liturgia como meio de missão, o chamamento para fora do mundo, o retraimento da responsabilidade com o mundo, são algumas destas pérolas destacadas por Bosch. O contexto culturalmente plural convida as igrejas a dialogarem com respeito ao diferente, sem desconhecer o que há de único em cada experiência, no convívio com a diversidade. A metodologia utilizada se ancora na pesquisa bibliográfica. Os resultados apontam que o diálogo ecumênico faz repensar o sentido de tolerância e o compromisso ético dessas espiritualidades com a paz mundial. Não se poderia intencionar a eliminação forçada de todas as diferenças, mas reconciliação na diversidade exige autocorreção, aprendizagem mútua e ensaios concretos de comunhão eclesial. É preciso reconhecer que as teologias são parciais e culturalmente influenciadas, são contextuais. Assim, a realidade por ser vista de várias maneiras, e estas podem ser mais complementares do que contraditórias. Boa parte do discurso de “entregar tudo nas mãos de Deus”, pode ser antes uma fuga das responsabilidades individuais e coletivas com a sociedade. Uma pessoa cristã é mais do que alguém que tem amis chance de ser salva, mas é alguém que aceita a reponsabilidade de servir, de ajudar na transformação da sociedade e da criação. Antes de um consenso doutrinário deve vir um consenso com a preocupação pelo mundo.

Palavras-chave: fundamentalismo; espiritualidade; diversidade; diálogo; tolerância.

 

GT 03: Gênero e Religião: tendências e debates

Coordenação: Profa. Dra. Fernanda Lemos (UFPB); Profa. Dra. Sandra Duarte de Souza (Umesp); Profa. Dra. Naira Carla di Guiseppe Pinheiros dos Santos (Umesp); Profa. Dra. Carolina Bezerra de Souza (EST)

Ementa: O GT "Gênero e Religião: tendências e debates" tem como objetivo propor discussões de pesquisas que envolvam a articulação entre gênero e religião, buscando analisar as implicações de gênero dos sistemas simbólico-religiosos que informam as/os fiéis e as instituições sociais de maneira geral. Essa análise se dará em perspectiva interdisciplinar, e o GT pretende reunir pesquisas em torno do eixo gênero e religião a partir de diversas áreas de conhecimento como a sociologia, a antropologia, a história, a teologia, a psicologia dentre outras. A religião, mesmo em um contexto secularizado, ainda se mostra como um importante sistema de sentido na conformação das subjetividades masculinas e femininas. Seu poder normatizador e regulador tem sido frequentemente discutido no âmbito dos estudos feministas. Por outro lado, as ortodoxias religiosas se deparam com a heterodoxia da vida cotidiana dos sujeitos religiosos, o que relativiza significativamente o poder regulador das instituições e dos sistemas de sentido religiosos. O GT acolherá propostas de comunicações que discutam aspectos teórico-metodológicos dos estudos de gênero e religião, bem como propostas que analisem os câmbios ou continuidades do discurso religioso acerca dos papéis sociais de sexo num contexto de redefinição das identidades de gênero. São bem-vindas propostas que articulem gênero e religião na discussão da violência, seja ela doméstica, urbana, nas instituições religiosas, nas relações de trabalho; na discussão da diversidade sexual; da bioética; da laicidade; da política dentre outros.

Palavras-chave: gênero; religião; identidades.

 

 

Dia 24/10/2023 – Terça-Feira – 14h00-17h00

  1. Os primeiros passos do igualitarismo bíblico no Brasil e a árdua batalha em prol da igualdade de gênero nas igrejas evangélicas

Alana Carla de Lima Lucena Farias, UFPB, alacarlufa@hotmail.com

Resumo: O que começou em 1975 com uma discussão teológica entre os Cristãos pela Igualdade Bíblica e o Conselho sobre Masculinidade e Feminilidade Bíblica no periódico evangélico americano chamado Christianity Today, acabou tomando proporções mundiais e dividindo os teólogos e estudiosos em dois grandes grupos: os igualitaristas e os complementaristas. Os primeiros, basicamente, pregam uma igualdade de gênero baseada no estudo do contexto histórico e na interpretação de alguns versículos bíblicos, acreditando que homens e mulheres são iguais diante de Deus e que, por isso, podem exercer as mesmas funções no ambiente religioso. Já os complementaristas, de uma forma geral, também se baseiam nos mesmos versículos da Bíblia, porém com uma hermenêutica diferente, para afirmar que existem diferenças fundamentais entre os sexos e que isso resulta, consequentemente, em funções específicas destinadas para cada um. Atualmente o segundo grupo ainda tem se dividido entre complementaristas amplos e estreitos, sendo estes os que acreditam que essas diferenças são evidenciadas principalmente dentro da igreja, estando a mulher proibida de ocupar cargos de liderança apenas no contexto religioso; e aqueles convictos de que essas diferenças ultrapassam as barreiras eclesiásticas e devem nortear toda a vida humana, incluindo a vida profissional e pessoal. Esse debate chegou até o Brasil timidamente e estava presente majoritariamente no ambiente acadêmico, sendo bastante restrito e pouco conhecido pela maioria dos cristãos. Ao mesmo tempo, os evangélicos brasileiros tinham fácil acesso apenas a uma perspectiva do diálogo sobre o papel da mulher: o complementarismo. Por muito tempo essa corrente teológica era a única disseminada entre os evangélicos brasileiros, principalmente através dos livros publicados pelas principais editoras e pelos grandes congressos e conferências realizadas. A maioria dos materiais voltado para o público feminino trazia o complementarismo como verdade absoluta e, consequentemente, abordavam o papel da mulher impondo limitações e restrições quando à sua atuação eclesiástica e até mesmo social. Recentemente, porém, alguns materiais igualitaristas têm sido publicados e causado reações diversas. A maioria dos complementaristas associam o igualitarismo ao feminismo de maneira pejorativa, encarando como um pensamento a ser combatido entre os cristãos; já outro pequeno grupo tem se identificado e descoberto uma nova hermenêutica bíblica que proporciona a liberdade de ser mulher na fé cristã. Além disso, em 2023 foi realizada no Brasil a primeira conferência dos Cristãos pela Igualdade Bíblica, tendo sido o primeiro encontro organizado e oficial dos igualitaristas no país. Ao mesmo tempo que os pequenos avanços são motivos de celebração, também cabe a seguinte reflexão: por que o tema do igualitarismo só agora está sendo desenvolvido no Brasil? Por que, quando o assunto é a igualdade de gênero, existem tantas barreiras e preconceitos nas igrejas evangélicas?

Palavras-chave: igualitarismo; complementarismo; evangélicas.

  1. Bíblias de gênero e linguagens de controle

Ana Tomazelli, PUC-SP, ana@anatomazelli.com.br

Resumo: O tema definido para o presente projeto concentra-se: No estudo da noção de matrimônio para o campo evangélico (SOUZA, 2018) e na maneira como as igrejas conduzem a questão, a saber: A partir do próprio livro sagrado direcionado para o gênero feminino (há uma homogeneidade de forma e discurso); A partir de produtos digitais direcionados para educação de gênero e relacionamentos; Na análise do discurso multimodal e complexo, a partir da Análise de Discurso Crítico Multimodal (ADCM) (WODAK, 2001); Na investigação acerca da reconstrução do cotidiano pelas mulheres que sofreram o evento crítico da infidelidade conjugal, a partir das categorias de sofrimento propostas pela antropóloga indiana Veena Das em sua obra “Vida e palavras” (DAS, 2020). Pergunta de pesquisa Qual é o papel da Igreja na decisão da mulher pela manutenção ou dissolução do casamento após sofrer o evento da infidelidade conjugal?

Palavras-chave: Bíblia; gênero; linguagem.

  1. Mulheres à frente: desvendando o papel fundamental no nascimento das igrejas em células

Fabiano Pires Silva, Umesp, fabianopires.consultor@hotmail.com

Resumo: Esta comunicação investiga o papel crucial e muitas vezes subestimado das mulheres no surgimento das igrejas em células, com um enfoque no notável exemplo de David (Paul) Yonggi Cho. Contextualizado na Coreia do Sul dos anos 1960, um período de profundos desafios eclesiásticos decorrentes do crescimento urbano e da necessidade de adaptação de métodos de ministério, Cho emergiu como uma figura visionária que reconheceu a necessidade de um modelo de igreja mais inclusivo, descentralizado e flexível para atender a uma congregação diversificada e em crescimento. O objetivo principal deste estudo é destacar e analisar o protagonismo das mulheres no contexto do surgimento das igrejas em células, salientando como suas contribuições foram fundamentais para o desenvolvimento desse sistema eclesiástico. Nesse sentido, desejamos analisar a resistência inicial enfrentada por David Yonggi Cho ao introduzir o conceito de igrejas em células. Examinar a influência da pastora Choi (futura sogra de Cho) na mudança de paradigma e na aceitação da liderança feminina nas células, uma vez que a junta de diáconos havia rejeitado tal missão. E investigar o conflito sociocultural e as barreiras enfrentadas por Cho para implementar essa mudança. Este estudo se baseia principalmente em uma revisão bibliográfica abrangente, que inclui a análise de fontes históricas, biografias de David Yonggi Cho e materiais publicados por ele. Além disso, utilizamos obras relacionadas ao movimento de igrejas em células e estudos sobre o papel das mulheres no contexto religioso. Prevemos que os resultados deste estudo destacarão a importância das mulheres na fundação e expansão das igrejas em células, demonstrando como suas contribuições foram cruciais para superar desafios socioculturais e hierarquias patriarcais. Espera-se que este exame traga à tona uma visão mais completa e justa da história das igrejas em células. Em suma, este trabalho destaca a relevância do protagonismo feminino na história das igrejas em células, frequentemente negligenciado. Reconhecer esse protagonismo é crucial para uma compreensão abrangente e imparcial da história destas igrejas, destacando como a força e a determinação das mulheres deram origem a um movimento religioso inovador que continua a impactar comunidades em todo o mundo.

Palavras-chave: mulheres; igrejas em células; David (Paul) Yonggi Cho; protagonismo feminino; liderança feminina.

  1. Uma mulher negra chamada Emília Costa: ensaio acerca do apagamento histórico da primeira diaconisa das Assembleias de Deus no Brasil

Eder William dos Santos, Umesp, prederwilliam@gmail.com

Resumo: Esta comunicação propõe analisar o apagamento histórico de Emília Costa, mulher negra que se tornou a primeira mulher a ser ordenada diaconisa das Assembleias de Deus no Brasil. Assim, o objetivo principal é compreender em que medida o sexismo e o racismo contribuem para a invisibilidade de mulheres em contexto religioso e analisar quais são os impactos fomentados pela dominação masculina nas esferas do poder das instituições eclesiásticas frente aos ministérios femininos. Nesse sentido, analisaremos os marcadores sociais de gênero e de raça, com seus respectivos atravessamentos interseccionais sobre os ministérios das mulheres, especialmente sobre os ministérios das mulheres negras assembleianas.

Palavras-chave: gênero; raça/etnia; interseccionalidade; Emília Costa; Assembleias de Deus no Brasil; ministérios femininos.

  1. Cidadã de Fé: mulheres negras evangélicas e percepções sobre cidadania e representação política

Vanessa Maria Gomes Barboza, Umesp, vanessagomespe@gmail.com

Resumo: Desde as eleições de 2018 o voto evangélico se tornou alvo de interesse de pesquisas eleitorais para entender a influência desse segmento na polarização eleitoral e política brasileira. Em 2022, as mobilizações pelo voto democrático em uma das eleições mais emblemáticas do país, trouxe para o centro da disputa do eleitorado, a figura das mulheres, especialmente as evangélicas. Diante disso, mulheres negras evangélicas, especificamente, se tornaram o grupo bastante disputado pela conquista de votos naquele ano. Então, o presente trabalho tece reflexões sobre os principais resultados da segunda edição do projeto Cidadã de Fé, organizado e promovido pela Rede de Mulheres Negras Evangélicas em 2023 que buscou se aproximar das percepções básicas sobre política de suas integrantes. Participaram da consulta cerca de 75 mulheres negras evangélicas de 12 estados brasileiros, que responderam a um questionário sobre cidadania e a relação entre fé e representação política. Entre os resultados de destaque, estão o perfil das participantes, mulheres com alta escolarização (ensino superior completo e pós-graduadas), em sua maioria mulheres adultas (acima dos 35 anos) com um entendimento afirmativo da relação entre fé e política, e a violência contra a mulher apontada como tema prioritário para a cidadania feminina. Considerando o racismo e o sexismo como elementos determinantes das experiências predominantemente negativas da população negra no Brasil, as vivências de cidadania das mulheres negras evangélicas são atravessadas por desigualdades estruturais e persistentes. A dimensão da fé, seja numa perspectiva libertária ou conservadora, está presente na prática política do cotidiano dessas sujeitas racializadas. Precisamos compreender com maior profundidade quais as costuras de sentidos entre teologia e política essas mulheres elaboram para lidar com o contraditório na busca por cidadania plena.

Palavras-chave: mulheres negras evangélicas; cidadania; eleições.

  1. A Urgência de uma Teologia Feminista Negra no Brasil: Uma Chamada à Transformação Teológica

Aline Frutuoso, Umesp, fruty.aline@gmail.com

Resumo: Este estudo é parte da minha pesquisa de mestrado que propõe uma investigação da evolução e impacto da teologia feminista negra, destacando sua emergência, desenvolvimento e contribuições, que têm sido até agora negligenciadas pela teologia convencional. No Brasil, as mulheres negras enfrentam desafios interseccionais que não podem mais ser ignorados nas discussões teológicas e religiosas. A história registra o silenciamento sistemático de suas vozes, contribuições e experiências. Este resumo defende que a urgência de uma Teologia Feminista Negra no Brasil reside em vários fatores fundamentais. Primeiro, a interseccionalidade de gênero e raça no Brasil é complexa. As mulheres negras vivenciam formas únicas de opressão e discriminação, muitas vezes invisíveis no discurso teológico convencional. A Teologia Feminista Negra oferece uma lente poderosa para compreender e abordar essas interseções, reconhecendo as experiências singulares dessas mulheres. Segundo, as contribuições da Teologia Feminista Negra têm sido largamente ignoradas nas discussões teológicas brasileiras. Suas vozes e perspectivas são fundamentais para desconstruir narrativas religiosas opressoras e reconstruir uma visão inclusiva e libertadora de espiritualidade e fé. Terceiro, a Teologia Feminista Negra não é apenas teoria; é uma ferramenta para a justiça social e a transformação. Ela desafia o racismo e a misoginia profundamente enraizados nas estruturas religiosas e sociais do Brasil. Essa abordagem teológica não apenas resgata as narrativas das mulheres negras, mas também as empodera para serem agentes de mudança em suas comunidades religiosas e na sociedade como um todo. A urgência de uma Teologia Feminista Negra não pode ser subestimada. Sua incorporação é essencial para um diálogo teológico transformador no contexto brasileiro e regional, promovendo uma teologia que abrace a diversidade, enfrente o racismo sistêmico e contribua para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Palavras-chave: teologia feminista negra; mulheres negras.

  1. Hermenêutica Restauradora do Corpo: um diálogo entre gênero e religião na obra de Frida Kahlo

Lívia de Carvalho, Umesp, liviamartins110@gmail.com

Resumo: Esta pesquisa se propõe a, através de uma análise de textos e obras artísticas, usando como inspiração as obras da Frida Kahlo, identificar o corpo no texto, na arte, e dessa maneira demonstrar como resgatá-lo de quaisquer amarras sociais ou religiosas, utilizando as expressões artísticas da Frida como exemplo desse corpo resgatado. As amarras mencionadas aqui são as que prendem o corpo e sua sexualidade, suas experiências, seus desejos, suas dores, sua angústia e prazer. A intenção é restaurar o corpo através do que chamo de “hermenêutica restauradora do corpo”. Desvelaremos o corpo coberto que saiu do paraíso para seu estado natural.

Palavras-chave: corpo; hermenêutica restauradora do corpo; teologia feminista; Frida Kahlo.

  1. Estereótipos religiosos e de gênero na representação de pessoas muçulmanas em esquetes do grupo “Porta dos Fundos”

Maurício de Oliveira Filho, Umesp, mauricio.de.oliveira.filho@gmail.com

Resumo: Esta comunicação busca apresentar, por meio da análise de conteúdo, a representação estereotipada de pessoas muçulmanas tanto em seus aspectos religiosos quanto em seus papeis de gênero em vídeos do canal de esquetes Porta do Fundos. Conhecido por seu posicionamento progressista em favor de direitos humanos e, inclusive, alvo de ação terrorista no dia 24 de dezembro de 2019 motivado pela exibição de um Especial de Natal em que Jesus era apresentado como um homem gay, tem seis vídeos em que retrata pessoas muçulmanas. Por meio da coleta de dados imagéticos, simbólicos e semânticos é confrontada a hipótese de que o grupo, honestamente buscando denunciar violações dos direitos humanos da população de países muçulmanos, tem um olhar estigmatizado para a cultura islâmica, fazendo tal crítica com um olhar ocidental secularizado. Em dois dos esquetes, as protagonistas são mulheres usando burca ou niqab; três deles apresentam homens terroristas; e um, nas cenas pós-créditos, após um agente de imigração estadunidense fazer perguntas a um turista brasileiro para encontrar nele qualquer traço de cultura árabe (expondo, assim, uma postura islamofóbica do estado americano), um agente de imigração de um país árabe não identificado age como uma contraparte de seu homólogo americano, buscando encontrar qualquer traço estadunidense em outro turista brasileiro, igualando-os. Em nenhum dos esquetes, como ocorre em muitos dos vídeos do grupo quando são retratados outros setores oprimidos, as muçulmanas e muçulmanos são apresentados como pessoas plenas de direitos e emancipadas social e politicamente. Como resultado, toda mulher muçulmana é retratada como subjugada e coagida ao uso da burca ou niqab e todo homem muçulmano é apresentado como militante de uma jihad contra o ocidente. Por fim, buscamos mostrar como em momentos de intenso debate acerca da opressão do povo palestino ou da luta de mulheres muçulmanas por seus direitos houve um silenciamento sobre o tema por parte do grupo.

Palavras-chave: religião; islamismo; gênero; estereótipos; porta dos fundos.

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

  1. Homofobia, heteronormatividade e heterossexualidade compulsória no filme “Close”

José Flávio Nogueira Guimarães, PUC-Minas, joseflaviong@icloud.com

Resumo: O presente trabalho vislumbra as questões de gênero tais como a homofobia, heteronormatividade, heterossexualidade compulsória e a imposição da cisgeneridade. O objetivo é ressoar um alerta contra todas essas imposições sociais que aqui reafirmamos serem prejudiciais e mortais, fatais. O filme “Close” é utilizado como instrumento de ilustração para a abordagem de tais tópicos. Diante disso fazemos uso de um tratamento qualitativo de dados bibliográficos diante da análise empírica do já mencionado filme. A investigação apresentada aqui, partindo de uma abordagem qualitativa, se abre à uma perspectiva dos estudos de gênero e religião, constituindo-se como uma análise que insere e contempla a cultura. A pesquisa qualitativa foca na riqueza da informação, como no caso de perguntas com finais abertos; preocupa-se com descrição; é mais flexível; investiga o significado que os indivíduos e grupos atribuem aos fenômenos humanos ou sociais e, finalmente, pressupõe um relacionamento mais próximo com seus tópicos ou assuntos. O tema é pertinente e urgente; descortina o lugar da religiosidade na nossa sociedade, que gera tabus sexuais e de gênero que podem vir a causar a morte de adolescentes vulneráveis ainda em formação. Recomenda-se, portanto, um investimento em educação para que essa estrutura, muitas vezes, imperceptível, seja desmontada, desconstruída e a aceitação da diversidade e da diferença, sem rótulos e preconceitos, tome lugar nessa nova formação ou construção. Faz-se necessária uma educação sexual e de gênero e uma homogeneização da diversidade. Concluímos que todes os LGBTQIA+ precisam ter o seu lugar nessa nova sociedade em processo de emergência.

Palavras-chave: “Close”; o filme; religião e gênero; homofobia; heterossexualidade compulsória; ciência da religião.

  1. Bloco Gente de Fé: discursos político-religiosos contra hegemônicos na Parada LGBTQIAPN+ de 2023

Fernanda Marina Feitosa Coelho, Instituto Pramana, femfcoelho@gmail.com

Resumo: Em junho de 2023, lideranças de diversas religiões se uniram para professar sua fé e reivindicar melhores políticas públicas para pessoas LGBTQIAPN+. O ato interreligioso foi denominado “GENTE DE FÉ POR DIREITOS: por políticas sociais que respeitem a diversidade e todas as religiões! ”. O evento foi organizado por Koinonia – Presença Ecumênica em Serviço e contou com a presença de lideranças religiosas cristãs, de religiões de matriz africana, budistas, judaicas e outras. O evento também contou com figuras políticas, leigos e leigas que também tiveram um espaço de fala. O evento é uma continuidade do “1º Congresso Igrejas e Comunidade LGBTI+: diálogos ecumênicos para o respeito à diversidade” que deu origem à Carta de São Paulo, documento que visa afirmar o direito à fé de pessoas de sexualidades consideradas dissidentes. Para falar sobre a edição de 2023, dividiremos nossa apresentação em 3 momentos. Inicialmente, falaremos sobre as intenções apresentadas no primeiro congresso assim como sua culminância na Carta de São Paulo. Em seguida, descreveremos brevemente a estrutura do evento ocorrido em 2023 assim como apontaremos as dimensões social, política, educacional, religiosa e outras que percebemos no decorrer do ato. Por fim, nos concentraremos na dimensão política, apontando a importância e potencial da continuidade de um evento que reivindique continuamente o direito de pessoas que são consideradas abjetas pela sociedade hegemônica provocando tensões nas relações entre religião e políticas de gênero para pessoas que não abrem mão de vivenciar suas fés e que denunciam formas de opressão e dominação que são sustentadas por discursos religiosos dominantes.

Palavras-chave: religiosos LGBT; sexualidades dissidentes; identidade de gênero; igrejas inclusivas; direito de aparecer.

  1. Construindo pontes: interseção entre cuidado e pessoas LGBT+ nas religiões cristãs

Pamela Barbosa Silva, EST, pamellaceres@gmail.com

Resumo: O amor é o princípio maior do Cristianismo. A defesa dos excluídos esteve sempre presente no ministério de Jesus e se tornou também a missão dos cristãos. A Igreja, como corpo místico de Cristo, do qual Ele é a cabeça, deve estar aberta ao acolhimento de todos os filhos de Deus, sem distinção, já que o próprio Deus não faz acepção de pessoas (Atos 10,34). A presente pesquisa tem por objetivo geral propor um caminho de interseção entre a teologia do cuidado, à luz dos ensinamentos de Jesus, e a atuação de pessoas LGBT+ nas religiões cristãs, e por objetivos específicos, analisar a situação das pessoas LGBT+ dentro das religiões cristãs e sugerir atuação pastoral voltada para o cuidado, à luz da parábola das cem ovelhas, descrita no livro de Lucas, capítulo 15, versículos de 1 a 7. Dos diversos questionamentos que instigam o estudo, depreende o seguinte problema de pesquisa: Por que pessoas LGBT+ são comumente excluídas ou colocadas à margem do contexto religioso? A estratégia metodológica é o estudo teórico, por meio de pesquisa qualitativa e explicativa em relação aos fins e bibliográfica em relação aos meios. A pesquisa se justifica pela relevância do tema quanto aos desafios pastorais frente à sociedade atual e pela necessidade de estudos que promovam o debate e a reflexão no âmbito acadêmico. Os resultados demonstram a importância de se fomentar a teologia do cuidado no âmbito das religiões cristãs, de forma a romper com a prática da exclusão de pessoas, especialmente em virtude da identidade de gênero e/ou orientação sexual, para a construção do Reino de Deus que é para todos.

Palavras-chave: diversidade; religião; LGTB; pastoral; cuidado.

  1. De passos largos para o inferno: a Igreja Betesda como “inclusiva” pentecostal

Átila Augusto dos Santos, PUC-SP, atilaaugustoreligiao@gmail.com

Resumo: Há precisamente duas décadas, a partir de 2003, o antropólogo Marcelo Natividade já sinalizava um cenário de tensão e conflito no seio do campo religioso judaico-cristão, o que mais adiante denominou como "novas guerras sexuais", motivadas pelo surgimento de igrejas inclusivas que adotaram uma abordagem não condenatória em relação às sexualidades dissidentes. Dentro deste panorama religioso, em julho de 2022 a Igreja Betesda (pentecostal), sob a liderança do Pastor Ricardo Gondim, alinha-se publicamente com esta tendência. Em um culto dominical, o referido pastor se posicionou afirmando a Igreja Betesda como uma “igreja afirmativa e inclusiva”. Seu posicionamento aponta para progressos significativos nesse espaço antes impermeável aos LGBTI+. Mas isto também gerou incomodo de fiéis que abandonaram a Igreja Betesda, além de polemizarem nas mídias sociais com dizeres como: de “Passos largos para o Inferno”. Neste contexto, o propósito central desta comunicação reside na compreensão das complexas dinâmicas subjacentes a essa “evolução”, marcadas por relações de poder, e na avaliação da possibilidade de os fiéis LGBTI+ estarem retornando ou não aos ambientes religiosos que os estigmatizaram, no passado, forçando-os a abandonarem as Igrejas Inclusivas que, há duas décadas, ingressaram na disputa pela identidade religiosa cristã e pentecostal no contexto brasileiro e já arrebanham milhões de fiéis em Igrejas como Cidade de Refúgio, Contemporânea e Nova Esperança. Através da aplicação da metodologia etnográfica, com foco na Conferência "Jesus Hope - A Igreja e as Pessoas LGBTI+" realizada na Igreja Betesda em junho de 2023 que reuniu igrejas que são contra discursos de ódio direcionados à comunidade LGBTI+, foram conduzidas observações participantes e entrevistas. Essa abordagem visa fornecer uma compreensão mais profunda das dinâmicas subjacentes a essa significativa evolução. As conclusões apresentadas incluirão percepções, experiências e emoções vivenciadas no campo, bem como uma análise deste impacto. Esses insights são cruciais para desvelar questões microssociais específicas dentro do âmbito religioso pentecostal, as complexas interseccionalidades das relações interpessoais e as particularidades que envolvem grupos e indivíduos nesse contexto.

Palavras-chave: igreja inclusiva pentecostal; interseccionalidade; LGBTI+; Igreja Betesda; Ricardo Gondim.

  1. Rastros da Relação entre Gênero e Religião nas Memórias de Simone de Beauvoir

Fernanda Lemos, UFPB, somel_ad@yahoo.com.br

Resumo: Simone de Beauvoir, conhecida como filósofa e feminista, escreveu mais de vinte e duas obras dentre ensaios filosóficos, memórias e romances, além de inúmeros artigos na revista francesa Les Temps Modernes, da qual fora fundadora e permanecera como editora até sua morte em 1986. A maioria de suas obras é desconhecida do público em geral, principalmente sua rara e breve escrita sobre a religião e as religiosidades, mesmo porque tais temáticas nunca foram seu objeto privilegiado de estudo. Neste sentido, objetiva-se analisar à luz da filosofia existencialista e da fenomenologia sua compreensão sobre as relações entre religiosidade e gênero. Este empreendimento se dará a partir da análise de suas memórias entre os anos de 1958 e 1972: Memórias de uma moça bem-comportada, A força da idade, A força das coisas e Balanço Final. Durante sua estada no Brasil, na década de 1960, fora levada por Zélia Gattai e Jorge Amado para conhecer o Candomblé da Bahia, fato que fora detalhadamente descrito em uma de suas memórias. Suas percepções sobre a condição social das mulheres negras baianas e o ato ritualístico da religião da qual faziam parte, principalmente como 'cavalos', trouxera uma compreensão fenomenológica desta realidade sobre o corpo feminino. Segundo ela, diferentemente do catolicismo, essas mulheres se transformavam - em poucos minutos - de lavadeiras a semideusas. Neste sentido, buscaremos analisar, a partir da perspectiva de gênero, como a compreensão da religiosidade beauvoiriana se transformara desde suas primeiras análises existencialista sobre a compreensão de Deus.

Palavras-chave: Simone de Beauvoir; memórias; gênero; religião.

  1. Laicidade à francesa: contradições entre discursos e práticas na construção da igualdade de gênero

Naira Pinheiro dos Santos, Umesp, nairapinheiro@gmail.com

Resumo: A laicidade possui um caráter peculiar no contexto francês, tendo em conta o aspecto militante de que este se reveste, quer no âmbito das políticas de Estado, quer no âmbito da sociedade civil. Nos perguntamos aqui se, e em que medida, tal contexto promove efetivamente a igualdade de gênero. Para tanto nos utilizaremos de fontes bibliográficas e de entrevistas para analisar determinadas políticas e práticas governamentais. Observam- se contradições entre discursos e práticas, que denotam ausência de consistência no que concerne a políticas de igualdade de gênero.

Palavras-chave: laicidade; França; igualdade de gênero.

 

Dia 26/10/2023 – Quinta-Feira – 09h00-12h00

  1. Dinâmicas de gênero, abuso sexual e religião: desconstruindo estereótipos e promovendo a inclusão de mulheres evangélicas

Janaína Brito de Assis Freitas, Umesp, janainaassisfreitas@gmail.com

Resumo: A compreensão das complexas interações entre gênero, religião e abuso sexual é crucial para abordar questões de desigualdade e discriminação nas sociedades contemporâneas. Nesse contexto, esta comunicação se propõe a explorar as dinâmicas de gênero na intersecção entre religião e abuso sexual contra mulheres evangélicas, visando desconstruir estereótipos prejudiciais e promover a esse grupo marginalizado o direito de decidir sobre o seu próprio corpo e vontades. O objetivo deste estudo é analisar como as narrativas religiosas podem influenciar percepções de gênero e afetar a resposta à vítima de abuso sexual. A metodologia adotada é uma revisão bibliográfica especifica, que compreende a análise crítica de estudos, e pesquisas anteriores sobre gênero, religião e abuso sexual. Os propósitos intrínsecos incluem: investigar de que modo as interpretações religiosas historicamente moldaram a categoria de gênero; perceber como os discursos religiosos podem contribuir para a perpetuação do abuso sexual; identificar abordagens e estratégias que desafiam tais dinâmicas. A partir da análise dos dados e informações coletadas na revisão bibliográfica, observou-se que as interpretações religiosas frequentemente perpetuam estereótipos de gênero prejudiciais, contribuindo para ambientes onde o abuso sexual é minimizado ou ignorado. No entanto, também foi constatado que muitas comunidades religiosas estão buscando reinterpretar suas tradições de maneira inclusiva e emancipatória, para combater o abuso sexual e promover a igualdade de gênero. Com relação à literatura existente, este pretende contribui ao destacar a necessidade de uma análise crítica das interpretações religiosas, incentivando um diálogo que reconheça a diversidade de perspectivas de gênero e promova a segurança das vítimas de abuso. Em conclusão, a reflexão ressalta a importância de desafiar estereótipos arraigados e de promover a inclusão de gênero, considerando também as complexas interseções com outras dimensões identitárias, como raça, classe social e orientação sexual, afim de combater o abuso sexual contra mulheres evangélicas e avançar em direção a uma sociedade mais justa e igualitária. Reconhecendo a interseccionalidade dessas experiências, podemos desenvolver estratégias mais eficazes para enfrentar os desafios que essas mulheres enfrentam.

Palavras-chave: gênero; religião; abuso sexual; mulheres.

  1. A Inserção do Elemento 'Religião' nos Prontuários de Atendimento de Mulheres em Situação de Violência: Uma Análise das Contribuições no Centro de Referência de Atendimento à Mulher Vítima de Violência Márcia D’Angremon de São Bernardo do Campo (CRAM)

Maria Aparecida Souza, Umesp, msouzarosa@gmail.com

Resumo: Esta comunicação tem como escopo a abordagem da incorporação do componente "religião" nos prontuários de atendimento destinados a mulheres em situação de violência no Centro de Referência de Atendimento à Mulher Vítima de Violência Márcia D’Angremon de São Bernardo do Campo (CRAM). O CRAM iniciou suas atividades de acolhimento/atendimento às mulheres em situação de violência em 1991, no entanto, apenas a partir de 2001 o elemento "religião" passou a figurar na folha de rosto do instrumental de atendimento. Diante dessa alteração, nosso objetivo consiste em compreender as razões subjacentes à inclusão desse elemento e avaliar sua eficácia no âmbito do atendimento prestado. Para alcançar esse propósito, planejamos realizar entrevistas semiestruturadas com a equipe que estava em serviço quando o componente "religião" foi introduzido nos prontuários, bem como com a equipe que atualmente realiza atendimento psicossocial no CRAM. Tais entrevistas serão respaldadas por um referencial teórico relevante que aborda a importância da dimensão religiosa na vida das mulheres em situação de violência, bem como seu impacto no processo de atendimento. Antecipamos que esta pesquisa nos facultará uma compreensão mais aprofundada acerca dos motivos que levaram à inclusão do componente "religião" nos prontuários de atendimento do CRAM, além de possibilitar a avaliação da pertinência e utilidade dessa informação no contexto do atendimento às mulheres em situação de violência. Além disso, nossa intenção é analisar se a percepção da equipe técnica em relação à dimensão religiosa das usuárias do serviço contribui para a oferta de um atendimento mais eficiente e sensível às necessidades dessas mulheres.

Palavras-chave: religião; mulher; violência; atendimento; CRAM.

  1. Filhas e netas, vítimas de agressores: justificativas religiosas para o abuso sexual praticado por pais e avós pastores

Miriam de Oliveira Dias, Umesp, miriamdias1@gmail.com

Resumo: No recorte específico sobre abuso sexual de pastores e lideranças religiosas há pouca bibliografia brasileira. Milhares de meninas são violentadas todos os dias por homens que deveriam ser seus protetores e as consequências destas violências se perpetuam por toda sua vida. A maioria dos casos de abusos ocorre no ambiente familiar e permanece em grande parte silenciosa durante muitos anos, até que rompam o silêncio que acontece principalmente no meio religioso. Apresentar e analisar os relatos de mulheres, filhas e netas de pastores, que quando crianças foram vítimas de abuso sexual praticado por seus pais, explicitando os argumentos religiosos utilizados pelos agressores para justificar o abuso. Realizaremos pesquisa bibliográfica sobre a temática, em especial, no contexto religioso. A pesquisa de campo será de caráter qualitativo e descritivo, e privilegiará a metodologia da história oral. As pesquisadas será o mulheres adultas, declaradas evangélicas que na infância sofreram algum tipo de abuso sexual por seus pais ou avo s que exerciam alguma liderança em igrejas evangélicas. Espera-se por meio de relatos de histórias de vida de mulheres, buscar analisar e entender os argumentos religiosos utilizados pelos agressores para justificar o abuso. É necessário que esse silêncio se rompa mesmo que a violência seja perpetrada por um pai e avô . Um silenciamento das vozes de mulheres que passaram pelo abuso na infância, pois este abuso intrafamiliar traz marcas e as vítimas não denunciam por medo, vergonha e culpa.

Palavras-chave: gênero; violência; infância; religião.

  1. De lá para cá e de cá para lá: apontamentos sobre migração e religião, uma leitura a partir dos marcadores sociais de diferença.

Fábio Fonseca do Nascimento, Umesp, fabiofonseca19@yahoo.com

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os marcadores sociais da diferença relacionando as categorias poder, raça, gênero e religião que envolvem a população migratória. Para esta reflexão pretende-se compreender a importância de uma epistemologia que luta contra o projeto hegemônico de uma sociedade desigual. A partir das principais contribuições do movimento feminista nos Estados Unidos e no Reino Unido “black femisnisms” acerca da noção de interseccionalidade apresentada à teoria social são base para esta reflexão. A interseccionalidade, neste artigo é utilizada como elemento de análise para identificar os marcadores sociais da diferença que atravessam as pessoas migrantes. Neste sentido, torna-se importante os estudos do teórico indo-britânico Homi K. Bhabha (2013), para se pensar o lugar metafísico do migrante, os “entre-lugares”, especialmente no contexto do mundo pós-moderno, produtor das diferenças sociais. Com efeito, em uma perspectiva histórica, o mundo pós-moderno estabelece, unilateralmente um sistema próprio da diferença, que não está totalmente envolvido com o antigo sistema do mundo feudal de acordo com os estudos de Dussel (1993). O mundo pós-moderno reúne e envolve uma série de pontos totalizantes da diferença como cisheteropatriarcado, sexismo, colonialismo e sistemas semelhantes, ressignificados a partir de uma estrutura social pré-estabelecida. Assim, este artigo apresenta de forma suscinta um breve panorama dos marcadores sociais da diferença, sob a perspectiva de uma análise teórica que relacione e identifique o migrante como indivíduo que é atravessado por esses marcadores.

Palavras-chave: interseccionalidade; migração; religião; “entrelugares”.

  1. Balanço da presença de mulheres na docência em Ciências da Religião no Brasil: análise do percurso de uma área de conhecimento

Sandra Duarte de Souza, Umesp, sanduarte3@gmail.com

Marina A. Santos Correa, UFS, marinasantoscorrea@gmail.com

Resumo: A masculina configuração da área de Ciências da Religião e Teologia não pode ser dissociada do fato de que sua emergência se deu no contexto de instituições confessionais patriarcais e por iniciativa de teólogos. Estudar religião tem sido tarefa principalmente de homens, seja por conseguirem maior apoio institucional, seja por dedicarem menos tempo ou mesmo se ausentarem das demandas domésticas sem prejuízo para seu reconhecimento social, seja por trabalharem temas menos “ácidos” para a academia e suas mantenedoras. A presente comunicação tem como objetivo explicitar apresentar um balanço da presença de mulheres na docência em Ciências da Religião no país. A pesquisa se pautou em dados disponíveis no Coleta CAPES do último quadriênio em termos da composição docente dos seus Programas. A análise dos dados tomou como referência as teorias críticas feministas. Como resultado, diagnosticamos a quase imperceptível mudança do quadro da participação de mulheres docentes nos PPGs da área nos últimos anos, e concluímos que os entraves para tal participação precisam ser enfrentados com seriedade e de forma articulada por nossos Programas, coordenação de Área e ANPTECRE, devendo haver uma política expressa de redução da assimetria de gênero nas Ciências da Religião.

Palavras-chave: mulheres cientistas da religião; docência; assimetria de gênero.

 

GT 04: Religião como Texto: Linguagens e Produção de Sentido

Coordenação: Prof. Dr. Douglas Rodrigues da Conceição (UEPA); Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira (PUC-Campinas) Prof. Dr. Marcio Cappelli Aló Lopes (PUC-Campinas); Prof. Dr. Martin Santos Barcala (Umesp)

Ementa: O GT “Religião como Texto: Linguagens e Produção de Sentido” pretende oferecer um fórum para a discussão de questões teóricas referentes ao papel dos símbolos, narrativas e sistemas religiosos na criação de sentido, sistemas comunicativos complexos e universos poéticos. Serão abordadas também análises de obras literárias, míticas, imagéticas, gestuais, em perspectiva da semiótica, da hermenêutica, da crítica literária, entre outras. A religião é parte constitutiva das primeiras formas de expressão da cultura, presente em antigos sepultamentos adornados simbolicamente, nas estatuetas portáteis de deusas, nas pinturas rupestres, entre outras manifestações pré-históricas. Diferentes abordagens científicas concordam com o fato de que estas formas simbólicas religiosas estão intrinsecamente relacionadas com as primeiras articulações da linguagem. A parceria entre linguagem e religião é, portanto, fundamental para entender as implicações de uma em relação à outra e para compreender como a religião se manifesta como texto, estruturada e traduzida em muitas formas de linguagem em relação: ritos, símbolos, narrativas, cultura visual, entre outros.

Palavras-chave: religião e linguagem; produção de sentido; hermenêutica; religião e textualidade; narratividade; cultura visual.

 

Dia 24/10/2023 – Terça-Feira – 14h00-17h00

  1. Testamento de Jó: Uma narrativa apócrifa

Francisco Leite, PUC-Campinas, ethnosfran@hotmail.com

Resumo: O Testamento de Jó é um texto apócrifo que retrabalha os principais temas do livro de Jó da Bíblia Hebraica. Os conteúdos do livro do primeiro testamento são retomados em forma predominantemente narrativa e temas como a atuação de Satanás e a recompensa ao fiel são atualizados, de acordo com o imaginário do século II d.C. Surge o demoníaco, a magia, a esperança no além e a ressurreição. Objetiva-se na presente comunicação apresentar o conteúdo desse texto a partir de sua narratividade.

  1. Religião e Cura: a prática do Pena e Maracá na Umbanda paraense

Mattheus Figueiredo, UEPA, figueiredomateusuepa@gmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como foco a relação entre religião e cura no ritual de Pena e Maracá no espaço religioso do Templo Umbandista dos Tupinambás. Pena e Maracá é uma prática de pajelança situada em religiões afro-diaspóricas brasileiras (Umbanda, Tambor de Mina, Terecô etc.) e exerce a cura através de entes que incorporam no corpo do sacerdote. Rituais de cura na Amazônia são estudados desde a década de 70, principalmente por antropólogos que focaram suas pesquisas nos estudos da religião no nordeste amazônico, mais especificamente nos trabalhos acerca da chamada “pajelança”, estudos como os de Heraldo Maués (1990, 1994, 2005), que se especificou em estudar a definida por ele de “pajelança cabocla” e suas relações com o catolicismo popular na comunidade de Itapuá, em Vigia; os estudos de Eduardo Galvão (1976), que na comunidade de Itá no Baixo Amazonas estudou a religiosidade e a constituição de uma pajelança mestiça, entre o indígena e o português, onde atribui a origem das práticas de pajelança aos povos indígenas da Amazônia; Napoleão Figueiredo (1972, 1979) e Anaíza Vergolino (1972) que pesquisaram antropologicamente as religiões de batuque e as interseções da cura pela pajelança nessas religiões; Aldrin Figueiredo (1996) que estudou historicamente a presença da pajelança no espaço urbano de Belém; entre outros que serão incluídos com o desenvolvimento da pesquisa. Sendo assim, o estudo tem como objetivo apresentar compreensivamente como se configura a etnocenografia religiosa do ritual de Pena e Maracá, assim como a sua variedade de sentidos que compõem o ritual, desde o imaginário ameríndio, os símbolos, as narrativas, as diferentes categorias de entes (humanos, não-humanos: encantados, plantas, maracá, entidades, entre outros), e seus aspectos mórficos, assim como a continuidade do ritual dentro do Templo Umbandista dos Tupinambás e de sua dinâmica religiosa.

Palavras-chave: ritual; cura; pena e maracá; pajelança; Umbanda.

  1. Profecia e Poética: Entrelaçamento hermenêutico entre o profetismo bíblico e a inventividade literária

Matheus Rocha, Umesp, matheusrochaedu7@gmail.com

Resumo: Para o ser humano, a linguagem não é mera questão de comunicação objetiva, pois carrega consigo uma potencialidade de levar os indivíduos às entranhas e ulteriores de si e da realidade que os cerca. Assim, emerge sua capacidade poético e religiosa, a qual se dá na busca do homem pelos sentidos. O profetismo bíblico pode ser visto como fruto dessa relação, visto ter sido movimento religioso do Antigo Israel que registrou, de modo literariamente diverso, o cotidiano do povo com sua percepção do divino. Todavia, tanto a pesquisa moderna, quanto a aproximação confessional, têm, por vezes, negligenciado seu caráter poético, por uma percepção unívoca, seja ela proveniente de um objetivismo exegético ou dogmático. Enquanto reflexão e resposta a tal situação, a comunicação perpassará por três etapas centrais. Na primeira, será feita uma breve apresentação sobre as possibilidades de se pensar o diálogo entre religião e poética, partindo da noção de que o transpassar do ser humano manifesta-se em sine qua non com a potencialidade linguística. O fenômeno religioso, portanto, encontra-se de modo frutífero com a poiésis, ou seja, com a criação literária, pois ambas se intersecionam em seu locus fundante, a antropologia, na busca do humano pelo excesso de sentido. Tal constatação lança questionamentos às aproximações estritamente proposicionais. Em sequência, a segunda parte consistirá na elaboração de apontamentos sobre a Bíblia, enquanto literatura, pois nela, arte poética e reflexão religiosa se mostram inseparáveis e transportam-se mutuamente. Para tanto, faz-se necessário repensar o conceito de literatura, advindo do século XVII, o qual não comporta a integralidade do fenômeno da poiésis. Mesmo com uma noção diversa de intencionalidade literária e o processo redacional compósito presente nos textos bíblicos, é possível perceber construções criativas de dramas polifônicos. Nessa perspectiva, a aproximação desses deve ser atenta à dimensão estrutural, porém, aberta ao horizonte semântico de compreensão do texto. Como desdobramento, a terceira seção do trabalho indicará a possibilidade de um paradigma literário para a leitura da profecia bíblica. Tanto o dogmatismo religioso, quanto a crítica histórica, enveredaram-se em sentido estreito nessa tarefa. Seja com a finalidade do descortinar de uma fala divinamente inspirada ou de uma personagem histórica original, ambos se debruçam contra o texto, a fim de que, por trás dele, encontrem a resposta que almejam. No entanto, mesmo a ênfase na história da redação parece ter feito transparecer a noção da relevância da construção literária como um todo, proporcionando um deslocamento da busca pelo indivíduo “profeta” e sua logia original para o encontro com o texto. Profecia passa a ter um forte caráter poético, que pode ser visto como um chamado para modelar, através da linguagem, uma experiência e compreensão da realidade, o que a torna paralela à poética. Por fim, a pesquisa entende a relação entre a religião e poiésis como fundante para a possibilidade de ler as obras do profetismo bíblico como fruto intencional de tradição coletiva, perceptível à centralidade do páthos dessa experiência.

Palavras-chave: profetismo; poética; fenomenologia-hermenêutica; hermenêutica bíblica.

  1. Vozes esquecidas: uma análise do relato das monjas budistas que buscaram o ordenamento pleno.

Nirvana França, Umesp, nirvanafranca@gmail.com

Resumo: Quando uma mulher adentra ao monasticismo budista, ela precisa percorrer etapas para progresso no desenvolvimento espiritual através dos níveis (estágios) de ordenamento. Enquanto para os homens é necessário passar por apenas dois estágios para o Pleno Ordenamento, para as mulheres exige-se passar por três estágios: Shrāmaṇerī, monja noviça com dez preceitos; Shikshamāṇā, estágio intermediário, chamado de probatório com trinta e quatro preceitos; Bhikṣhunī, monja plenamente ordenada com 364 preceitos (na tradição Mūlasarvāstivāda). Se lançamos olhar as tradições originárias, três destas persistem no nosso tempo e elas ainda mantêm a linhagem de ordenamento, Dharmagupta, Mūlasarvāstivāda e Theravāda, nestas somente a Dharmagupta mantem a linhagem dos votos de Ordenamento Pleno feminino, enquanto nas demais, a linhagem se perdeu, as mulheres são reservados os dois primeiros níveis, mas as monjas do nosso tempo não se conformaram com isso, e mais uma vez se levantaram em luta, existe um movimento global pelo seu restabelecimento das linhagens perdidas. Isso pode ser feito de diversas maneiras, contando com o apoio das monjas Dharmagupta cuja linhagem se mantem intacta. As mulheres que lutam por este restabelecimento enfrentam obstáculos variados, que vão desde a proibição estatal, como é o caso da Tailândia, ou por não recebem apoio de suas comunidades e não são bem-vistas, como é o caso tibetano. O objetivo da presente comunicação é discutir o processo de ordenamento pleno a partir da experiência de uma monja budista que conquistou essa posição. Além de pesquisa bibliográfica, foi realizada uma entrevista semi-estruturada em formato virtual com monjas da Shakyadhita, residente em Valinhos - SP. Tal proposta é um extrato da pesquisa de doutorando em andamento. Que investiga as motivações da busca do ordenamento pleno feminino a despeito dos impedimentos.

Palavra chave: budismo; monja budista; luta feminina; ordenamento pleno.

GT 05: Religião e Educação

Coordenação: Prof. Dr. Francisco Willame [UEPA]; Profa. Dra. Laude Brandenburg [EST]

Ementa: O GT “Religião e Educação” organiza os estudos e pesquisas da relação entre educação, cultura e religião, campo este que se abre sistematicamente aos pesquisadores de Teologia e de Ciências da Religião, assim como de áreas afins. Com perspectiva interdisciplinar, sua intenção é compreender os diferentes processos de ensino e aprendizagem nos espaços escolarizados e comunitários. Esse núcleo abrange temas como ensino religioso, educação em diferentes espaços confessionais, diversidade, formação inicial e continuada, formação de lideranças para movimentos e estudo dos diferentes segmentos escolares, entre outros. Tais elementos estão relacionados à compreensão e à transformação das práticas e conduções da vida e políticas educacionais apresentadas como plataformas para a ordenação e a direção das relações da humanidade com seu entorno (natureza, transcendência, alteridade).

Palavras-chave: educação; religião; ensino religioso.

 

Dia 24/10/2023 –Terça-Feira – 14h00-17hh00

  1. Narrativas religiosas: O resgate de leituras e produções significativas, em turmas dos Anos Finais do Ensino Fundamental, por meio do componente curricular Ensino Religioso

Arlete Caetano de Jesus, Faculdades Unidas, letecjesus@gmail.com

Resumo: Em que medida as narrativas religiosas podem contribuir para a promoção do Ensino Religioso escolar exitoso, no resgate a alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental que se distanciaram tanto da leitura quanto de produções significativas (textuais e simbólicas), no neologismo do “desaprendimento” da vivência dos Anos Iniciais, na comunidade de Paineiras-MG? De forma geral, intui-se: resgatar a autonomia e criatividade dos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental, tendo como ponto de partida a vivência local de cada um, por meio das narrativas religiosas da Comunidade escolar de Paineiras-MG. E, especificamente, delineia-se: a) estabelecer diálogos com essa comunidade; b) mapear e visibilizar a realidade religiosa local da comunidade, por meio da construção dos alunos de produções textuais e simbólicas das narrativas religiosas locais; c) selecionar e publicar na comunidade de Paineiras-MG o resultado das produções significativas dos discentes. O enfoque da pesquisa-ação participativa dar-se-á na vivência comunitária e escolar, lugares de mundo em que fluem as narrativas religiosas, com a base pedagógica do Construtivismo nas versões de Piaget e Vygotsky, bem como no enfoque de conhecimento do espaço sagrado individual e coletivo de Eliade. Espera-se que os alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental dessa comunidade (re)descubram-se leitores ativos e autores criativos da própria linguagem, conscientes do seu estado de pertença e se descortinando para novas experiências. Assim, mesmo que o discente não seja um praticante de “fé”, que as narrativas religiosas da comunidade local, entranhadas no viver cotidiano, contadas e recontadas, sejam seu lugar de chão e mola propulsora para a caminhada conhecida e reconhecida, dialógica e prática, resultando no resgate do sujeito ativo-criativo.

Palavras-chave: resgate; narrativas religiosas; leituras; produções significativas.

  1. Teologia e educação: uma visão adventista do papel do professor

Fábio Augusto Darius e Vanessa Raquel Meira, Unasp, fabio.darius@unasp.edu.br

Resumo: A relação entre teologia e educação desempenha um papel muito importante para os adventistas brasileiros, uma vez que sua denominação possui uma grande rede de escolas no Brasil. Neste trabalho, será explorada a visão adventista sobre o papel dos professores, sob a ótica de Ellen White, e a necessidade de se desenvolver uma teologia da educação adequada a essa perspectiva religiosa. O desafio que se apresenta é compreender de que maneira a teologia adventista pode efetivamente guiar a prática pedagógica, a partir do reconhecimento do crucial papel que os professores desempenham no processo educativo. Ellen White, em sua obra, atribui aos professores um papel de grande responsabilidade na formação do caráter dos alunos, enfatizando a necessidade de um exemplo de vida baseado na compreensão adventista dos princípios cristãos. Para ela, a educação deve se pautar em valores espirituais e morais, com foco no desenvolvimento holístico dos estudantes. Ao abordar a visão adventista sobre a importância dos professores e a necessidade de uma teologia da educação específica para a denominação, espera-se uma educação que promova a integração de valores religiosos com os conhecimentos acadêmicos. Isso permitirá o desenvolvimento integral e a formação de indivíduos comprometidos com sua fé e com uma visão de mundo fundamentada em princípios éticos e morais. Em suma, a visão adventista sobre teologia e educação coloca os professores como agentes fundamentais no processo educativo, enquanto possibilita uma formação integral ao desenvolvimento de cidadãos comprometidos com a fé e com a sociedade. Essa pesquisa fará o levantamento dos dados por meio de uma revisão bibliográfica de obras selecionadas de Ellen White que aborda a educação como temática, buscando um aprofundamento da visão orienta a atuação dos educadores em suas práticas pedagógicas.

Palavras-chave: prática pedagógica; educação adventista; Ellen White.

  1. O uso do bibliodrama numa comunidade quilombola: aprendendo e experienciando as histórias da Bíblia

Vanderlei Ricken, EST, rickennet@gmail.com

Resumo: O bibliodrama é uma abordagem pedagógica que combina elementos da dramatização com a exploração de textos bíblicos. Neste contexto, a comunicação examina como essa técnica pode ser adaptada e utilizada de forma significativa em uma comunidade quilombola, uma comunidade afrodescendente rica em cultura e história. O Sertão do Valongo é uma comunidade quilombola no interior de Porto Belo em Santa Catarina. Essa comunidade é religiosa e valoriza as histórias bíblicas. A apresentação começa contextualizando a importância das histórias bíblicas em muitas culturas, incluindo a comunidade quilombola. As histórias bíblicas frequentemente contêm elementos universais que podem ser relacionados às experiências e desafios enfrentados pela comunidade. O bibliodrama oferece uma maneira única de envolver os membros da comunidade nessas histórias, tornando-as mais relevantes e acessíveis. A comunicação destaca os benefícios do bibliodrama, incluindo o estímulo à reflexão crítica, a exploração de valores morais e éticos, o fortalecimento da identidade cultural e a promoção do diálogo intergeracional. Essa abordagem também oferece uma oportunidade de aprendizado participativo, onde os membros da comunidade podem se envolver ativamente na criação e interpretação das histórias bíblicas. Um aspecto fundamental da apresentação é a adaptação do bibliodrama à cultura e às necessidades específicas da comunidade quilombola. Ao fazer isso, o bibliodrama se torna uma ferramenta poderosa para preservar e transmitir a cultura quilombola de geração em geração. A pesquisa em andamento tentará adaptar um bibliodrama para ser utilizado na comunidade. Em suma, a comunicação sobre o uso do bibliodrama numa comunidade quilombola demonstra como essa abordagem pode ser uma ferramenta valiosa para promover a educação, a reflexão e a preservação da cultura em contextos específicos. Ao permitir que os membros da comunidade se envolvam ativamente com as histórias bíblicas, o bibliodrama se torna uma ferramenta dinâmica para fortalecer a identidade cultural e promover o aprendizado significativo.

Palavras-chave: Sertão do Valongo; bibliodrama pastoral; bibliolog; comunidade quilombola; dramatizações.

  1. Mimetismo na relação guru-aluno: pilar fundamental e geração de conflitos

Wagner Milanezi, Umesp, wagnermmilanezi87@gmail.com

Resumo: Em tibetano, é utilizado o termo gewai shenyen, que seria algo como amigo ou amigo espiritual. E mais uma vez, traz a noção de alguém importante, uma peça-chave para a pessoa, no caso um aluno, atingir os seus objetivos, sejam esses mundanos ou superiores. Em comum, tanto nas tradições e culturas ocidentais cristã, por exemplo no Brasil, como em tradições budistas orientais, como a Geluk tibetana, temos a figura do professor, guru, como um modelo, alguém a ser imitado, ouvido, respeitado e seguido, para que o aprendizado e consequentemente o caminho para se alcançar os objetivos sejam mais fáceis e rápidos. Portanto a lógica de ouvir e imitar pessoas mais experientes que já passaram por todo caminho de aprendizagem e treino, com o objetivo de aprender e conseguir atingir os mesmos objetivos que este modelo, é comum em diversas culturas. Este comportamento que é congênito da espécie humana, ou seja, observar, imitar, copiar algo de alguém, é chamado de dinâmica mimética. Segundo essa teoria a imitação consiste em um sistema de comunicação de via dupla, ou seja, ao mesmo tempo traz consequências boas e ruins, sendo um dos responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo e comportamental da mente humana, transmissão de conhecimentos e por consequência o sustento das diferentes culturas. Mas, por outro lado, multiplica conflitos e rivalidades que podem levar a violência, sejam estes conscientes ou inconscientes. Mas o que motiva essa imitação? Segundo a teoria do desejo mimético de Rene Girard, é o desejo por um objeto, sendo este algo palpável, um status, posição estatutária etc. Por sua vez, o desejo é gerado a partir da imitação de desejos dos outros, mas não qualquer outro, e sim de um modelo, que para o nosso estudo é o guru (professor). O processo como um todo, é chamado de “mecanismo mimético”, e consiste, de acordo com Girard em: “começando pelo desejo mimético, que depois se torna rivalidade mimética, com possível escalada até o estágio de uma crise mimética e, por fim, terminando com o bode expiatório.” (GIRARD, 2010, pág. 79). Mas o que é o desejo então? Todo ser possui desejos e apetites, sendo este algo biológico, como apetite por comida, água e sexo. Por sua vez o desejo, é o querer um objeto específico, ou status social que já é desejado por outros, ou seja, uma imitação de um modelo. Portanto, transportando o mecanismo de desejo mimético para o contexto de uma relação guru-aluno, a estrutura da teoria seria composta pelo ser (aluno), o modelo (guru) e o objeto desejado, em um ciclo de imitações, influências, desejos e conflitos.

Palavras-chave: mimetismo; Guru; Geluk.

 

GT 06: Protestantismo e Pentecostalismo

Coordenação: Prof. Dr. Dário Paulo Barreira Rivera (UFJF); Prof. Dr. Manoel Ribeiro de Moraes Júnior (UEPA); Marina Parecida dos Santos Correia (UFS); Prof. Dr. Wilhelm Wacholz [EST]

Ementa: O GT “Protestantismo, Pentecostalismo e Poder” pretende manter-se como um fórum de agregação dos pesquisadores que pensam e produzem conhecimento sobre os protestantes e os pentecostais em suas diferentes vertentes, suas formas de inserção na realidade brasileira e, consequentemente, o complexo de temáticas relacionadas e correlatas. Neste sentido, esse grupo acolherá trabalhos e pesquisadores do campo teológico bem como das Ciências da Religião. O campo religioso brasileiro tem apresentado tal dinamismo e capacidade de transformação que a especialização em seus diferentes subtemas tem se tornado uma exigência nos últimos anos. As várias leituras e interpretações que o movimento pentecostal suscita no meio acadêmico, a multiplicidade e as particularidades do fenômeno exigem o olhar dedicado do estudioso. Ainda que seja impossível esgotar as possibilidades hermenêuticas desse quadrante do campo religioso, é do interesse dos pesquisadores a manutenção de uma legibilidade mínima do referido quadrante.

Palavras-chave: protestantismo; pentecostalismo; campo religioso.

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

  1. A relação dos batistas de mato grosso com os católicos e demais religiões

Ademar Alves da Silva, Faculdades Unidas, adealsi@yahoo.com.br

Resumo: A presente comunicação tem como objetivo discutir a relação dos batistas de Mato Grosso com os católicos e demais religiões entre a década de 1910 até 1940. Quando os batistas chegaram em Corumbá se depararam com o domínio do catolicismo expressado através das muitas festas, consideradas pelos batistas como “mundanas” ou “pecadoras”. Os protestantes, como por exemplo, os batistas, visaram converter o povo de Corumbá com o intuito de “salvar os pecadores”, que eram os católicos, espíritas, entre outros. E de fato, as religiões de enfrentamento à Igreja Católica ainda são o protestantismo e as religiões afro-brasileiras incorporadas sob a designação vaga de “espiritismo”. Uma das causas que contribuíram para o conflito entre movimentos católicos e protestantes é porque desde o século XVI o protestantismo condenou os dogmas católicos como às indulgências, cultos aos santos, confissão obrigatória, missa papal, entre outros. Palavras-chave: Conflitos entre protestantes e católicos em Mato Grosso, batistas versus católicos em Mato Grosso, Disputas entre católicos e protestantes em Mato Grosso

  1. Estudo Histórico sobre o Renascimento da Pregação Bíblica em Lutero

Ademar Atunes de Amaral, EST, ademar.a.amaral@gmail.com

Resumo: Este artigo busca fazer um estudo histórico sobre como aconteceu o renascimento da pregação bíblica durante o período da Reforma Protestante em especial com Martinho Lutero. Analisa a origem humilde do reformador, seu desenvolvimento acadêmico e o que o levou a se tornar o maior pregador durante a Reforma. Será mostrado que Lutero não queria ser um pregador, seu mentor espiritual Staupitz insiste para que Lutero pregue, mas ele reluta, sabe da responsabilidade que o pregador tem em apresentar Deus às pessoas. Mas quando Lutero aceita pregar, as pessoas começam a ser atraídas por sua pregação. Diferente dos pregadores que até então existiam, que pregavam a salvação pela compra de indulgências, onde era apresentado um Deus tirano que exigia dinheiro para livrar as pessoas do inferno, ou a pregação era dos escolásticos, uma pregação mais restrita aos círculos acadêmicos, com um culto que era sem vida, em uma língua morta. O que Lutero faz, é resgatar a maneira de pregar que foi usada por Paulo e os Apóstolos e muitos sinceros cristãos na igreja primitiva, pois a igreja medieval havia deslocado a pregação bíblica e a autoridade das Escrituras para a tradição, com a Reforma, Lutero rompe com essa visão, coloca a Bíblia acima da tradição, o púlpito ganha supremacia em relação ao altar, o sermão passa a ser a parte central do culto. Verá ainda neste artigo que Lutero tem a preocupação em apresentar a Palavra as pessoas humildes, seus sermões são cativantes, as pessoas gostam de ouvi-lo. Em seus sermões ele apresenta Cristo e sua justiça como fonte de salvação. Este artigo apresentará conselhos de Lutero sobre pregação, será visto a importância que o sermão tem dentro do culto e que esse resgate teve sua origem recente durante a Reforma Protestante e em especial com Lutero.

Palavras-chave: pregação bíblica; Martinho Lutero; Reforma Protestante.

  1. Cuidado de si e da cidade nos Protestantismos e Pentecostalismos brasileiros: poderes pastorais em agonística

Flávia Cristina Silveira Lemos, UFPA, flaviacslemos@gmail.com

Resumo: Busca-se nesse trabalho apresentar algumas linhas de forças no diagrama composto pelas práticas cotidianas dos usos e recepções dos protestantismos e pentecostalismos no país a partir de alguns efeitos acontecimentais atualizados como ontologia histórica dos modos de vida na produção da sociabilidade, da cultura, da economia política e das subjetividades. Para tanto, é possível realizar uma conversação entre Psicologia Social, História Cultural, Filosofia Política e Ciências das Religiões de tal forma que possamos organizar um plano analítico dos valores, relações sociais, maneiras de agir e de sentir e as vivências de cuidado de si e da cidade como agonística do exercício de poder dinâmico e em diagonal micro e macropolítica. Ora, com efeito, pastorear é cuidar de um grupo, comunidade e organização por meio do governo das condutas de si e dos(as) outros(as) com objetivos de salvar almas, produzir saúde, amparar afetivamente, gerir politicamente, fornecer assistência social e, até mesmo, tutelar moralmente. A agonística é um conceito de Michel Foucault que problematizar as práticas sociais e culturais no deslizamento das subjetividades por processos de subjetivação, mediados pela tensão das forças múltiplas em jogo, em uma rede de relações exercidas em diagonal, nos entremeios do cotidiano. Essa tensão pode comportar opressões, coerções, dominações, potências, criação, usos de si, resistências, produção de saúde e justiça. Portanto, o governo das condutas traz uma margem de acontecimentos em embates e alianças que são forjados historicamente em defesa da sociedade e em nome da proteção social de diversas maneiras na materialidade das práticas de governamentalidade, na atualidade. Assinala-se que são efetuadas ações desde as que realizam o poder pastoral como assistencialismo moralizante em alguns Pentecostalismos e Protestantismos pela lógica benemérita filantrópica até mesmo, podemos acompanhar um movimento de emancipação e produção ética de vidas afirmativas que saem da menoridade política por meio de tendências Pentecostais e Protestantes brasileiras que permitem a experimentação da invenção democrática da cidade e de si no cuidado como tecnologias de si e governo de outros(as). Pretende-se apresentar acontecimentos e análises que são analisadores destes poderes pastorais em tensão agonística.

Palavras-chave: protestantismos; pentecostalismos; subjetividades; brasil; poder pastoral.

  1. Pentecostalismo, Pajelança e Unidade Básica de Saúde: As práticas do cuidado local em uma ilha na Amazônia

Leonardo Silveira Santos, UFPA, leonardosilveirasantos7@gmail.com

Resumo: A pesquisa se insere no debate sobre ciências da religião e sua relação com o campo da saúde, mais precisamente na dinâmica entre uma Unidade Básica de Saúde com os modos de cuidado local da ilha do Combu, o que também inclui uma faceta pentecostal. Dessa forma, debruço este escrito nas maneiras de interpretar as relações com o cuidado, isto é, na forma como os cuidados locais recebem e interpretam uma medicina de maior abrangência e de Estado. Saliento que o meu objetivo não é demonstrar uma superioridade de uma medicina, mas alargar o debate em torno de uma sobreposição e de um processo de descredibilidade em torno do saber local, dos modos de viver e dos seus ambientes. Para cumprir a tarefa, busco de forma co-participativa o auxílio de uma antiga moradora da ilha. De pertença pentecostal, essa senhora possui seu nome ecoando pela ilha e suas proximidades, sendo efusivamente lembrado quando o assunto são medicamentos naturais, orações, rezas, partos, plantas, encantarias e tudo que envolve a arte do cuidado. Dona Mariquinha é uma pessoa que, por meio de seus êxitos, sabedorias e ligações com o religioso, obteve uma consagração social (BOURDIEU, 2001), no caso, uma (com)sagração ribeirinha. O trabalho caminha por memórias narradas dessa senhora, o que não significa meramente acessar um dispositivo de informações, mas um processo contínuo de elaboração e reconstrução de significados (PORTELLI, 2010). Tudo que é narrado por Dona Mariquinha é fruto de um diálogo constante envolvendo os eventos ocorridos, seu modo de vida, memórias ancestrais e o presente. Desse modo, a religião aparece constantemente em suas falas sobre os cuidados locais. Pajelança, catolicismo e pentecostalismo se entrelaçam ou se alternam nos rituais terapêuticos dessa senhora. A observação não participante, juntamente com a utilização de caderno e diário de campo e análise de conteúdo são os principais instrumentos metodológicos desse estudo. Por meio deles foi possível organizar e sistematizar as informações que indicaram uma forte rejeição dessa senhora na utilização da UBS guiada principalmente pela afasia (palavra do grego aphasía, que significa “dificuldade de falar”), pela falta de díalogo do Estado com as expressões locais do cuidado.

Palavras-chave: religião; pentecostalismo; saúde; práticas locais do cuidado.

  1. Trânsito intra-religioso: evasão de membros das igrejas pentecostais para igrejas reformadas

Patricia Fratucci Santos, Umesp, patyfratucci@hotmail.com

Resumo: A presente comunicação visa apresentar o projeto de dissertação sobre a mobilidade intra-religiosa. Através deste projeto buscamos compreender o trânsito intra-religioso de fiéis das igrejas pentecostais e neopentecostais para as igrejas protestantes reformadas, ou seja, quais as motivações para o movimento de migração especificamente entre igrejas pentecostais e neopentecostais para igrejas reformadas históricas e quais os impactos que esta mobilidade implica. Por abordar um tema histórico com seus desdobramentos, este projeto pertence à área de concentração de análise da Religião, Sociedade e Cultura, acompanhando a história do cristianismo no Brasil e dialoga com outras áreas das ciências sociais, tais como a antropologia, a psicologia e a sociologia da religião.

Palavras-chave: mobilidade religiosa; trânsito intra-religioso; pentecostalismos; protestantismos.

 

GT 07: Cultura Visual e Religião

Coordenação: Prof. Dr. Frederico Pieper Pires (UFJF); Prof. Dr. Helmut Renders (Umesp); Prof. Dr. Iuri Reblin (EST); Prof. Dr. Luís Américo Silva Bonfim (UFS); Profa. Dra. Suzana Ramos Coutinho (PUC-SP); Prof. Dr. Thiago Azevedo (UEPA)

Ementa: O GT “Cultura visual e religião” tem por objetivo reunir pesquisas que explorem a mútua relação entre cultura visual e religião. Para tanto, acolhe trabalhos que tratem das diversas formas pelas quais a cultura visual ganha expressão (ícones, fotografia, gravura, escultura, artes plásticas, cinema, etc.), dos mais diversos períodos históricos, tradições religiosas e culturas. Consideram-se também trabalhos que proponham análises da força performativa de imagens e sobre a metodologia para interpretação da cultura visual contemporânea. O GT parte do pressuposto de que a atenção a esse aspecto da cultura é uma resposta ao avanço da “visualização” e “estetização” da cultura contemporânea, com a expansão dos mundos imagéticos para todas as áreas da vida, desde ao cotidiano até a ciência. O problema que o seminário propõe desenvolver é acerca de como a religião participa desse fenômeno, bem como das implicações que este tem para se pensar a religião na cultura contemporânea. Esse tipo de estudo tornou tema específico da investigação científica desde a década 90 do século passado, dando continuidade às intuições de Wittgenstein, Merleau-Ponty, Panofsky dentre outros, representando um campo de pesquisa que pode envolver estudos de textos sagrados e história da religião, bem como da relação entre cultura e religião a partir de diferentes formas de produção do olhar e da imagem, por exemplo, fotografias, filmes, pinturas, gravuras, artefatos e aspectos pictóricos de metáforas.

Palavras-chave: imagem; estética; cultural visual.

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

  1. Análise da figura “Sessão do Conselho de Estado”, de Georgina de Albuquerque. 1922, com o método iconológico de Panofsky: uma Introdução ao método.

Ana Beatriz de Carvalho dos Santos, Umesp, biaalexandrini@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. E tem como tema, a análise de uma Quadro chamado “Sessão do conselho de Estado” de Georgina de Albuquerque. Uma obra que se encontra do Museu Histórico do Rio de Janeiro, e tem sua datação em 1922. A escolha dessa obra em específico, dá-se à um trabalho feito em sala, na disciplina de Cultura visual e narrativas da religião, na Universidade Metodista de São Paulo, sobre a docência do professor e doutor Helmut Renders. Em Resumo apresentarei uma introdução ao Método Iconológico de Panofsky, que se sistematiza em três níveis de analise, sendo o primeiro nível, como tema primário ou natural, onde é feita uma análise pré-iconográfica, analisando os motivos por si só, uma descrição fenomenológica; no segundo nível temos o tema secundário ou convencional, onde se utiliza conceitos literários e comuns ao interprete, seria uma analise iconográfica; e o terceiro nível, como sendo o significado intrínseco ou conteúdo, e já requer uma interpretação iconológica, neste ponto, já passamos a buscar o sentido intrínseco da imagem, e levamos em consideração outras literaturas, , a história da época, a cultura, sociedade e economia, bem como também a autora ou autor envolvido nesta obra e seu entorno, como a arte em si, suas transições e mestiçagens e ideologia por trás de cada obra. Assim, com este método, Panofsky busca levar a quem analisa a imagem proposta a ter um olhar mais aprimorado, diminuindo erros e buscando uma interpretação mais justa sobre qualquer tela.

  1. A Simbólica dos Vitrais da Sé em Belém-PA

Denilson Marques dos Santos, UEPA, dede_cecilia@yahoo.com.br

Resumo: Esta comunicação parte da pesquisa de Mestrado ainda em andamento em Ciências da Religião (PPGCR/UEPA) e que tem por objetivo compreender a importância de um tipo específico de arte, a saber, os vitrais para religiosos cristãos que se utilizam "in loco”, cito Igreja da Sé (Sede da Arquidiocese de Belém) para decodificar alguns preceitos religiosos. Para além de seu aspecto estético, caracterizado pelo mosaico de cores, as iconografias dos vitrais e das pinturas afrescos reproduzem uma função pedagógica que consiste em uma fixação do modelo de fé. Esta teologia iconográfica vista em seu contexto histórico, não pode ser isolada das relações culturais, históricas e sociais que a compõem na contemporaneidade. Destarte, o referido estudo além de seu caráter histórico-cultural, simbólico-interpretativo, antropológico-social, colabora também academicamente de forma interdisciplinar com a área da História, Ensino das Artes, Hermenêutica da Religião e Teologia. Neste trabalho, ancoramo-nos, principalmente na perspectiva dada pela Fenomenologia da Religião em Mircea Eliade (1992) além de trabalhos de pesquisadores que também seguem a vertente dos pressupostos teórico-metodológicos do tema abordado como Duby (1988), Eusébio (2005), Manini (2011), Mendonça (2018), Michelotti (2011), Panofsky (2003), entre outros. As palavras: Vitrais, Arte, História, Religião, foram utilizadas como chave de pesquisa caracterizada por uma leitura seletiva do material e dos textos escolhidos. Na Sé, a exposição detalhada dos vitrais foi realizada por meio da fotografia, percebendo assim como os personagens históricos religiosos são retratados neste tipo de arte, utilizando-se de um breve resumo da obra retratada. O trato a vitrais ainda é um grande desafio, sobretudo no Brasil, uma vez que a bibliografia de referência é escassa e o conhecimento técnico é um privilégio de muito poucos profissionais vitralistas. Mas, justamente por necessitar de esforços técnicos muitas vezes investigativos, é um campo do conhecimento que oferece muitas possibilidades de aprendizado e conhecimento, por isto nosso interesse em estudá-lo.

Palavras-chave: vitrais; arte; história; religião; religiosidade.

  1. Cavalheirismo, piedade e império: o motivo de Sir Galahad na obra do artista metodista inglês Frank Owen Salisbury (1874-1962)

Helmut Renders, Umesp, helmut.renders@metoditsa.br

Resumo: A apresentação apresenta, primeiro, aspectos artísticos, denominacionais e nacionais da apreciação do pintor inglês metodista Frank Owen Salisbury (1874-1962) pelo motivo do cavaleiro Galahad da távola redonda do rei Artur, e a sua integração em pinturas, litografias e vitrais. A integração dessa figura mitológica inglesa nos discursos religiosos, parte da sua redescoberta literária ao redor de 1850, passa pela sua vinculação com a teologia eucarística católica e chega nos protestantismos ingleses como símbolo de um homem virtuoso. Finalmente, na associação metodista britânica de juventude, a “Guilda de Wesley”, fundada em 1895, a memória do cavaleiro Galahad serve como modelo de piedade e santidade. Sob essa influência metodista, Salisbury usou o motivo de Galahad na ornamentação da sua casa (pintura de 1932), num vitral na Igreja de John Wesley em Londres (1932), numa Capela da Juventude Congregacional (1932) e num livro sobre o Pai Nosso (1948). Integrou-se na narrativa bíblico-cristã e denominacional um mito nacional para fortalecer a identidade denominacional metodista britânica e acompanhou-se e sedimentou-se esse processo pela criação e aceitação da respectiva cultura visual criada por Francis Owen Salisbury.

Palavras-chave: Linguagens da religião; cultura visual religiosa; Frank Owen Salisbury; metodismo inglês; cavalheiro Galahad.

  1. Análise da capa do filme Milagres do Paraíso (2016) a partir do método iconológico de Erwin Panofsky

Ivan Urso Borges, Umesp, ivanursoborges@hotmail.com

Resumo: A presente pesquisa busca analisar a capa do filme Milagres do Paraíso (2016) a partir do método iconológico de Erwin Panofsky. Com esse estudo, pretendemos encontrar pontos de contato entre a Cultura Visual e a Religião na forma de observar imagens, neste caso, segundo a iconologia de Panofsky, método que pode trazer novos olhares para muitas figuras inclusive para as contemporâneas.

Palavras-chave: cultura visual e religião; capa de filme; método; iconologia; erwin panofsky.

 

Dia 26/10/2023 – Quinta-feira – 09h00 – 12h00

  1. Prakṛti à beira do poço em Gandhāra: uma mulher sem casta e dois diferentes finais para sua história, conforme o Divyāvadāna e conforme Paul Carus.

Estela Piccin Umesp, estelapiccin@gmail.com

Resumo: Um relevo narrativo budista dos primeiros anos da era cristã encontrado em Gandhāra – antigo noroeste da Índia, atual Paquistão e Afeganistão – esculpido em xisto e sendo parte de uma sequência narrativa maior que se perdeu, representa um conto (avadāna) budista presente na coletânea intitulada Divyāvadāna. Neste conto, o monge Ānanda pede por água à jovem pária Prakṛti, que inicialmente responde que não pode lhe oferecer água, uma vez que ela pertence a uma casta inferior. Ānanda responde que não pede por casta nem nascimento, mas por água. É o começo de uma longa história. Em fins do século 19, uma versão super encurtada e super adaptada desse conto foi popularizada pelo estudante de religião comparada alemão-americano chamado Paul Carus, que em 1894 lançou um livro com o sugestivo título “The Gospel of the Buddha”, contendo uma sequência de narrativas baseadas nos textos canônicos, porém também contendo muitos resumos e adaptações baseadas na imaginação do próprio Carus. Partindo da leitura do conto original em sânscrito, demonstramos de quais maneiras o texto apresenta elementos contra a divisão da sociedade indiana em castas e a favor da igualdade da capacidade feminina, bem como demonstramos os pontos problemáticos da “moral da história” composta por Paul Carus e de quais maneiras ela reflete o pensamento colonialista de fins do século 19 e início do 20. Podemos concluir que a escolha dessa imagem por parte de um doador ou doadora em Gandhāra seja sintomática de como as personagens femininas estavam começando a ganhar espaço no budismo da região, uma vez que de diversas maneiras valoriza o protagonismo feminino.

Palavras-chave: mulheres no Budismo; Gandhāra; cultura visual religiosa.

  1. Entre ritmos e tensões: a música nos debates sobre a definição da identidade das Assembleias de Deus no Brasil

Maxwell Fajardo, UFJF, maxwell.fajardo@gmail.com

Resumo: A igreja Assembleia de Deus está presente no Brasil desde a segunda década do século XX, sendo, portanto, contemporânea de todas os outros movimentos pentecostais a surgirem no país. No decorrer de sua história, a igreja criou estratégias de diferenciação, tanto em relação às demais denominações que surgiam no campo religioso brasileiro quanto ao contexto externo às atividades religiosas. Em diferentes ocasiões, a música foi um dos elementos utilizados para demarcar a identidade da denominação em contraposição tanto às outras igrejas, quanto ao “mundo”, expressão nativa que designa a cultura secular. Desta forma, pretendemos analisar o modo como a música apareceu nos debates presentes no Jornal Mensageiro da Paz, órgão de comunicação oficial da igreja, sobretudo entre as décadas de 50 e 70. É possível encontrar nas publicações deste período artigos em que os ritmos musicais são classificados a partir das noções de “sagrado” e “profano”, com críticas à presença em cultos de hinos em ritmo de jazz, samba, música caipira, entre outros. Tais artigos indicam a tensão entre as práticas musicais consideradas aceitáveis pelas lideranças da igreja, ligadas sobretudo às canções do hinário oficial da denominação (a Harpa Cristã) e o desenvolvimento de novas formas litúrgicas, resultado da interação com influências musicais externas à tradição de denominação.

Palavras-chave: Assembleia de Deus; música; identidade.

  1. Manifestação de Deus no mundo desde a fenomenologia de Michel Henry

Rafael Fogaço, EST, rafogaca@hotmail.com

Resumo: A manifestação de Deus no mundo é um dos maiores problemas da religião. Deus efetivamente se manifesta no mundo? Embora haja referências bíblicas dessa hipótese em verdade não há como se verificar tal assertiva. Para a teoria fenomenologica de Michel Henry tal hipótese é impossível dado que Deus não se manifesta no mundo uma vez que não é do Mundo. Sendo sua manifestação possível somente em um campo de aparecimento outro que não o campo de aparecimento das coisas.

  1. Cultura, imagem e religião: a conversão semiótica dos ex-votos no círio de Nazaré em Belém-Pa

Wilson Avilla - avillawr@gmail.com

Uma imagem inserida em um contexto religioso, produz um sentido de representação do imaginário. No Círio de Nossa Senhora de Nazaré, uma das maiores manifestações religiosas do mundo, realizado anualmente no segundo domingo do mês de outubro, em Belém-PA, há a presença dos promesseiros, que acompanham a procissão carregando os ex-votos como forma de agradecimento por graças alcançadas por interseção de Nossa Senhora de Nazaré. E analisar a conversão semiótica desses objetos, ao sair de uma esfera comum para uma esfera sagrada, será o objetivo geral da pesquisa, tendo como objetivos específicos analisar a promessa como meio de comunicação entre Homem e divindade, demonstrar o sentido religioso da imagem como ex-voto, bem como identificar os objetos levados por promesseiros na procissão e assim verificar a conversão semiótica do ex-voto ao adentrar no espaço sagrado do Círio de Nazaré. O método utilizado para a pesquisa se baseia na investigação da possibilidade da conversão semiótica dos ex-votos. E para isso será utilizada a análise bibliográfica e a análise semiótica, com uma abordagem Peirceana, pois será investigado como o signo dirige-se a alguém e cria uma perspectiva. Estando a pesquisa em andamento, como resultado, pretende-se demonstrar que não se trata de venerar um objeto qualquer, quando inserido em um contexto religioso, ao objeto é atribuído significado de ordem sagrada. O objeto continua pertencendo ao espaço comum, mas a ele é atribuído uma outra realidade a partir das vivências dos promesseiros, fenômeno que é denominado de conversão semiótica, pelo escritor paraense João de Jesus Paes Loureiro.

Palavras-chave: Círio de Nazaré; conversão semiótica; ex-voto; imagem; religião.

[9. Muros Sagrados: um estudo das expressões religiosas nos grafites em Belém-PA

Luiz Henrique Patrício Xavier, Uepa, luizenriqx@gmail.com

Resumo: Não recebido.

Palavras-chave: cultura visual; grafite; religiosidade; obra de arte]

 

GT 08: Práxis religiosa, espiritualidade e dimensão pública

Coordenação: Profa. Dra. Blanches de Paula (Umesp); Profa. Dra. Clarissa de Franco (Umesp); Prof. Dr. Raimundo Júnior (UEPA); Prof. Dr. Flávia Cristina Araújo Lucas (UEPA); Prof. Dr. Marcelo Ramos Saldanha (EST);

Ementa: O GT tem por objetivo discutir a diversidade das práticas religiosas de comunidades cristãs ou não, a relação entre povo e lideranças, e até que ponto as práticas religiosas vividas pelas pessoas incidem na vida pública da sociedade. A teologia pública ultimamente vem demonstrando que as comunidades de fé desempenham um importante papel na sociedade porque abrem espaço para a celebração e o apoio concreto às pessoas em suas dificuldades e anseios. Mas para além dessa função, as comunidades religiosas também ocupam um espaço público que precisa ser analisado de forma atenta e crítica, sobretudo no atual momento político da sociedade brasileira. As tendências conservadoras que dominam o atual parlamento brasileiro indicam verdadeiros retrocessos em diversos pontos da legislação como no que se refere a crianças e adolescentes, às mulheres, e a diferentes minorias. O GT pretende abrir espaço para comunicações e pesquisas que venham a ajudar na análise dessas questões e outras correlatas.

Palavras-chave: práticas religiosas diversas; comunidades de fé; espaço público; tendências religiosas conservadoras; direitos sociais sob a ótica religiosa

 

Dia 24/10/2023 – Terça-Feira – 14h00 – 17h00

  1. Espiritualidade, saúde e luto: um diálogo a partir das Ciências da Religião

Blanches de Paula, Umesp, blanches.paula@metodista.br

Resumo: A relação entre espiritualidade e saúde tem tido amplo interesse nas vocações do cuidado. Não somente na área da saúde, mas também nas ciências da religião, pesquisas se debruçam sobre a contribuição da espiritualidade para a saúde como preconizado pela OMS [Organização Mundial de Saúde]. Um dos temas da interface espiritualidade e saúde é o luto. Com a pandemia de Covid-19, esse tema tomou proporções amplas nas intencionalidade de pesquisas brasileiras, incluindo as Ciências da Religião. O contexto pandêmico de Covid-19 é referido aqui especialmente no coping religioso diante de processos de luto que tiveram vários tipos de perdas; desde a supressão de rituais presenciais de lamento e consolo diante da morte de uma pessoa querida até enlutamentos advindos de rompimentos de laços afetivos, sonhos, projetos, postos de trabalho, dentre outros. A presente comunicação aborda o tema do luto e sua relevância para as pesquisas em Ciências da Religião, Teologia Pública e as possíveis contribuições das comunidades para o acolhimento de pessoas enlutadas, cuja prerrogativa principal é o cuidar. Constata-se a peculiaridade do luto em tempos pandêmicos e a necessidade de aprofundar os sentidos do cuidar no campo teológico e das ciências da religião. Para tanto é necessário ampliar estudos de temas tais como: suicídio, aconselhamento, rituais, espiritualidade, virtualidade, famílias enlutadas, dentre outros, no escopo e desdobramentos das pesquisas nas Ciências da Religião. Assim, com essa comunicação, espera-se ampliar as correlações entre espiritualidade, saúde e o fenômeno do luto nos espaços de cuidado que promovem a dignidade, esperança e novos sentidos na vida.

Palavras-chave: Espiritualidade; saúde; luto; cuidado; ciências da religião.

  1. O Ordo Exsequiarum e o direito de chorar pelos mortos

Lindolfo Alexandre de Souza, Umesp, lindolfo.as@gmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é investigar de que forma o ritual de exéquias vigente na Igreja Católica Apostólica Romana, o Ordo Exsequiarum, aborda a questão do direito que as pessoas enlutadas têm de manifestar sua situação de tristeza. Desta forma, ao sinalizar que a instituição deve garantir às pessoas em luto o direito de chorar pelos(as) mortos(as) como uma forma de expressar sua dor e de viver o processo de luto, este documento oficial da Igreja Católica se distancia de uma postura presente em alguns segmentos eclesiais, inclusive dentro do catolicismo romano – ainda que não de forma hegemônica – de propor a interdição da tristeza diante da morte. O Ordo Exsequiarum, que em uma tradução livre significa Ordem dos Funerais, foi promulgado pela Santa Sé em 25 de agosto de 1969, quatro após a conclusão do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), e pode ser considerado como um fruto do próprio concílio, pois seu processo de elaboração estabelece referências com a Constituição Sacrosanctum Concilium (1963), que é o documento do Concilio Vaticano II que, entre outros aspectos, apontou a necessidade da realização de uma reforma na liturgia da Igreja Católica. Escrito em forma de ritual, o Ordo Exsequiarum é composto de 8 capítulos com instruções para a realização dos rituais católico-romanos de exéquias em diferentes situações, como vigília pelo morto e oração quando o corpo é colocado no caixão, modelos de celebrações a serem realizadas na casa do(a) morto (a), na igreja e no cemitério ou como celebrar exéquias de crianças, sejam elas batizadas ou não, entre outros aspectos. A respeito do tema de interesse deste trabalho, vale destacar a introdução que precede os capítulos, chamada de Praenotanda (em tradução livre, para ser notado), um texto de 25 parágrafos com destaques teológico-pastorais e orientações práticas sobre o conteúdo dos capítulos que compõem o documento. Na Praenotanda há quatro citações da palavra tristeza, sendo que todas são no sentido de que a pessoa enlutada deve ter respeitado o direito à tristeza diante do luto.

Palavras-chave: Igreja Católica; luto; pastoral das exéquias; morte; religião.

  1. Efeito Papageno: Contribuições das igrejas evangélicas históricas na prevenção ao suicídio

Vardilei Ribeiro da Silva, Umesp, vardilei.ribeiro@terra.com.br

Resumo: A Organização Mundial da Saúde, bem como outras instituições têm insistido, não no silenciamento do assunto, mas na necessidade de se falar do suicídio a partir da valorização da vida. Compete aos diferentes veículos de comunicação a abordagem responsável visando o que se espera alcançar com o denominado Efeito Papageno, ou seja, a superação da crise suicida e a ressignificação da vida. A presente comunicação, se ocupa de investigar as contribuições dos jornais ou revistas de algumas igrejas evangélicas, caracterizadas como igrejas históricas. Partindo do pressuposto de que o diálogo responsável pode contribuir para o Efeito Papageno, inclusive no âmbito evangélico, onde também se percebe mortes por suicídio, procuramos verificar quais denominações se ocuparam da temática da prevenção ao suicídio no triênio 2020-2022 durante o mês de setembro, mês destinado a campanha de prevenção ao suicídio, denominada Setembro Amarelo. Além de uma análise retrospectiva, o propósito da pesquisa é o de fomentar nos espaços midiáticos das Igrejas Protestantes, o cuidado com o humano que envolve o engajamento na promoção da vida que tem sido encerrada de maneira abrupta e violenta por meio do suicídio, ou seja, há uma preocupação prospectiva.

Palavras-chave: efeito Werther; efeito Papageno; suicídio; igrejas históricas; setembro amarelo.

  1. Loma Linda – “Blue Zone” na Califórnia: modelo de práxis religiosa, espiritualidade e saúde.

Gina Andrade Abdala, Unasp, ginabdala@gmail.com

Resumo: Uma "Blue Zone" é uma designação dada a determinadas áreas geográficas onde as pessoas têm uma expectativa de vida mais longa e uma maior qualidade de vida em comparação com outras regiões do mundo. Nessas áreas, é comum encontrar uma concentração excepcional de pessoas que vivem até os 100 anos ou mais, conhecidas como centenárias. O termo “Blue Zone” foi cunhado pelo jornalista e explorador Dan Buettner, que identificou e estudou essas regiões do mundo onde as pessoas parecem envelhecer de forma mais saudável e com menos doenças crônicas. As áreas designadas como "Blue Zones" geralmente compartilham certas características e práticas que contribuem para a longevidade e o bem-estar da população local. Essas características comuns incluem uma dieta saudável, geralmente baseada em alimentos naturais e de origem vegetal; atividade física regular, incorporada naturalmente nas atividades diárias; um forte senso de propósito e pertencimento social na comunidade; gerenciamento eficaz do estresse e hábitos de vida moderados, como o consumo moderado de álcool e a não prática do tabagismo. As "Blue Zones" são encontradas em várias regiões ao redor do mundo, como na Sardenha (Itália), Okinawa (Japão), Nicoya (Costa Rica), Icaria (Grécia) e Loma Linda (Estados Unidos). Cada uma dessas áreas tem suas próprias práticas culturais e sociais que contribuem para a longevidade e a qualidade de vida dos seus habitantes. O estudo das "Blue Zones" tem proporcionado insights valiosos sobre como estender a vida de forma saudável e inspirado iniciativas para promover estilos de vida mais equilibrados em outras partes do mundo. O estilo de vida saudável dos adventistas do sétimo dia em Loma Linda serve como um modelo de como a dieta, a atividade física e os aspectos sociais e espirituais podem influenciar positivamente a longevidade e a qualidade de vida. Esses fatores combinados têm sido associados a uma expectativa de vida mais longa e a uma população com uma incidência menor de doenças crônicas e problemas de saúde. Esta Blue zone em particular demonstra que as práticas religiosas vividas pelas pessoas incidem na vida pública da sociedade. Devido a essa transformação, crious-se uma série com quatro episódios sobre essas cinco regiões mais longevas do mundo na NETFLIX chamada de “Live to 100”: secrets of the Blue Zones”. Em suma, a designação de Loma Linda como uma ‘Blue Zone’ está intrinsecamente ligada à práxis religiosa, espiritualidade e à dimensão pública, onde a fé adventista, um estilo de vida saudável e o papel das instituições religiosas têm um impacto profundo na longevidade e na qualidade de vida da comunidade.

Palavras-chave: blue zone; espiritualidade; práxis religiosa.

  1. Melancolia: Uma Perspectiva Conceitual e Curativa entre os Puritanos

Valdeci Odilon Pereira, Umesp, valdeciodilon@hotmail.com

Resumo: A melancolia, a dor emocional, a tristeza profunda, são expressões que convergem para o entendimento do adoecimento psíquico presente em todas as eras. Sendo uma manifestação em quaisquer sociedades, povos, etnias e nações, a diferença sempre esteve como cada período, ambiente, civilização, lidaram com o sofrimento emocional do indivíduo em seu grupo. Não obstante, sempre esteve também no cerne de todas as sociedades o cuidado com o outro. É possível verificar este fenômeno do amparo ao outro pela perspectiva de vários campos de conhecimento, tais como, a teologia, as ciências sociais e afins. Tendo em vista esta condição histórica, o presente trabalho objetiva de forma específica refletir sobre o termo “melancolia” e seu aspecto dinâmico entre os Puritanos. Tem-se “aspecto dinâmico” como condição de buscar saber como era o diagnóstico, prognóstico, aspecto terapêutico e condição curativa ao indivíduo no contexto de melancolia. O termo melancolia está sendo apresentado como era utilizado pelos puritanos para relacionar com a condição de depressão (ESWINE, 2015, p. 20). Os objetivos gerais procuram revelar quem eram os agentes entre os puritanos que estavam com a incumbência do acompanhamento de pessoas em situação de melancolia. Saber se esses agentes eram líderes, leigos, homens, mulheres ou homens e mulheres, tem sua relevância em conhecer como estava configurado esta comunidade nas resoluções de respostas em saúde mental. O levantamento metodológico deste trabalho ocorrerá por meio da revisão de literatura. O presente trabalho está sendo realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Palavras-chave: melancolia, depressão; dor; puritanismo.

  1. A crise religiosa cristã brasileira durante a pandemia da COVID-19

Lucas Monteiro, Unicap, lcmveritate@gmail.com

Resumo: Não recebido.

Palavras-chave: Pandemia; Brasil; Religião

 

Dia 25/10/2023 – Quarta-Feira – 14h00-17h00

  1. "American Sentinel" e a perspectiva adventista acerca da laicidade

Davi Boechat Paiva de Azeredo Coutinho, Unsasp, davibpac@gmail.com

Isaac Malheiros Meira Junior, Unasp, pr_isaac@yahoo.com )

Resumo: Este artigo tem como objetivo investigar, por meio de uma revisão de literatura e análise documental, o posicionamento público histórico dos adventistas do sétimo dia em face das ameaças à liberdade religiosa. No final do século XIX, a liberdade religiosa estava ameaçada nos EUA, à medida que a National Reform Association (NRA) buscava estabelecer o cristianismo como parte da Constituição do país, distanciando-se dos princípios fundadores de liberdade religiosa. A NRA tinha amplo apoio e, em alguns estados, a religião inspirava medidas legislativas que elevavam ao status de política pública determinadas convicções doutrinárias. Essas atitudes afetavam grupos minoritários, como os adventistas e batistas do sétimo dia. Em resposta, os adventistas do sétimo dia se envolveram em esforços para promover a liberdade religiosa, incluindo a criação do periódico American Sentinel e a fundação da International Religious Liberty Association (IRLA), defendendo suas crenças distintas e resistindo à imposição religiosa por parte de outros grupos e do governo. A American Sentinel surgiu como uma resposta firme e crítica à NRA, enfatizando seu propósito de confrontar as ameaças à liberdade religiosa promovidas pela organização. Na teologia adventista, a união entre estado e igreja é vista como um evento escatológico de grande importância, prenunciado em Apocalipse 13. O levantamento feito nesta pesquisa mostra que a reação adventista a projetos de imposição estatal da religião no século XIX demonstra uma abordagem de teologia pública que se diferencia das posições extremas, buscando um equilíbrio entre o engajamento na vida pública e a separação entre igreja e estado. Essa abordagem resultou em uma militância propositiva, com posicionamentos jurídicos e teológicos visando limitar o poder temporal da religião, uma perspectiva de teologia pública distinta das visões protestantes tanto radicais quanto magisteriais. Esta pesquisa examinará os documentos históricos arquivados no banco de dados Adventist Archives, e em sua análise histórica e teológica, se baseará principalmente, mas não exclusivamente, nas contribuições de George Knight e Nicholas Miller. Na discussão a respeito da liberdade religiosa e da teologia pública, contará com os aportes teóricos de Peter Berger, Rudolf von Sinner, Paul Freston, John Graz e outros. A presente investigação fornece subsídios para a formulação de uma visão geral para o engajamento adventista na defesa da liberdade religiosa e traz possíveis contribuições para a teologia pública brasileira na atualidade, onde movimentos semelhantes aos do século XIX desconsideram a pluralidade de ideias e desejam usar o poder político em prol de interesses religiosos particulares, o que fere a neutralidade axiológica do estado e as liberdades de consciência e crença.

Palavras-chave: laicidade; teologia pública; adventismo.

  1. O desenvolvimento da compaixão dentro da perspectiva budista tibetana geluk

Felipe Donadon, Umesp, felipedonadon.x@gmail.com

Resumo: A compaixão é uma condição indissociável dentro da prática budista, e que pode ser desenvolvida com as mais diversas finalidades, mas particularmente serve como base para o desenvolvimento do caminho do Completo Despertar. Assim, temos que tal desenvolvimento tem suas nuâncias e particularidades, assim como eventuais obstáculos, mas que se desenvolvido por meio da perseverança e paciência podem trazer diversos benefícios ao praticante e àqueles que pertencem a comunidade religiosa/espiritual que participa. A base essencial para o desenvolvimento da compaixão é justamente o contato com outros seres sencientes e o reconhecimento do sofrimentos que estes por sua vez tendem a sofrer, bem como a consideração sobre como poderia ser benéffico de que todos eles fossem libertos dos sofrimentos e suas causas. A compaixão também serve como suporte para a estruturação da intenção superior de buscar trilhar o caminho gradual ao completo despertar, para se aprender os meios necessários para trazer a libertação a todos os demais seres sencientes e, assim, poder ser de benefício a todos, sem exceção por, no futuro, ensiná-los também sobre este caminho e os meios que se poderia utilizar para libertar-se dos sofrimentos e suas causas. Além disso tudo, a compaixão é a porta de entrada para o caminho Mahayana, aquele que distingue o desenvolvimento do praticanete em sua jornada para se tornar um Buda.

Palavras-chave: compaixão; budismo; Mahayana.

  1. Seria o ser compassivo a negação do eu? Uma perspectiva Budista Mahayana em diálogo inter-religioso

Matheus Pangracio Italiano, Umesp, dharmatheus@gmail.com

Resumo: Hoje enfrentamos uma crise mundial da saúde mental, esse quadro se ampliou após a pandemia de COVID e continua a causar inúmeras dificuldades para muitos seres e isso acaba afetando as pessoas que estão ao seu redor. Os valores individualistas acompanham a história e moldaram de certa forma a cultura pós-moderna atual, isso pode ser visto nas diferentes culturas do mundo principalmente no que se refere na cultura do enaltecimento do “eu”. Diversos estudos têm demonstrado que essa processo de individualismo levado ao seu extremo é uma das causas principais dos problemas de saúde tanto física quanto mental, o que demonstra que em um olhar científico o movimento individualista que enaltece um tipo de eu, é fonte de inúmeras doenças. Frente a esse enaltecimento do eu é preciso fazer uma pergunta básica “O que é o eu?” desse questionamento outro que deve ser feito é “esse eu que está sendo enaltecido pela cultura individualista e que sofre com os transtornos é realmente real?”. Para pensar a formação do eu se propõe olhar os desenvolvimentos quanto a esse estudo no Budismo Mahayana, em específico de escola Madhyamaka Prasangika. A investigação do eu leva até a compreensão e aponta para a realidade de o eu existe apenas em relação aos demais. Essa conclusão leva até o que no budismo se chama Bodhisattva, que seria o ser compassivo. Isso pois, se entende que uma saúde mental, um bem-estar de si mesmo, está relacionado com a boa relação com o ambiente que se está inserido. Diante do apresentado, mostra-se necessário explorar mais a fundo o que compõe os aspectos de sabedoria e compaixão propostos pelo budismo, bem como as bases ontológicas e epistemológicas budistas que são a base para o Bodhisattva (ser compassivo). Será a partir dessa análise do que é o eu, o sujeito que tem sua subjetividade, se abrirá a possibilidade de falar de um ser compassivo como um antidoto e um método de contrapor as visões predominantes hoje que levam a crise na saúde mental. Falar do ser compassivo é falar da compaixão, falar de compaixão é compreender o potencial que existe em cada ser humano de ter uma vida digna, saudável e feliz. Ao pensarmos a compaixão iremos perceber que ela não está presente apenas no contexto budista e que o ser compassivo pode ser encontrado em diferentes tradições religiosas como também o que as atitudes desses seres compassivos quando trazidos a luz da ciência moderna são fatores que promovem saúde. Ao trazer o diálogo interreligioso e interdisciplinar será possível a percepção de que a compaixão é motora de transformação na vida de diferentes figuras importantes em diferentes tradições religiosas como também na vida individual daquele que percorre o caminho religioso. Ademais, será possível verificar que nas pesquisas da ciência moderna, a compaixão, tem se demonstrado fator de fundamental como linha de tratamento no que se refere a saúde física e mental.

Palavras-chave: saúde mental; budismo mahayana; diálogo interreligioso; compaixão.

  1. População em situação de rua e o racismo estrutural da população negra

Marcio Divino de Oliveira, Umesp, marciodivino@yahoo.com.br

Resumo: A presente pesquisa discute a temática da população em situação de rua, tendo como recorte a questão da racialidade e do gênero. Para exame do fenômeno, faz-se utilização da teoria da interseccionalidade, importante teoria analítica, heurística e crítica, oriunda do feminismo negro, para pensar a diversidade e exclusão nas sociedades complexas. Na pesquisa é apontado o crescimento da população em situação de rua no Brasil, sobretudo no tempo da pandemia. Um fenômeno que tem muitas faces, como a explosão do êxodo rural frente a industrialização e o processo de urbanização descontrolado, sintoma do capitalismo econômico moderno, que cria vítimas e condena a vulnerabilidades quem não se adequa a seu sistema, entre outros. Além disso, o fenômeno pode ser visto como um desdobramento do racismo estrutural no país, que condena historicamente a população negra e seus descendentes (pretos e partos) a condições de vunerabilidades. Nessa cadeia de fragilidades, encontra-se a mulher negra, que junto com o homem negro, formam o conjunto da “carne mais barata do mercado”. É o que mostra pesquisa sobre a população de rua da cidade de São Paulo. Em termos de resultado, a presente pesquisa demonstra que a população em situação de rua, assim como a pobreza no Brasil, tem cor: atinge em maior escala a população negra. Deste modo, as políticas públicas de assistência e promoção humana a população em situação de rua, deve concentrar não apenas em assistências emergências, mas considerar a questão racial em suas políticas. Isto exige dos diferentes agentes públicos que atuam nesse setor, governos, instâncias sociais e religiões/igrejas forte empenho nesse sentido. Em relação as religiões e igrejas que atuam nesse campo, ganha destaque no apoio conjuntural a essa população, a luta pela construção de política públicas que permitam lidar com a diversidade e exclusão. As religiões/igrejas conduzidas por teologias de caráter pluralistas e progressistas assumem importante papel nesse setor. A pesquisa é qualitativa e metodologia apoiada na análise bibliográfica.

Palavras-chave: população em situação de rua; racismo estrutural; interserccionalidade.

  1. O pano de fundo da atuação de lideranças cristãs nos processos judiciais que discutiram a suspensão das atividades religiosas presenciais durante a pandemia de COVID-19 perante o STF

Ruth Faria da Costa Castanha, Umesp, ruthfariacastanha@gmail.com

Resumo: Durante as primeiras ondas da pandemia de COVID-19, o governo brasileiro adotou medidas que visaram a restrição/suspensão das atividades presenciais de diversos setores da sociedade, incluindo as atividades religiosas. Municípios por todo o país exararam decretos que restringiram ou proibiram a realização de cultos e reuniões presenciais nos templos causando uma enorme mobilização de lideranças cristãs perante o Poder Judiciário. Essas lideranças, representadas por institutos ou associações, se valeram da figura do amicus curiae para promover ações ou nelas se manifestar a respeito de uma suposta ameaça à sua liberdade religiosa. A partir da análise documentos contidos em processos judiciais que tramitaram perante Supremo Tribunal Federal, propõe-se investigar qual seria o pano de fundo dessas manifestações perante o STF. Aparentemente engajadas na defesa do direito à liberdade religiosa e sob as formalidades da retórica jurídica, a atuação dessas lideranças carece de uma análise mais aprofundada. Há muito mais no subterrâneo do que a mera tentativa de demonstração de poder ou modificação da jurisprudência brasileira. A hipótese é de que o medo seja a força que moveu essas lideranças cristãs a uma articulação ecumênica perante a Suprema Corte Brasileira. Dentre as classificações propostas por Bauman, “o medo derivado é uma estrutura mental estável que pode ser mais bem descrita como o sentimento de ser suscetível ao perigo” (2022, pág. 9). Esse tipo de medo seria uma espécie de insegurança e vulnerabilidade que adquire a “capacidade de autopropulsão”. Para o autor, esse tipo de medo pode ser de três tipos, o que inclui a ameaça ao lugar da pessoa no mundo, como sua identidade de classe, gênero, etnia, identidade religiosa. O medo seria capaz, inclusive de promover reações defensivas ou até mesmo agressivas contra os supostos perigos. Partindo dessa noção de medo, abordaremos como possível elemento que moveu e balizou a atuação das lideranças cristãs perante o STF na pandemia de COVID-19, o medo do fechamento das igrejas, da perseguição religiosa, da destruição dos valores cristãos e do estabelecimento de um regime comunista que colocasse em risco a sobrevivência das igrejas no Brasil. BAUMAN, Zigmunt. Medo líquido. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2022. CATROGA, Fernando. Entre deuses e césares: secularização, laicidade e religião civil. 2ª Ed., Almedina Brasil. São Paulo, 2010.

 

GT 09: Filosofia da Religião

Coordenação: Prof. Dr. Rui de Souza Josgrilberg; Prof. Dr. Joe Marçal Gonçalves dos Santos (UFS); Prof. Dr. Vitor Chaves de Souza (UFPB); Prof. Dr. Leif Grunewald (UEPA)

Ementa: O GT “Filosofia da Religião” tem por objetivo oferecer um espaço para a discussão acerca da história e das ideias dos fenômenos religiosos, os argumentos filosóficos e problemas como a existência de Deus, a fé, o símbolo religioso, a sabedoria dos mitos, a razão e o cientificismo. O GT pretende abrir espaço para comunicações que contemplem as questões do ser humano e sua relação com o transcendente, as diferenças entre religião, ateísmo e agnosticismo, bem como a discussão dos textos mais importantes da crítica religiosa na filosofia e os principais filósofos da religião. Interessa-nos a tematização da reflexão crítica, descrição fenomenológica ou hermenêutica dos temas religiosos. Desde os trabalhos clássicos a respeito dos deuses gregos, a cristandade medieval, a crítica radical da modernidade até o pensamento contemporâneo, como, a título de exemplo, a hermenêutica de Friedrich Schleiermacher e Wilhelm Dilthey, o existencialismo de Soren Kierkegaard, a fenomenologia religiosa de Max Scheler, o ateísmo de Friedrich Nietzsche e outros nomes na Contemporaneidade.

Palavras-chave: existência de Deus, transcendente, razão, fé, hierofania, sagrado.

 

Dia 25/10/2023 – QUARTA-FEIRA – 14h00-17h00

Finitude e Eternidade em Edith Stein

Higor de Souza Mendes, PUC-Campinas, higorsouzamendes07@live.com

Resumo: A inquietude faz parte da alma humana, está no seu âmago. A questão da existência perturba o espírito humano há séculos, ao retomar essa inquietude o humano se abre ao divino, o desejo intrínseco da alma é se conectar com seu Criador, o finito não possui sentido em si mesmo, necessita de um ser que seja exterior a ele, sendo este Infinito o autor e princípio de tudo. Edith Stein viveu na pele a brevidade da vida, a busca pela verdade sempre permeou as suas mais profundas inquietações. A religião nesse ponto, juntamente com a fé e a própria filosofia, serviram como caminhos que convergem a essa verdade, a verdade não seria um conceito, mas uma pessoa, o Deus que se manifesta através da Trindade. O ser eterno é infinito, não possui nem princípio nem fim, enquanto o ser finito é limitado. Como superar a angústia advinda da finitude? O finito encontra seu sentido no eterno (Deus), a vocação da alma humana é sua união com Deus, visto que a alma como estrutura puramente espiritual não é mortal como o corpo, é justamente a alma o ponto de encontro com o Criador, o amor é o elo de união, em Deus se encontra a plenitude do amor, visto que a amor existente entre as pessoas divina é eterno. O Pai gera o Filho, o Filho e o Pai exalam o Espírito. Deus é o ser que é arquétipo de todo finito. Somos seres de imanência, mas também de transcendência, as duas partes são constituintes de quem somos, negar ou supervalorizar uma parte em detrimento da outro é um erro a ser evitado, bem como não se pode separar essência e existência, somente em Deus a angustia perante o passar do tempo encontra algum sentido. Não há ninguém melhor que Edith Stein, filósofa, mulher, fenomenóloga, mártir e pensadora, para nos iluminar nesse caminho. .“Só em Deus está o repouso da minha alma, dele vem a minha salvação” (Salmo 62, versículo 2).

Palavras-chave: Edith Stein, finitude, eternidade, criador e tempo.

  1. Principais emoções destrutivas, em especial a competição e a inveja, contempladas na geração de compaixão, conforme estabelecidas pelo XIV Dalai Lama

Jonathan Jesse Raichart, Umesp, jonathanraichart@gmail.com

Resumo: Esta apresentação responderá à pergunta: como o Dalai Lama expõe as principais emoções destrutivas seguindo a escola Geluk do Budismo? Utilizando o método bibliográfico, será dividido em cinco subtópicos. Em primeiro lugar, um apelo a valores éticos na política e na economia mundiais, apresentará o seu apelo ao desenvolvimento desses valores, a fim de criar um mundo mais seguro e mais humano. Em segundo lugar, compreender as emoções destrutivas abrange como desenvolver valores éticos através da compreensão e depois controlar as emoções destrutivas no seu próprio continuum. Terceiro, as características compartilhadas pelas emoções destrutivas destacam suas qualidades comuns, detalhando o apego e a raiva como exemplos clássicos. Quarto, as famílias de emoções demonstram estados mentais subjacentes que qualificam grupos específicos. E quinto, a competitividade e a inveja explorarão as semelhanças e diferenças entre as duas. Esta apresentação focará mais neste quinto ponto. Embora certos tipos de competição possam ser benéficos para ajudar a motivar a pessoa a alcançar resultados mais elevados ou melhores, como competir para ser o melhor a ajudar os outros, o que é problemático é quando a competição apresenta um aspecto de querer chegar ao topo através de prejudicar e rebaixar os outros ou retê-los para superá-los. Chamemos isso de competição destrutiva. Na escola Geluk observa-se que a reação normal ao ver alguém melhor que você mesmo é gerar inveja, ver alguém do mesmo nível que você gera competição, e ver alguém inferior a si mesmo faz gerar desdém. Assim, há uma distinção baseada em como a outra pessoa é percebida. No entanto, também existem fortes semelhanças, uma vez que tanto a competitividade destrutiva como a inveja têm um aspecto de querer prejudicar a outra pessoa. Este desejo de prejudicar cai na categoria de raiva ou ódio na escola Geluk. Assim, o elemento tão insidioso em ambos é a intenção de prejudicar. Compreender essas emoções aflitivas é considerado essencial para gerar compaixão por si mesmo e pelos outros.

Palavras-chave: Dalai Lama; emoções destrutivas; budismo Geluk; competição; compaixão.

  1. Religião e política a influência da retórica religiosa nas eleições presidenciais em 2018 e 2022

Jucilene Costermani Ramos Gasoni, Unida, jucilenecostermani@ymail.com

Resumo: A relação entre crenças e identidades religiosas dos eleitores e candidatos e seus impactos nos resultados eleitorais e na retórica política durante as eleições presidenciais de 2018 e 2022 no contexto brasileiro é um tema de grande relevância e complexidade na atualidade, para que se possa compreender o cenário político do país e suas perspectivas para os futuros pleitos. A escolha da problemática visa explorar a questão a partir de uma análise crítica do cenário político-social do Brasil, que é marcado por uma diversidade religiosa significativa e uma polarização política que se intensificou muito nos últimos anos. Durante as eleições de 2018 e 2022 foi evidenciado o papel relevante das crenças e identidades religiosas na formação das preferências políticas dos eleitores. O Brasil é um país majoritariamente cristão, com uma significativa presença de católicos e evangélicos. E essas religiões exercem, notadamente, muita influência na vida cotidiana dos brasileiros, inclusive no âmbito político. A retórica política adotada pelos candidatos se entrelaça com as questões morais e valores defendidos pelos religiosos, atraindo eleitores que se identificam, tanto quanto repelindo aqueles que não partilham das mesmas crenças. Durante as eleições de 2018, por exemplo, a religião se tornou um fator importante na campanha presidencial. O então candidato Jair Messias Bolsonaro, que se identificava como católico e posteriormente foi batizado como evangélico, explorou explicitamente essa relação para fortalecimento de seu eleitorado. A campanha dele adotou discursos conservadores e pautas morais, como o combate ao aborto e a defesa da família tradicional, atraindo eleitores que se identificavam com essas crenças e valores que são cultivados por vertentes religiosas e ganhando a eleição em 2018, perdendo a reeleição em 2022 por muito pouco a partir da formação de uma grande aliança fortalecida pela Esquerda, representada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo maior ênfase no discurso se deu justamente pelo uso de valores morais conservadores disseminado em religiões para conduzir o pensamento político-social do povo brasileiro, considerado, pela corrente contrária, como falsos moralismos segregantes, marginalizantes e que visam interesses de classes e das próprias lideranças religiosas, ferindo os reais valores de um pensamento livre e democrático na formação da opinião e condução do voto.

Palavras-chave: religião; voto; política.

  1. O que é isso que se nomeia de alma no culto das almas?

Jackline Karla Rei dos Reis, UEPA, jackrreis@msn.com

Resumo: A pesquisa tem como objetivo cartografar os possíveis regimes de pensamento e de intensidades que constituem os sujeitos que frequentam o Cemitério da Soledade, localizado em Belém – PA, diante da experiência com o acontecimento do tema da morte, ou melhor, da relação entre os mortos e os vivos, “os que ficam”. Assim, analisar os regimes de intensidade que compõe o Culto das Almas no Cemitério da Soledade buscando examinar como eles podem nos forçar as novas maneiras de pensar sobre novas estruturas e regimes de pensamento sobre o acontecimento da morte e a alma; como expressão de um mundo possível que existe realmente, mas que se efetua dentro de uma outra realidade, pelas múltiplas relações com formas humanas e não-humanas que constituem o Culto das Almas. A partir dessas e de outras inquietações trazidas à luz deste estudo, possamos tematizar nossa própria existência, enxergando vida e morte como parte da mesma tessitura de sentido, do mesmo plano ontológico existencial.

Palavra-chave: culto; almas; morte.

  1. A fenomenologia da religião em diálogo com o pensamento árabe

Vitor Chaves de Souza, UFPA, vitor.chaves@ce.ufpb.br

Resumo: A contribuição da filosofia árabe ao mundo Ocidental perpassa referências e temáticas ainda insondáveis. Dentre elas, um dos termos centrais da fenomenologia, a saber, a intencionalidade, parece não ter sido elaborado pelos pensadores europeus do século XIX. Segundo Edmundo Husserl, fundador da fenomenologia, a intencionalidade é a característica de toda consciência, resultando numa operação semântica da consciência de algo em sua profundidade. Em outras palavras, a intencionalidade é a inserção do ser humano no movimento do mundo, de modo que a consciência é a direção de si no movimento dos objetos visados. Dito de outra maneira, a intencionalidade, para Husserl, sintetiza toda operação cognoscível e, por isso, encontra-se em lugar elevado para o tratamento do mundo. Entretanto, a despeito da importância e da novidade do termo para a Filosofia Contemporânea, segundo Herbert Spiegelberg, o termo "intencionalidade" é anterior a Husserl -- ele assimilou o termo de Franz Brentano -- e também é anterior a Brentano -- profundo conhecedor da escolástica Árabe e, principalmente, de Avicena e de Averróis. Levantamos a hipótese de que os filósofos árabes iniciaram aquilo que veio mais tarde se tornar na intencionalidade em Husserl. Em sua História da Fenomenologia, Spiegelberg sugere a influência dos pensadores árabes em Husserl na mediação de Franz Brentano. No caso, Avicena e Averróis desenvolveram o conceito de ma'na, traduzido, mais aristotelicamente, por Brentano, como intencionalidade. A comunicação terá como proposta, portanto, trabalhar o desenvolvimento do conceito, da filosofia de Avicena e Averróis para a tradução de Brentano, procurando aprofundar as semelhanças e diferenças com o ideal husserliano de intencionalidade.

Palavras-chave: fenomenologia da religião; filosofia árabe; hermenêutica.

 

GT 10 Capitalismo como Religião

Coordenação: Prof. Dr. Jung Mo Sung (Umesp); Prof. Dr. Lauri Emilio Wirth (Umesp); Prof. Dr. Allan da Silva Coelho (UFS); Prof. Dr. Alberto da Silva Moreira (PUC-Goiás).

Ementa: A associação capitalismo como religião é uma tradição no pensamento crítico latino-americano, mas também entre marxistas de inspiração judaica na Europa. A globalidade do mercado transcende os indivíduos, as classes sociais e as nações. Seu domínio não conhece fronteiras, abarca o planeta por inteiro; a universalidade do mercado, confere-lhe a dimensão de totalidade. Nesta visão, a transcendência é sempre algo latente, ela se manifesta e se perpetua no mundo através do consumo. Entre as críticas às virtudes religiosas do mercado, está a ausência de um fundamento ontológico, ou sua falsidade, como uma “idolatria”. Qual a contribuição de se pensar o capitalismo atual como uma religião? Sua associação à religião oferece que desafios teóricos às diversas ciências da religião e à teologia, que desafios práticos ela impõe à política e ao exercício da cidadania, que desafios pastorais e doutrinais apresenta às religiões? Quais seriam os limites desta análise crítica que os associa? Este GT acolhe contribuições que discutam e analisem as pretensões religiosas do capitalismo, sua produção e uso dos símbolos, a fusão de horizontes da economia com as expectativas de felicidade e realização humana, a empatia da mercadoria com a esfera libidinal e do desejo, as experiências de transcendência ligadas ao consumo, sua linguagem e estética, etc. Também são bem-vindas contribuições que, desde recortes teóricos e hermenêuticas os mais diversos, analisem aspectos da transformação da religião pelo capitalismo ou da mutação da religião por sua conformação à lógica do mercado.

Palavras-chave: fetichismo; idolatria; sociedade de consumo; desejo.

 

Dia 24/10/2023Terça-Feira14h00-17h00

  1. Matéria Brasileira: Roberto Schwarz e Hugo Assmann

André Vinicius Souza Castro, Umesp, andrevscastro@outlook.com

Resumo: Esse trabalho pretende dialogar a noção de matéria brasileira de Roberto Schwarz com a metodologia teológica de Hugo Assmann. Schwarz chama de Matéria brasileira o papel das ideias na periferia do capitalismo. Paulo Arantes comenta que a descoberta dessa matéria brasileira acontece numa crítica ideológica onde o impulso crítico original vem da sistematização das inversões que singularizam nosso dia a dia ideológico. Em outras palavras, busca-se expor a forma em que as ideias acontecem na periferia do capitalismo. Schwarz encontra em Machado de Assis a fórmula de se pensar o que significa uma sociedade capitalista e escravista, na literatura de Machado encontrou uma expressão de crítica que demonstrava o mal funcionamento das ideias do iluminismo na periferia do capital, tornando-se ideias fora do lugar. Estávamos do lado de fora da ciência e da sociedade; estando do lado de fora dela se tornaria mais fácil perceber as contradições da mesma. A interpretação de Schwarz, portanto, não se referia a uma mera formulação teórica, mas uma demonstração crítica inovadora de como as ideias operavam fora do espaço social em que foram geradas. A inversão ideológica característica da periferia do capitalismo, cifrada no termo matéria brasileira, era a particularidade de uma forma social onde as ideias que originalmente tiveram um papel emancipador e revolucionário, no caso as luzes e seu esclarecimento, agora desempenhavam uma função conservadora a favor das classes dominantes. Até o marxismo estaria dentro desse balaio modernista de formação nacional. O que Assmann operacionaliza teologicamente é o outro lado do conflito social. Se as classes dominantes pensam com as luzes seus próprios modos de reprodução, seus subalternos experienciam sua luta contra as luzes, religiosamente. Assmann quer dar conta dessa experiência de fé que participa da luta social, a particularidade dessa dá o tom da sua originalidade. Schwarz encontrou em Machado de Assis o mestre que demonstrava o papel conservador das luzes na periferia do capitalismo; Assmann mostra o papel revolucionário da experiência religiosa; experiência essa que era tratada no centro do capitalismo como conservadora do ancien régime. A comedia ideológica é tanta que nosso teólogo não tem medo de afirmar que é uma contradição usar o marxismo para pensar a teologia, mas que se tornava necessário, já que ele dava conta de explicar a situação que se vivia. Naquilo que Assmann apresenta como a particularidade da Teologia da Libertação, seus debates sobre a relação entre a fé e a práxis, entre a teologia dogmática e a teologia ética, encontramos a própria matéria brasileira, agora no teólogo que tenta dar conta das novidades do Cristianismo de Libertação. Eis aí nossa inversão, a matéria brasileira nos revela uma experiência social na qual as “luzes” têm uma função conservadora e o “obscurantismo religioso” se apresenta enquanto o espaço social de luta possível. Nada mais demonstrativo da nossa particularidade ideológica, da nossa matéria brasileira.

Palavras-chave: fetichismo; teologia da libertação; crítica; Brasil.

  1. Aproximações entre o individualismo neoliberal e o atman na sociedade indiana antiga

Gabriel D'Ottaviano Barboza, Umesp, gabrieldbarboza@gmail.com

Resumo: Com essa comunicação buscarei comparar em linhas gerais a noção neoliberal de individuo, tal como pensado por F. Hayek na obra individualismo e ordem econômica, com a noção de atman, presente em textos da antiga doutrina védica, sob o viés crítico do budismo indiano, que chega até nós a partir de seus comentadores modernos e contemporâneos. Ambos os princípios, do indivíduo e do atman, respaldam uma dimensão de organização social e determinam critérios de justiça social. Na sociedade neoliberal individualista, segundo a modelagem oferecida por Hayek, o indivíduo realmente livre deve se ocupar exclusivamente com questões sobre aquilo que ele conhece, e acerca do que ele efetivamente se importa. Os efeitos secundários e mais remotos da ação dos indivíduos em sociedade (tais como a formação de classes sociais que detém ou não determinados direitos) não podem ser controlados – e qualquer tentativa de fazê-lo implicaria em impor ao indivíduo ônus indevido, que em última ratio se revela como tirania. Em outras palavras, se a competição por recursos entre os indivíduos gera a exclusão e mantém uma faixa de pobreza, isso é resultado de algo que está fora do desígnio humano, e o resultado (dever-ser) da sociedade não poderia, de toda forma, ser projetado a priori. O mercado é a chave para a realização mais plena do indivíduo e, portanto, o melhor sistema para as relações econômicas. Por isso, seus resultados, mesmo que maus à primeira vista são, por fim, bons. Nesta toada, nos apoiamos em Jung Mo Sung, ao indicar que é o mercado que passa a ser critério de atribuição de direitos para as pessoas nessa sociedade individualista. Na sociedade indiana antiga, o atman é o princípio individualizador que, por sua vez, justifica o rol de direitos das pessoas em suas respectivas castas, que assim como as classes são uma espécie de classificação social. Esse princípio é o que garante à individualidade de cada um, na casta em que está garantido, o gozo de determinados privilégios, ou o sofrimento de determinadas destituições. A hipótese ventilada é de que há uma semelhança entre esses dois princípios, segundo a perspectiva budista, explicada no conceito de ahaṃkāra (apego ao eu, ou egoísmo), que se funda na percepção de si mesmo como algo individual e irredutível. Isso torna possível enxergar, tanto na sociedade indiana antiga da época do Buddha, quanto na sociedade neoliberal individualista atual, uma semelhança quanto à legitimação do sofrimento de pessoas setores sociais marginalizados e empobrecidos.

Palavras-chave: individualismo; neoliberalismo; atman; justiça social; budismo indiano.

  1. A antropologia “teológica” de Hayek e a negação dos direitos humanos.

Jung Mo Sung, Umesp, jung.sung@metodista.br

Resumo: No seu livro “Os fundamentos da liberdade”, Hayek, o principal pensador do neoliberalismo como um projeto de civilização humana, diz que o seu “objetivo é descrever um ideal, demonstrar como se pode alcançá-lo e explicar o que sua realização significaria na prática”. A partir disso, ele defende a tese de que o capitalismo livre “mas nasceu espontaneamente; nasceu de certos costumes tradicionais e em grande parte morais, muitos dos quais desagradam aos homens, cuja importância estes em geral não entendem, e cuja validade não podem provar, e que não obstante, se difundiram de modo relativamente rápido, graças a uma seleção evolucionária - o crescimento comparativo da população e da riqueza, dos grupos que por acaso os seguiram.” Essa tese se opõe à noção de desenvolvimento humano fundamento na noção moderna de racionalidade e de intervenção consciente do Estado e da sociedade para a realização dos direitos humanos. Para Hayek, essa noção de direitos humanos é irracional e vai contra o próprio processo espontâneo de desenvolvimento civilizatório. Essa comunicação critica, a partir do conceito de “razão transcendental utópica” de Franz Hinkelammert, as contradições do “ideal” neoliberal.

Palavras chaves: neoliberalismo; Hayek; Hinkelammert; razão utópica; conceito transcendental.

  1. "O único teste pelo qual nossa fé deve ser julgada": Textualização como expressão de domínio no estudo do Budismo por Max Müller

Loyane Aline Pessato Ferreira, Umesp, loyaneferreira@gmail.com

Resumo: Esta comunicação visa abordar o papel de Friedrich Max Müller (1823-1900) no processo de sistematização de meios para exercer domínio sobre o território indiano, por meio da elaboração de uma ênfase do conhecimento textual das religiões asiáticas. O método é o estudo de fontes com base em bibliografia afim, em especial Arie Molendijk e Lourens van den Bosch. No referencial teórico conta-se também a noção de economia do conhecimento, na qual a produção e circulação de textos são consideradas não como elementos isolados, mas parte de um rico mercado, em que estão envolvidas revistas, editores, publicadores e todo o tipo de interlocutores, especializados ou não. A hipótese é a de que a textualização teve a função de promover uma centralização dos métodos de conhecimento em torno daqueles detidos pelos europeus em geral – e por Müller em particular. Centralizar a aceitação das religiões nos seus textos promove uma hierarquia dos meios de conhecimento na qual os nativos e suas práticas têm peso menor, enquanto a textualidade, em sua materialidade e capacidade de proporcionar riqueza e prestígio, estão acima do vivido. Por outro lado, a preferência pelos textos também exerce influência sobre a atuação do processo colonialista, na medida em que Müller aponta existir discrepâncias entre as práticas dos nativos e seus textos, interpretando-as como sinais de que os asiáticos não tem afeição ou noção à sua própria textualidade religiosa, e assim permitir-se-iam degenerar do que deveriam fazer. Nesse processo, textos que não seriam autoritativos ganham esse status, e, como os europeus os detém, Müller passa a interpretar que seria possível ensiná-los aos nativos.

Palavras-chave: Max Müller; budismo; textos sagrados; economia do conhecimento.

  1. Modernidade, Protestantismo e Capitalismo: a análise de um desenvolvimento e suas implicações no mundo contemporâneo.

Pablo Fernando Dumer, EST, dumerluterano@gmail.com

Resumo: modernidade, o protestantismo e o capitalismo surgem no mesmo momento histórico, senão imbricados. Segundo Max Weber, o protestantismo tem um papel crucial na fundação da ética para o capitalismo. Este fundou a ideia de que todas as ações na vida têm um significado moral, destacando o indivíduo como responsável perante si mesmo, a sociedade e perante Deus. Weber, centrando-se na relação entre protestantismo e capitalismo, observou que especialmente o calvinismo favoreceu o desenvolvimento do espírito capitalista, influenciando uma ética econômica que via o trabalho como uma forma de cumprir uma vocação divina e glorificar Deus por meio da profissão. Essa ética confere ao trabalho uma qualificação moral, incentivando o acúmulo de capital e contribuindo para o desenvolvimento do capitalismo. Outro aspecto que demonstra essa relação é através do chamado “desencantamento do mundo”, isto é, o processo de racionalização que transformou a visão sobre o trabalho e os recursos naturais, fundamentando um modo de produção capitalista. Na modernidade, a razão adquiriu um papel central, e a natureza passou a ser vista como algo a ser moldado e controlado pelos seres humanos. Essa visão, reforçada pelo pensamento de filósofos como Descartes, resulta em uma sociedade em que as relações sociais e a ética são enviadas à lógica de mercado. A partir desses aspectos que apontam para a relação entre a modernidade, como processo de racionalização do mundo, do protestantismo, como ética do trabalho, e o capitalismo, como modelo econômico, pergunta-se como analisar a partir de um ponto de vista teológico, o capitalismo e suas consequências no mundo contemporâneo. Essa análise já é realizada pela teologia latino-americano, em autores como Hugo Assmann e Jung Mo Sung, através do conceito de idolatria do mercado e da messianização do progresso. A ideia da messianização do progresso parte de um paradigma civilizacional, marcada pelo tripé da racionalização do mundo, a ética do trabalho e a economia de mercado exploratório dos recursos naturais e humanos. Esse paradigma tem consequências alarmantes no mundo contemporâneo, como a crise ecológica e climática. Urge, assim, além da crítica ao modelo atual a construção de novos símbolos e paradigmas de interconexão e interdependência de todos os seres e recursos. Um “reencantamento” do mundo pode ser um recurso para encontrar esse novo paradigma e é papel do pensamento religioso refletir e contribuir para tal. A comunicação analisa o material bibliográfico sobre o tema e propõe como tarefa da teologia e das ciências da religião a busca por paradigmas civilizacionais.

Palavras-chave: modernidade. protestantismo. capitalismo. Max Weber. crise climática.

  1. O desejo da cultura do consumo na perspectiva do Budismo Gelug

Thaís Moraes Azevedo Maetsuka, Umesp, thaismaetsuka@outlook.com

Resumo: A sociedade atual tem um modelo econômico que é voltado ao acúmulo de riquezas, sendo necessariamente baseado no consumo, que acaba estabelecendo um padrão de vida, que é marcada pela exibição da posse de bens de consumo e experiências de prazer proporcionadas por esse consumo, caracterizando também uma espécie de identidade. Assim, para a manutenção da estrutura desse mercado de consumo, há o estímulo constante pela obtenção de bens, de maneira imediata, com repetidas promessas irreais, de obter algo melhor que o anterior, o que estimula o desejo e ânsia por bens a serem consumidos, de maneira a levar até a uma compulsão ou vicio, sendo acompanhado por uma irracionalidade dos consumidores. Isso ocorre de tal maneira, que esse comportamento social desenfreado e irracional, leva a exploração predatória de recursos para produção, aumento de resíduos e assim por diante, de maneira a contribuir para a crise ambiental atual, e para o aumento das desigualdades sociais, já que este comportamento também está vinculado a uma mentalidade egoísta, na qual a felicidade depende de ter para si, frente a falta dos outros. O que leva, obviamente, ao sofrimento, tanto pelas mudanças climáticas, quanto pela exclusão social frete as desigualdades. Mas o que é esse desejo que leva ao consumo irracional, que funciona como uma compulsão ou vício o qual o mercado usa? Neste ponto, a filosofia budista da tradição Gelug traz pontos interessantes a respeito do desejo. O desejo, de acordo com uma estrutura pedagógica budista, conhecida como Doze Elos Dependente Relacionados, surge pelo contato que permite as sensações ou experiências agradáveis e desagradáveis, que levam ao desejo de posse ou desejo de destruição, mas que podem ser classificados ainda como um desejo que é dito ser aflitivo. O desejo “normal” ou não aflitivo é necessário, pois o desejo atua como uma força para o movimento e o esforço. O componente aflitivo é entendido como uma emoção destrutiva, que não é destrutiva pela natureza da emoção, como o desejo de destruição, mas sim, uma medida de quanto essas emoções são realistas, pois quando essas emoções são infundadas, elas se tornam destrutivas, sendo assim, pressupõe uma distorção. Esta por sua vez, ocorre por meio da presença da ignorância distorciva, que atua no conhecimento das coisas, de maneira a fazê-las parecer inerentes, existentes por si próprias, independente de outras coisas, que atua tanto na concepção da individualidade das pessoas, quanto na individualidade dos fenômenos, objetos e experiências. Essa concepção da individualidade das pessoas leva a um forte senso e consequente agarramento ao ‘eu’ e ao que está associado a ele, como ‘meu’, e uma hostilidade ao ‘outro’ ou ao que ‘é do outro’. E dos fenômenos, como mais concretos e com qualidades ou defeitos exagerados frente ao que realmente são, potencializando o desejo ou aversão de maneira proporcional. Assim, a perspectiva budista Gelug traz ferramentas interessantes para analisas o desejo presente no consumo irracional.

Palavras-chave: consumismo; desejo aflitivo; budismo; ignorância distorciva.

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