Olimpíada de Matemática é ferramenta de inclusão social
Entre os projetos expostos no Seminário de Extensão que ocorreu no último 21 de outubro, durante o Congresso Metodista 2020, foi apresentado na conferência virtual o projeto “Inclusão social por meio da difusão do conhecimento”, que engloba a Olimpíada de Matemática do Grande ABC (OMAC) e Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas e Particulares (OBMEP), que são voltadas à estudantes da Educação Básica.
Abrindo a apresentação, professora Débora de Jesus Bezerra, coordenadora da OMAC há 17 anos e coordenadora regional da OBMEP há 15, deu foco ao evento de âmbito nacional, que tem os ideais e objetivos também expressos no evento regional.
Segundo Débora, a OBMEP é um projeto dirigido às escolas públicas e particulares brasileiras, de realização do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, com apoio e recursos da Sociedade Brasileira de Matemática, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e Ministério da Educação.
“Em 2005 iniciou-se esse projeto por meio desses parceiros. Esperávamos 5.000 alunos inscritos e chegou a 5 milhões já na primeira edição. Como é um projeto nacional, participam universidades públicas e a única não-pública é a Metodista, porque já participávamos de outra Olimpíada nacional, que é a OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática), que existe há mais de 50 anos. Então, hoje a universidade é responsável por duas regionais que englobam mais de 120 cidades do estado de São Paulo, que são a SP04, região de Sorocaba e Atibaia, e a SP08, Grande São Paulo e litoral sul”, disse.
De acordo com a apresentação da docente, atualmente participam do evento em média 18 milhões de alunos de mais de 54.000 escolas públicas e privadas em todo o Brasil.
A professora continuou: “os abjetivos da OBMEP são estimular e promover o estudo da Matemática entre alunos das escolas públicas, contribuir para a melhoria da qualidade da Educação Básica, identificar jovens talentos e incentivar seu ingresso nas áreas científicas e tecnológicas, incentivar o aperfeiçoamento dos professores das escolas públicas, contribuir para a integração de escolas com universidades públicas e institutos de pesquisas e, por fim, promover a inclusão social por meio da difusão do conhecimento”.
Os objetivos citam incentivos aos estudantes e professores da rede pública de ensino em razão da ideia original da criação do projeto. Segundo professora Débora, a OBMEP abriu para participação de alunos de escolas particulares a partir de 2017.
A Olimpíada premia estudantes, docentes e escolas conforme desempenho dos alunos nas provas. Os prêmios são simbolizados por medalhas de ouro, prata e bronze e também por menções honrosas (a concorrência é separada entre escolas públicas e privadas). Premiados com medalhas são convidados a participar do Programa de Iniciação Científica Junior - PIC Jr., que é desenvolvido nas universidades com apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Este ano, 6.500 alunos medalhistas da edição 2019 estão participando do PIC Jr. A Metodista também é um dos polos regionais para realização do programa.
As provas da OBMEP 2020 estão suspensas em razão do estado de isolamento social, devido à pandemia do coronavírus (Covid-19). Os inscritos desta edição poderão participar do evento em 2021.
Escola transformada
Convidado a dar depoimento no Seminário, José Ademir Machado Junior, professor da Escola Estadual Ricardo Sampaio Cardoso Judoca, em Santos, apresentou testemunho sobre transformações ocorridas por meio da OBMEP na escola, que fica na área continental da cidade, próxima à Rodovia Rio-Santos (BR-101).
Segundo Ademir, a região onde o colégio localiza-se está em desenvolvimento e em um raio de 60 quilômetros não existe outra escola.
“Quando vim trabalhar aqui, a escola era considerada a pior do estado de São Paulo. Veículos de imprensa como a Globo e Record já vieram fazer reportagens sobre as condições. Ingressei entre 2013 e 2014 no meio do ‘furacão’. Houve troca de Direção e vi naquele momento que precisava fazer algo e, pouco tempo depois, chegou o convite para inscrição na OBMEP e pensei: nisso eu posso ajudar”, contou.
O docente disse que por conta própria passou a motivar estudantes. “Comecei a reunir os alunos aos sábados na escola, que abre aos finais de semana, e prepará-los para a OBMEP. Então a gente começou a ganhar uma menção honrosa por ano, depois duas e em 2016 a professora Débora, que eu já conhecia por causa das capacitações da Olimpíada, me convidou para fazer parte do ‘OBMEP na Escola’. Peguei o projeto (de preparo dos alunos) que eu já tinha e que era algo oficioso para transformar em oficial. A escola passaria a integrar oficialmente o projeto da OBMEP”.
A partir disso, conforme relato, o professor se engajou ainda mais, mas precisou superar situações. “Tive alguns problemas nesses sábados para trazer os alunos e refleti, ‘bati cabeça’ e pensei: está faltando alimentação. Conversei com a diretora e começamos providenciar um café da manhã na escola. E aí comecei a atrair mais alunos e minhas aulas ficaram melhores, pois de barriguinha cheia eles produzem maravilhosamente bem. Depois trouxe outros implementos ao projeto, porque eu sentia que eles chegavam nas outras cidades para fazer a prova assustados, eles viam as pessoas de escolas particulares de uniforme e mandei fazer uniforme da Olimpíada também e eles adoram, usam todos os dias e os percebo mais motivados”.
Toda a iniciativa trouxe novos resultados. “De lá para cá, continuamos trabalhando no projeto e nesse último ano (2019) tivemos 12 alunos finalistas na Olimpíada, cinco foram premiados e os cinco estão participando do PIC Jr. Uma série de professores também se empenharam em outros novos projetos e a situação da escola melhorou muito. Conseguimos evoluir e no ano passado obtivemos um dos melhores índices do estado de São Paulo, o cenário virou”, concluiu Ademir.
Novas perspectivas
Também convidada a participar do Seminário, a estudante do 3º ano do Ensino Médio Flor de Lótus Fausto de Barros é uma das alunas de Ademir medalhista na OBMEP e está participando do PIC Jr. Ela contou sobre sua experiência e mudanças que percebeu na vida estudantil.
“Comecei a participar da OBMEP ainda no Ensino Fundamental, mas não era muito bem explicado no colégio a importância e Matemática por ser algo mais sobre lógica, mais relacionada a números, não tende a ser muito divertida, então os alunos não costumam ter muito interesse. Passei algumas vezes para a segunda fase, mas como não tinha muita consciência sobre qual era o potencial disso, acabava não me empenhando muito. Até que no ano retrasado vim para o Judoca e tinha o professor Ademir fazendo esse trabalho e já nos primeiros dias participando do projeto, o professor explicou o potencial e tudo o que a gente podia fazer. Todo fim de semana tinha algo diferente e fomos aprendendo que a Matemática não é aquela coisa terrível”, disse a hoje medalhista no evento.
Flor de Lótus demostrou ter novo olhar sobre seus estudos e futuro. “Esse ano comecei no PIC e a história é outra. A gente trabalha com algumas coisas um pouco mais complexas e os alunos já têm um conhecimento maior. É uma experiência interessante, porque esse envolvimento mostra que há outros caminhos para se chegar aonde você quer, que você tem potencial. A gente pensa: poxa, eu posso conseguir assim. Pessoalmente me sinto muito grata, pois tira um pouco aquele peso de que tenho que ser incrível em absolutamente tudo. Pensar que sou boa em algo já é incrível”.
A estudante falou sobre a percepção que teve de ser reconhecida desde que passou a participar do projeto da OBMEP e quando ingressou no Programa de Iniciação Científica. “Além do estudo já ser incrível, há um incentivo a mais, pois saber que estão investindo em nós assim, em questão de disponibilizar tempo, profissionais treinando a gente, nos juntar para aprender, faz a gente se sentir um pouquinho mais importante e ver que a gente vale a pena”.
Ela ainda compartilhou a reflexão e conclusões que tirou sobre mudanças que podem ser promovidas por meio do trabalho em conjunto. “Tudo isso nos faz reconhecidos, não apenas nós, mas os professores também recebem reconhecimento pelo o que eles fazem, pessoas que vêem que o esforço, o investimento delas está dando resultado. Quando investem nisso, estão investindo no ser humano que pode fazer coisas melhores para todo mundo. Como a sociedade é formada por várias pessoas, quando você melhora algo para uma pessoa, melhora tudo”.
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