Universidade Metodista integra projeto internacional sobre mudanças climáticas financiado pelo Canadá
A Universidade Metodista de São Paulo é a única instituição brasileira a participar do projeto internacional From Catastrophe to Community: A People’s History of Climate Change, recém-aprovado pelo Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas do Canadá (SSHRC, na sigla em inglês). A iniciativa é liderada pela University of Victoria e reúne universidades, museus, organizações jornalísticas e comunitárias de diversos países. Com duração de seis anos e financiamento de 2,5 milhões de dólares canadenses, o projeto tem como objetivo documentar e mobilizar mais de mil histórias pessoais de sobreviventes de desastres climáticos ao redor do mundo. A proposta é desenvolver novas práticas narrativas fundamentadas nos direitos humanos e sensíveis à cobertura de trauma (new trauma-informed), contribuindo para o engajamento social e para a justiça climática em escala global.
Metodista à frente da iniciativa no Brasil
No Brasil, a coordenação será da professora Cilene Victor, pesquisadora da Metodista e referência em comunicação de riscos e jornalismo humanitário. Ela destaca que o país registrou cerca de 72 mil desastres nas últimas três décadas, resultando em mais de 5 mil mortes, 10 milhões de pessoas desalojadas ou desabrigadas e aproximadamente 1,7 milhão de feridos e doentes. “Mais do que os números, uma preocupação é a invisibilidade midiática, social e política das pessoas afetadas. O projeto busca preencher essa lacuna, ao colocar no centro das discussões as experiências e os traumas vividos por quem enfrentou tem enfrentado essas tragédias”, afirma Cilene.
Segundo a pesquisadora, a participação da Metodista está alinhada às pesquisas já desenvolvidas pela universidade, que conectam comunicação de riscos, jornalismo humanitário e intervenções midiáticas. “Nosso foco é capacitar estudantes, jornalistas e membros da comunidade para que possam abordar com responsabilidade o trauma no contexto da emergência climática, sem perpetuar o sofrimento humano. Vamos aprender e compartilhar muitas experiências com a equipe do professor Sean Holman, grande autoridade nesse assunto e nessa metodologia”.
Na Metodista, como nas outras universidades envolvidas, o treinamento será oferecido pelo Climate Disaster Project, que tem a professora Cilene Victor como a única integrante de universidade brasileira na composição da equipe.
Participação do Sul Global é essencial, diz coordenador internacional
O professor Sean Holman, coordenador do projeto e docente da University of Victoria, destaca a importância da participação de instituições do Sul Global na construção de uma narrativa mais justa sobre as mudanças climáticas. “O Norte Global costuma tratar a crise climática como algo distante, algo que acontecerá no futuro. Mas no Sul Global, ela já é uma realidade há muito tempo”, diz Holman. “Por isso, estamos trabalhando com a Universidade Metodista e com a professora Cilene Victor. Queremos reparar os danos enfrentados por essas comunidades e construir um futuro climático mais justo.”
Para o professor canadense, potencializar a voz das vítimas de desastres é também uma estratégia de justiça climática. “As histórias moldam nossa percepção do mundo. No entanto, quem mais sofre com o aquecimento global raramente é ouvido. Precisamos mudar isso e tratar as mudanças climáticas como uma crise humanitária, não apenas ambiental”, afirma.
Compromisso institucional com os grandes temas contemporâneos
A diretora de Educação da Rede Metodista, Adriana Barroso de Azevedo, afirma que a participação da Metodista no projeto reforça o papel da instituição como formadora de cidadãos críticos e socialmente engajados. “A participação da Universidade Metodista em um projeto dessa magnitude reforça o compromisso da nossa Rede com uma educação conectada aos grandes desafios da atualidade. Ao integrar uma iniciativa internacional que reúne universidades e organizações de diferentes partes do mundo, colocamos nossos alunos, professores e pesquisadores em diálogo com temas urgentes, como a crise climática e seus impactos sociais”, destaca.
Segundo Adriana, a iniciativa vai além do meio acadêmico. “O projeto From Catastrophe to Community valoriza não apenas a produção acadêmica, mas também o acolhimento das vozes que, historicamente, foram invisibilizadas. É uma ação que conecta conhecimento, ética e responsabilidade social - princípios que fazem parte da missão da Rede Metodista de Educação. Ter a professora Cilene Victor à frente da coordenação brasileira nos dá a certeza de que contribuiremos de forma qualificada e sensível para transformar dados em narrativas humanas, e histórias em instrumentos de conscientização e mudança.”
Além da Metodista, participam da iniciativa mais 13 instituições, como York University (Canadá), University of Stirling (Reino Unido), Royal BC Museum, Covering Climate Now e Journalists for Human Rights. O projeto prevê ainda a realização de exposições itinerantes, acervos digitais e publicações jornalísticas e acadêmicas com base nas narrativas coletadas.