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Tornar a escola um ambiente de proteção ajuda a combater indisciplina, orienta especialista

por Maria Luisa Marcoccia Última modificação 2021-09-01T18:19:25-03:00

Não adianta o enfrentamento físico ou censuras morais, nem impor regras rigorosas de conduta ou de disciplina à base de agentes policiais. Um aluno punido severamente tem duas vezes mais probabilidade de cometer infrações novamente. “Escola tem que ser espaço de proteção e diálogo. A escola tem que promover cultura de justiça, paz e convivência respeitosa”, destacou Telma Vinha, pedagoga, doutora em Educação e professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Estudiosa do tema, ela apresentou pesquisa em que a maioria dos docentes não teve formação necessária para lidar de forma construtiva com atitudes de indisciplina ou violência dos alunos, reagindo com o “senso comum” de advertir, humilhar, exigir da diretoria atos punitivos como expulsão do estudante ou maior controle.

“Os professores estão exaustos e destituindo a escola do papel de educar para a convivência”, disse a especialista, que falou a docentes e alunos da Educação Metodista na aula magna dos cursos de Pedagogia e do PPGE (Programa de Pós-graduação em Educação) da Universidade Metodista de São Paulo, na noite de 31 de agosto.

Violência x indisciplina

Telma Vinha diferenciou os problemas de convivência escolar em condutas violentas (agressão, bullying) e perturbadoras (incivilidades, indisciplina). Disse que estatísticas e notícias na mídia acabam unificando essas duas frentes apresentando-as apenas como violência, o que gera a percepção de que escolas são violentas e necessitam de ações mais rigorosas.

A palestrante expôs dados que apontam que a maior parte dos problemas de indisciplina em sala de aula está relacionada a comportamentos triviais que prejudicam mais pela frequência do que pela gravidade, como as incivilidades.

Por incivilidades entendam-se atitudes como conversas à margem da aula, incomodar colegas com brincadeiras e esconder mochilas, andar pela sala na frente do professor, colocar pés na mesa, ou seja, tudo o que fere normas de boa convivência. Já atos violentos remetem a danos físicos à escola, agressões a colegas, tráfico de drogas e outras atitudes que se enquadram no Código Penal.

“É preciso oferecer formação continuada aos professores para que se sintam aptos a lidar com esses problemas com ações de atenção, ou seja, quando o conflito ocorre, mas também com ações promotoras do desenvolvimento sociomoral e também preventivas da violência e preconceitos”, sublinhou a docente.

Ela citou entre as soluções à mão estão a comunicação empática e assertiva dos professores, a criação de canais para que alunos possam encaminhar situações de bullying e de agressões -- como os espaços de mediação de conflitos, implantação de assembleias ou rodas de diálogo--, jogos para expressão de sentimentos, além de inclusão no currículo escolar de temas como discriminação, ética, racismo e assédio moral. “A convivência deve ser planejada de forma intencional como as demais áreas do currículo”, sublinhou.

Mais no Brasil

Telma Vinha mostrou que em todo o mundo há queixas de condutas que perturbam a sala de aula, mas no Brasil a intensidade é maior. Pesquisa da PISA-2021 em 8 países da América Latina e 37 da OCDE (Organização para o Desenvolvimento Econômico e Social da ONU) aponta que em São Paulo 44% dos professores dizem que demoram algum tempo para iniciar a aula, contra 22% dos docentes da OCDE. Pelo menos 19% dizem que perdem tempo para fazer o gerenciamento da classe (13% na OCDE) e 11,5% presenciaram agressões verbais ou intimidações de alunos ao menos uma vez por semana (3% na OCDE).

O evento foi intermediado pela professora Denise Tardeli, do PPGE, e contou com participação do reitor Márcio Oliverio e do professor Sérgio Tavares, do Mestrado e Doutorado em Educação, além da palavra da Pastoral Universitária pelo reverendo Edemir Antunes Filho.

Aguarde o link da íntegra da palestra.

 

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