Simpósio de Economia: baixa complexidade tecnológica impede uma indústria mais avançada no Brasil
Desenvolvimento tecnológico e científico nunca foi prioridade de política pública no Brasil e a sociedade jamais cobrou posicionamento mais forte do governo em P&D (pesquisa e desenvolvimento). Enquanto no Japão investimentos em P&D chegaram a 3,34%, na Alemanha a 2,88% e EUA 2,81%, no Brasil esse nível foi de 1,15% segundo dados de 2012.
“Só decrescem os recursos no Ministério de Ciência e Tecnologia. Como consequência, a indústria se concentrou em baixa intensidade tecnológica e não tivemos a contrapartida de crescimento nos serviços mais avançados”, lamentou professor Sandro Maskio, do curso de Ciências Econômicas da Metodista, em palestra no Simpósio de Economia 2021 na noite de 28 de outubro, sobre O modelo de industrialização brasileira e as consequências da falta de estímulo ao desenvolvimento de competências tecnológicas.
Professor Sandro traçou uma linha histórica da indústria no Brasil, sobretudo a partir da década de 1950 com o desenvolvimentismo dos anos JK, passando pelos choques do petróleo e dos planos econômicos internos. Mostrou que mesmo com criação de organismos como CNPq e Capes (1951), Finep (1967) e FNDC (1969), o adensamento produtivo não foi acompanhado de modo eficiente de políticas e esforços específicos de P&D.
“A entrada das multinacionais ocorreu sem exigência de transferência de tecnologia e aportes tecnológicos. As unidades nacionais serviram apenas como reprodutoras do aparato produtivo das matrizes de fora. Ou seja, tivemos um setor nacional sem atuar com mais complexidade e sem absorver as competências tecnológicas das matrizes. Isso não estimulou um setor de serviços avançado entre nós”, pontuou professor Sandro Maskio.
Sem condições de competir
Com a abertura da economia no final dos anos 1990 também foi frustrada a expectativa de que o fim das barreiras protecionistas trouxesse à indústria nacional mais competitividade e busca de melhorias tecnológicas. Ao contrário, com a falta de estímulo ao investimento tecnológico e sem financiamentos adequados, além da baixa capacidade técnica da mão-de-obra, o Brasil não teve estrutura para competir com a indústria de fora.
“O setor produtivo não se acovardou. Apenas não teve condições estruturais para se modernizar em espaço de tempo tão curto. A indústria nacional tratou de sobreviver com redução de custos, revisão de processos e fusões para não falir”, explicou o palestrante.
A consequência da defasagem da indústria nacional em processo, produto e organização industrial foi que setores com média e alta intensidade tecnológica reduziram seu espaço no PIB industrial (fármacos, aeronáutica, automobilísticas e equipamentos de informática). De cerca de 30% nas décadas de 1960 e 1980, caíram para menos de 20% em 2019. Enquanto isso, setores de baixa e média intensidade tecnológica (borracha, polímeros, alimentos, madeira) saltaram para mais de 40%.
Mesmo assim, prof. Sandro entende que nenhuma nação prescinde do parque industrial, que continua sendo importante demandante tecnológico. “Veja a evolução dos carros, que hoje têm wi-fi e estacionam sozinhos. Ou o aspirador que limpa uma casa com comando de GPS”, citou.
Acompanhe a íntegra do evento, que foi introduzido pelo diretor do campus Rudge Ramos, prof. Marcelo dos Santos, e comemorou os 20 anos do curso de Ciências Econômicas da Universidade Metodista de São Paulo.