Prof. Camila Escudero fala ao Diário de Notícias de Portugal sobre emigração de brasileiros
Pesquisa para a OIM (Organização Internacional para Migrações, uma das agências da ONU) realizada em 2021 foi pauta de entrevista da professora Camila Escudero, de Jornalismo e da PósCOM, ao Diário de Notícias de Portugal. A matéria traça um perfil dos brasileiros que cada vez mais procuram Portugal para um novo ciclo de vida e conclui que eles provêm de grandes cidades (não mais do interior), seguem em família, pertencem a várias classes sociais e têm entre 20 e 40 anos.
“O estudo foi intitulado Diáspora Sul-americana como Agente do Desenvolvimento Sustentável. Fiquei responsável pelo relatório do Brasil. Foi então que percebemos que não só faltam dados sistematizados sobre a emigração brasileira, mas, também, que os que existem estão muito dispersos. Ou seja, como a temática da migração é interdisciplinar, há estudos na área do Direito, da Economia, das Ciências Sociais, Psicologia, História etc”, conta prof. Camila ao portal da Universidade Metodista de São Paulo.
Surgiu então a ideia de lançar a plataforma de dados Brasileiros no Exterior (https://www.brasileirosnoexterior.org), com objetivo de construir uma base de informações de acesso público e gratuito, bem como de caráter prático-extensionista no contexto da pesquisa acadêmica, sobre a emigração brasileira em geral. Segundo prof. Camila, além de sistematizar, organizar e dar visibilidade aos dados sobre presença de brasileiros no exterior, a plataforma busca servir como ponto de apoio na articulação de emigrantes e líderes comunitários, pesquisadores, organizações da sociedade civil (OSCs) e esferas governamentais envolvidos com o tema.
“Uma das maiores dificuldades são os dados estatísticos sobre a comunidade brasileira no exterior. Não temos números exatos. O que temos são estimativas do Ministério das Relações Exteriores e, em alguns países, como o caso de EUA, Japão, Canadá e União Europeia, números dos censos nacionais”, aponta a docente.
Quatro vezes mais
No caso de Portugal, a reportagem do Diário de Notícias apurou que 393 mil brasileiros residem no país, com maior incidência em Lisboa, Cascais, Sintra, Porto e Braga -- número que não abrange quem tem dupla nacionalidade. Em 2013, a comunidade brasileira em Portugal era de 92 mil pessoas e já representava o principal grupo estrangeiro residente.
Segundo informou a docente de Jornalismo e Pós-Graduação em Comunicação da Metodista ao portal da Umesp, o que atrai em Portugal são a similaridade da língua, os laços históricos e culturais, as redes migratórias já consolidadas, bem como a localização estratégica do país na Europa, facilitando a mobilidade para outros países do continente. Mesmo sem dispor de dados quantificados, o estudo permite por enquanto enumerar algumas motivações da emigração:
- Trabalho e busca por uma vida melhor (fatores predominantes).
- Nível de escolaridade superior em relação às fases anteriores.
- Pessoas de classe média, que têm algum recurso financeiro, ainda que não tenham licença para trabalhar.
- Saída (inclusive) de grandes cidades e capitais.
- Desejo de retorno ao Brasil menos explícito.
- Protagonismo da mulher (arrimo de família nas classes baixas; independência e empoderamento, nas mais altas).
- Planejamento maior da mudança quando o país de destino é mais longínquo (Japão e Austrália).
- Viagem da família toda, e não mais só do indivíduo.
- Existência de novas gerações que “são brasileiras, mas nunca estiveram no Brasil”.
- Retorno de idosos ao Brasil.
Texto: Malu Marcoccia
Última atualização: 20/10/2023