Maternidade e o processo de adoção é tema de trabalho da Pós em Psicologia da Saúde
A doutoranda da Pós-Graduação em Psicologia da Saúde Camila Vaz desenvolveu pesquisa sobre “Maternidade e o processo de entrega para adoção”, um tema com reflexões voltadas para o biopoder e a psicologia da libertação. Seu trabalho foi apresentado no Congresso Metodista de 2023.
Camila discorre sobre a trajetória de colonialidade do Brasil, quando dependente da Europa. Mas esse passado reflete sobre como o papel da mulher é visto na sociedade e as violências que sofre. “Quando se casa, a mulher sai do campo de domínio do pai e vai para o do marido. Esse marido tem como recurso o Estado, que colabora com esses tipos de violências que a mulher sofre, como as violências no social, no político e ao se opor à violência sexual e doméstica”, pontuou.
A aluna citou Martín-Baro, fundador da psicologia da libertação: ‘Para que uma sociedade seja livre, é necessário um processo libertário. A ação que reflete e promove um governo que governe em prol e para o povo’. É isso que precisamos pensar”, disse a doutoranda.
Mulher e a maternidade
Baseando-se nos estudos de Foucault que falam sobre a existência de estruturas sociais que se utilizam do poder para domínio e opressão, Camila Vaz fez um paralelo com a maternidade, em que a função da mulher é resumida a ser mãe. “A mulher precisa estar neste papel de mãe para ser valorizada, e é um papel que nos é cobrado constantemente”.
Trazendo a lógica de Kant segundo a qual o corpo é do estado/homem, o corpo da mulher não lhe pertence. “A representação da mulher na sociedade ainda é de um corpo dócil e frágil. Se ela é empoderada, ela é rebelde e precisa de controle”, explica.
Camila apontou que a mulher recebe julgamentos quando não quer exercer a maternidade, vindos até mesmo de profissionais da saúde, que apesar de terem mulheres inseridas nesta área, o sistema ainda é patriarcal. "Já para o homem, a opção de não querer exercer o papel de pai é naturalizada", apontou.
Necropolítica
A pesquisa ainda traz a necropolítica, uma política voltada para a questão da morte como um projeto de Estado. “Por exemplo, uma mulher gestante em situação de rua que quer dar o filho para adoção, por que ela não vai para um hospital ter a criança? Porque ela sabe que sofrerá violência, que o seu parto não será feito de forma digna. Ela tem experiência de outras pessoas e também de outras mulheres”, falou a aluna da Universidade Metodista de São Paulo.
O mesmo ocorre com mulheres que querem ser mães, mas se encontram em situações que a sociedade não aprova. “Quando elas chegam ao hospital, existe o julgamento. Como uma mãe em situação de rua ou pobreza, por exemplo, quer ter seu filho? Não, ela não pode. Então hospitais tiram os bebês dessas mães e mandam para adoção, mesmo existindo o interesse de querer ter a criança”.
Existem esses dois paralelos, que pioram quando há questões raciais e sociais. “Então temos uma violência que é institucionalizada, e determinadas características que a tornam passiva de sofrer uma violência que surge de uma ideia de defender o bebê de uma mãe ‘perversa’. Isso é muito mais consistente quando a mulher é pobre e envolve questão racial”, apontou.