Ex-aluno de jornalismo lança livro sobre a terceirização da guerra
O egresso do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, Renan de Souza, está lançando a versão em português de sua tese “Empresas Militares Privadas e a Terceirização da Guerra”, que aborda o fenômeno recente nas relações internacionais, onde empresas militares privadas lucram, e a lógica capitalista entra cada vez mais na construção do que seria o Estado.
Renan conta que desde a invasão americana ao Iraque, esse tipo de empresa proliferou muito. “Há um risco nesse movimento porque essas empresas visam o lucro, e esse não é o objetivo do Estado. Apesar de já existirem antes, essa ideia de mercantilização é desde a guerra ao Iraque, onde tiveram centenas de empresas que ganharam milhões de dólares em contrato com o Departamento de Estado Americano”, aponta o ex-aluno.
Um caso conhecido é o da empresa americana militar privada, Blackwater, atualmente Academi, fundada em 1977, que se envolveu em escândalos por violações dos direitos humanos e investigada por possível envolvimento com atividades ilegais durante a guerra ao Iraque.
“A Blackwater tinha contrato com o Departamento de Estado e matou mais de 10 civis desarmados iraquianos. Esse caso gerou comoção internacional porque, como se processa essa empresa? Ela não é um Estado. Como você enquadra ela em questões de violação e direitos humanos? Então o livro abordará isso”, pontua.
Líderes de Estado com Interesses obscuros
Essas empresas privadas servem aos interesses de Estado onde os líderes possuem interesses obscuros. Como eles não podem usar o exército nacional, eles usam essas empresas militares privadas para lutar na guerra em seus nomes.
“Essas empresas privadas têm uma capacidade muito grande de mudar de nome, endereço, país, o que torna muito difícil deixá-las responsáveis por algum tipo de violação aos direitos humanos”, aborda.
Renan é jornalista formado pela Universidade Metodista e realizou o mestrado em Relações Internacionais pela Goldsmiths, University of London. Além do desejo de trabalhar como jornalista de televisão, Renan se interessou por Relações Internacionais e se especializou nesta área.
“Eu quis falar sobre esse tema no mundo atual porque, recentemente na guerra da Ucrânia em 2014, houve a tomada da Criméia pela Rússia. A Rússia utilizou um grupo chamado Wagner Group, uma empresa militar privada que ajudava nos objetivos do Kremlin. Como não era uma guerra direta, desde o Putin usar o exercíto nacional, ele utilizou essa empresa para tomar a região da Criméia e se expandir no leste da Ucrânia. Isso faz com que o risco político do líder de um Estado seja reduzido, porque ele não está usando o exército nacional, evita a crítica a opinião pública e interna, e utiliza a empresa para alcançar os objetivos internacionalmente”, fala.
Um dos motivos que levou os Estados Unidos a utilizarem essas empresas foi o peso da opinião pública em guerras com Afeganistão e Iraque, onde dezenas de corpos de soldados americanos voltavam para o país. “Isso tem um custo, a opinião pública cobra muito isso do líder do país. Para reduzir esse risco político, os líderes americanos começaram a optar por essas empresas”, pontua Renan.
Parcerias marcantes no livro
Para o prefácio de seu livro, que é resultado da tese de mestrado, Renan entrou em contato com Óscar Arias, ex-presidente da Costa Rica, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1987 ao propor um tratado de paz a América Central, e Fawzia Koofi, uma política que luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão e a primeira mulher a se tornar vice-presidente de seu país.
Pelo livro ser um resultado da sua tese de mestrado, Renan não queria que o conteúdo se perdesse. “Como jornalista, a gente aprende a ser bastante destemido. O que eu fiz é muito difícil para um latino-americano, especialmente um brasileiro, produzir um conteúdo científico que chega ao mundo”.
Óscar Arias e Fawzia Koofi leram o livro e aceitaram incrementar suas visões de mundo, o que foi uma honra para Renan. “Eu queria que o livro tivesse o prefácio de um Nobel da Paz, então bati na porta do Óscar Arias, que super aceitou fazer o prefácio. Os discursos e a visão dele de mundo e o fato de ter sido Nobel da Paz foi uma honra. Com a Fawzia foi a mesma coisa, no meio do livro falo sobre o conceito de paz positiva. Ela foi procurada pela Blackwater para realizar serviços no Afeganistão, e recusou pelos riscos que essa empresa traria para um país que busca a paz”, fala.
A publicação em inglês ficou entre as mais vendidos da categoria "Guerra e Paz" no site da Amazon. No Brasil, o livro pode ser encontrado no site da editora CRV, Amazon Brasil, Lojas Americanas e Estante Virtual. “Quero convidar as pessoas a lerem esse livro por tratar de um assunto tão oportuno, de um mundo com tantas mudanças e oscilações geopolíticas. A procura pela paz é algo que move a humanidade e o livro é sobre isso. Também estou super aberto a receber críticas, como um bom jornalista”, fala o ex-aluno.
Última atualização: 24/02/2025
Matéria por: Cindy Lima
Imagens: Reprodução/Editora CRV