Ex-aluna de Jornalismo concorre a prêmio com série sobre pandemia e moradores de rua
Formada em 2012 pela Metodista e autora de três livros que refletem temas de direitos humanos, a jornalista e escritora Karla Maria Souza está na final do Prêmio Dom Helder Câmara de Imprensa, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Ela disputa na categoria Jornal com a série de matérias A luta da população em situação de rua pela sobrevivência em tempos de pandemia.
É a terceira vez que Karla entra na competição. Venceu as outras duas indicações, em 2012 e 2017, na categoria Revista com reportagens sobre direitos humanos indígenas e de impactados pela exploração de minério de ferro na Serra dos Carajás. Participou quando atuava na redação da revista Família Cristã. Morando em Guarulhos, na Grande São Paulo, hoje ela trabalha de forma independente e escreve para a Agência Signis de Notícias. A série que concorre ao prêmio da CNBB foi escrita para O Trecheiro, um jornal feito com e para a população em situação de rua há cerca de 30 anos.
“Refletir sobre a função social do jornalismo e ver a realidade à sua frente me colocoram no caminho da denúncia e da escuta das histórias que nem sempre chamam atenção da mídia tradicional. Passei por jornais e especialmente revistas que me deram espaço para ir desenvolvendo pautas mais complexas”, diz Karla sobre sua especialização em jornalismo humanitário.
Espaço de acolhida
Bolsista do ProUni, foi durante os cursos de Rádio e TV e depois de Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo que ela passou a se sensibilizar e a moldar sua formação humana.
“Morava na Freguesia do Ó, em São Paulo, e ia todos os dias, claro, para a faculdade em São Bernardo do Campo. A volta era puxada. Às 23h15 estava no ponto de ônibus na Rodovia Anchieta. Passava de madrugada no centro de São Paulo, pegava o ônibus no Terminal dom Pedro II e chegava em casa perto da uma da manhã. Foi assim durante um tempo e se a faculdade não fosse um espaço de acolhida e aprendizado, certamente não teria motivação suficiente para terminar o curso, porque era cansativo e, sim, perigoso. Mas nunca fui assaltada. Passar pelo centro à noite, cumprimentar trabalhadores e pessoas em situação de rua também foi parte da minha formação profissional e humana. Olho para trás com alegria e orgulho. Sou hoje resultado de uma história difícil, mas muito bonita”.
Aos 37 anos, Karla é também autora de três livros-reportagem, pelos quais já recebeu outros três prêmios literários. Mulheres Extraordinárias (2017), que fala dos direitos humanos femininos, Irmã Dulce, a santa brasileira que fez dos pobres sua vida (2019) e O Peso do Jumbo, histórias de uma repórter de dentro e fora do cárcere, (2020), todos pela Paulus Editora.
Causar indignação
Sobre as veredas literárias, ela diz: “O jornalismo literário chega como uma ferramenta, um meio de contar as histórias apuradas de maneira a conduzir o leitor e a leitora pelos passos do repórter. Faço isso com mais liberdade em meus livros, já que neles sou minha própria editora. Tal condução quer, assim como a literatura, humanizar, sensibilizar, causar indignação ou emoção, empatia sobre o tema e as fontes das entrevistas, sem, contudo, deixar de cumprir o objetivo e função do jornalismo que é informar”.
Karka Maria também guarda carinho especial pela Umesp: "A convivência com colegas e professores tanto do curso de Rádio e TV quanto do de Jornalismo me fez ser uma profissional mais aberta às experiências, às pautas, aos desafios. Em ambos tive aulas com professores que antecipavam tendências de mercado e reverenciavam a história. Valorizo isso hoje, ainda mais. Como fui aluna de jornalismo transferida de outra faculdade, costumo dizer que minha turma de jornalismo eram os professores, que foram exemplo de profissionalismo”.