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Docentes participam de evento sobre “Autismo e Educação”

por cindy lima Última modificação 2022-11-10T17:48:59-03:00

No último 8 de novembro de 2022, aconteceu no Auditório do Edifício Capa, um evento com os docentes sobre “Autismo e Educação”, palestrada pela pedagoga e especialista, Cíntia Severo Brasil. 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como Autismo, é um distúrbio do neurodesenvolvimento cerebral, caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, que podem apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. 

Ainda na fase fetal, os genes sofrem uma dificuldade para que os neurônios se desenvolvam adequadamente. Diferente da Síndrome de Down, que somente um cromossomo sofre alteração, no autismo podem ser diversos os não-desenvolvimentos.  

“Por isso que o autismo demonstra características diferentes, alguns autistas têm maior ou menor dificuldade. O TEA hoje engloba todas as pessoas que possuem características do autismo”, aponta Cíntia Severo. 

Cíntia, antes de pedagoga e especialista, é mãe de Breno, 22 anos, aluno de Ciências Contábeis na Universidade Metodista, que tem TEA. E do Derick, 24 anos, estudante de Medicina, que tem Altas Habilidades (AH). 

A pedagoga compartilha algumas lembranças sobre os cuidados com o filho mais velho. “Quando o Derick nasceu, eu, mãe de primeira viagem, achava o meu filho o máximo. Andou com nove meses e ficou independente da fralda com um ano e três meses. Eu até falava que era esquisito aquela criança pequena andando e falando”, e complementa dizendo que na época não era especialista na área, atuava como nutricionista na Folha de S. Paulo, e que possuía uma típica vida corrida de mãe que trabalha e tem filhos pequenos. 

“Dois anos depois veio o Breno. Com dois dias, em casa, eu falei para o meu marido, Douglas, que tinha algo de errado com o Breno. Meu marido até perguntou o que eu esperava que uma criança de três dias fizesse. Mas, aquele sentimento de mãe, me fez com que fosse atrás de entender o que estava acontecendo”. 

Cíntia fala que mudou seu horário de trabalho na época por conta de Breno viver internado com dificuldades respiratórias: “Naquela época falava muito pouco sobre TEA. Mas, eu encontrei um médico que se propôs a estudar a causa, e entramos com terapia. Com seis meses ele já fazia fisioterapia, terapia ocupacional, hipoterapia. Eu passava com psicólogo”. 

“O Breno falou com quatro anos, e foi andar com quase seis anos de idade. Hoje, quem conhece o Breno, nem acredita. Ele não parou de fazer terapias e até hoje passa com psicólogo”, pontua a pedagoga. 

Quando o assunto é escola, Cíntia aborda que eles não possuíam uma base para apoiar o filho, então sugeriu trabalhar em conjunto com os profissionais. “Eu, na minha pouca experiência, porque eu não tinha formação, fui guiando a escola. A escola então me chamou para trabalhar lá, mas para isso eu precisava fazer pedagogia. Fiz a matrícula e comecei a trabalhar no mesmo dia”. Segundo ela os filhos são os principais professores da sua vida. “No curso de pedagogia falta muita coisa ainda, se fala pouco de inclusão. Os professores chegam na sala e não sabem como lidar com esses alunos”. 

No Ensino Superior, a Lei de Inclusão dá ao aluno autista o direito de provas adaptadas, com questões reduzidas e com maior tempo de duração. “Eles demoram mais para processar e a compreender, então, enquanto um aluno demora uma hora, o aluno autista pode demorar até três horas, por exemplo”. 

Cíntia destaca que às vezes uma mão no ombro, o ato de perguntar, olhar, e se aproximar pode ajudar. “Ir lá mais perto desse aluno, ver se ele tá dando conta. Nem sempre dar conta de uma prova para esse aluno, significa que ele não sabe o que ele de fato sabe. Eles têm muito mais facilidade na oralidade do que na escrita, porque eles têm muita dificuldade de interpretação de leitura”, e completa que o autista não aprende por observação, mas por apresentação. "Se a palavra não foi apresentada para ele, ele não vai aprender”. 

 

Os níveis de suporte no TEA 

No Transtorno do Espectro Autista, existem três níveis de suporte. No primeiro, a pessoa que possui característica do autismo, normalmente é verbal, se comunica, tem linguagens, se socializa, tem poucas estereotipias, como por exemplo, ficar levantando do lugar, tem dificuldades cognitivas, pode ter uma vida independente e autônoma, não precisa de tanto suporte, mas ainda assim precisa de um acompanhamento multidisciplinar para que ela consiga alcançar esse estágio. 

Já no segundo, pode ser verbal ou não verbal, possui mais dificuldades em se socializar, tem dificuldades cognitivas, estereotipia, movimentos repetitivos. “Costumam levantar muito os braços, querem caminhar bastante como forma de se reorganizar e falam muito sozinhos. E as vezes o professor não está acostumado com isso e não entende a criança”, pontua Cíntia. 

No terceiro nível, a pessoa normalmente é não verbal, não consegue se socializar, tem potencial na maioria das vezes cognitivo, mas não possui compreensão do porquê de as coisas ocorrerem. Em geral, a pessoa de nível três terá que ter uma outra pessoa como suporte pelo resto da vida, não conseguindo conquistar independência e autonomia. "Normalmente, quem chega no Ensino Superior são os suportes de Nível 1 e 2”. 

 

A presença do Mediador 

Suporte para a criança com TEA, para algumas, é a necessidade de ter um mediador, também conhecido como atendente terapêutico e auxiliar de apoio, que irá conduzi-la para aquilo que ela precisa. 

Cíntia compartilha que Breno teve uma mediadora do Ensino Infantil até o 7º ano do Ensino Fundamental. “Aos poucos fomos tirando essa mediadora até que ele conseguisse fazer as coisas sozinho. O que o Breno precisa é de um intérprete de linguagens, onde a maioria dos autistas tem dificuldade, porque eles entendem tudo ao pé da letra”É lógico que pessoas de suporte nível 1 e 2, se a gente explicar, eles vão entender, mas não terá o mesmo significado que tem para nós, acrescenta. 

A pedagoga explica que existe uma certa dificuldade para os autistas por não entenderem o grupo que estão inseridos, e usa o exemplo de quando ia ao cinema, explicava cada parte do filme ao filho, porque se ele somente assistisse, ele não entenderia. “Não é que eles não tenham capacidade de aprender, pelo contrário, eles são muito inteligentes, mas eles precisam desse mediador, desse caminho de alguém auxiliando para que eles consigam fazer parte." 

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