Aula magna aborda ligação do Jornalismo com o cenário político brasileiro
O curso de jornalismo no Brasil chega por volta da década de 40. Antes disso, o cenário jornalístico no país era marcado por um olhar opinativo. Os meios de comunicação se posicionando de forma explícita, se tornando na maior parte do tempo uma campanha política.
Foi a partir da década de 50 e 60 que o jornalismo brasileiro adotou o modelo americano, mesmo sem ser na sua integralidade, que consiste em um olhar mais analítico e profissional do que opinativo e pessoal. A mudança é caracterizada por exemplo, pelo caderno de opinião na página dois de um jornal.
Mas, isso não fez com que os veículos de comunicação perdessem o seu viés político, já que continuaram se expondo. Assessores de imprensa na década de 60, 70 e 80 indo atrás de jornalistas a procura de espaço se tornou comum por enxergarem a mídia como prolongamento da imagem do cliente que representavam, além de reconhecerem o poder que os meios possuíam em pautar a esfera pública.
“Conseguir o espaço midiático é sinal de poder. Não é você falando sobre os seus feitos, mas um meio de comunicação consolidado dando voz a uma ideia”, aponta o mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) Marcelo Damasceno, durante aula magna do curso de Jornalismo EAD que aconteceu no último 26 de abril.
Jornalismo atual
A cobertura jornalística atual precisa ser mais atenta por conta do fluxo de informações que são despejadas diariamente. As mídias sociais como Twitter, Facebook, YouTube e TikTok se tornaram grandes fontes e também disseminadoras de Fake News por conta do fácil acesso e imediatismo dentro das plataformas.
“Com a chegada da internet e redes sociais, foram criados perfis para esses políticos. Aquilo que eles buscavam por meio da mídia e assessoria de imprensa, agora são capazes de fazerem sozinhos. Por exemplo o Twitter, se o político fala algo na plataforma, nós como imprensa republicamos e transformamos em pauta”, comenta Marcelo.
Por conta do imediatismo é comum as informações não serem checadas em mais de uma fonte, apesar de ir contra o código de ética do jornalista. “Mesmo que seja o próprio autor postando, é necessário checar. O jornalismo político está ficando cada vez mais declaratório”, destaca.
Jornalismo Político
Para falar sobre política é necessário conhecer além dos três poderes. O jornalista precisa entender para informar o público, saber identificar o que realmente é importante e estar atento as coisas que acontecem ao redor. “O ambiente político fala muito. Às vezes a movimentação no senado é mais importante do que o que está sendo aprovado”, aconselha.
Existe uma diferença entre coberturas de mulheres dentro do cenário político em relação a homens. O exemplo dado por Marcelo foi sobre a ex-presidenta Dilma assumindo o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), instituição criada em 2014 pelo BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“Se compararmos ao ex-ministro que o foco das manchetes fora sobre a posse, com a Dilma o salário se tornou o principal. A impressão que passa é que ela, como mulher, não merece o salário que recebe. O salário do ex-ministro foi deixado por último na época. Jornalisticamente sabemos que os três primeiros parágrafos são os mais importantes, mas o salário dela apareceu no título, no lead”.
Independente da editoria escolhida pelo profissional a política estará inserida. “A pauta política vai entrar na vida do jornalista de alguma forma na redação, seja na moradia popular ou segurança alimentar ela irá aparecer por ser abrangente, então é importante saber como funciona”, finaliza.