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Ainda não assistiu a Oppenheimer? Professor Herom Vargas ajuda a entender o drama de guerra

por Maria Luisa Marcoccia Última modificação 2023-08-14T13:10:26-03:00

O período de exibição – 3 horas – pode assustar os desavisados. O gênero biografia também deixa alguns com pés atrás. Mas o longa metragem Oppenheimer, que retrata a trajetória do físico J. Robert Oppenheimer, é emoção do começo ao fim e, principalmente, um mergulho na história da criação da bomba atômica que destruiu as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando 200 mil pessoas somente nessas localidades e pondo fim à Segunda Guerra Mundial.

Os horrores da guerra são fartamente retratados em filmes diversos, porém o dilema ético sentido pelo próprio construtor da mais mortal arma utilizada contra a humanidade potencializa a reflexão sobre a corrida armamentista que se estabeleceu desde então.   

“Nenhum documentário chega à verdade. Existe uma reconstrução para chegar a algo próximo do que realmente foi. Em Oppenheimer, algumas críticas dizem que não houve o encontro dele com Albert Einstein ou não daquele jeito. Mas não interessa, porque no filme o encontro tem uma função muito importante: amarra o debate sobre ética na ciência, sobre violência humana e sobre guerra. São reflexões muito interessantes”, analisa professor Herom Vargas, dos cursos de Jornalismo e Mestrado-Doutorado em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo.

Ambíguo e dividido

A proximidade de Opennheimer com o legendário cientista Albert Einstein se dá no início do filme, num encontro no lago, e também no final, destrinchando o que teria sido essa conversa. Einstein questiona nesse momento o uso dos conhecimentos científicos para destruição da humanidade. A trama, aliás, mostra com frequência um Oppenheimer ambíguo, dividido entre o triunfo de sua descoberta e o assombro que causaria ao mundo.

A biografia oficial conta que, anos depois, o próprio físico confessou ter se arrependido do que criou. Com certa ingenuidade, ele acreditava que sua descoberta teria fins pacíficos e ajudaria a colocar ponto final nas guerras porque os soviéticos também estariam desenvolvendo armas nucleares de destruição em massa – e as forças se neutralizariam, já que ninguém apertaria o botão primeiro.

Oppenheimer passou os últimos 20 anos de vida como diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, trabalhando ao lado de Einstein e de outros físicos e tentando controlar o monstro que ajudou a construir.

Várias tramas em uma

Mais um fato histórico da trama é seu encontro com outro personagem decisivo da época, o presidente Harry Truman, que ordenou o uso da bomba sobre o resistente Japão, mesmo com a guerra praticamente finalizada após a morte de Mussolini e Hitler.  Em clássica cena de patriotada americana, Truman debocha da preocupação de Oppenheimer com os efeitos mortais da experiência e oficializa o ato para exibir a superioridade dos EUA em armamentos e já inaugurando a guerra fria que se seguiu contra regimes comunistas.

“Os roteiristas e o diretor conseguiram realizar várias tramas dentro de uma só, entrelaçando aspectos pessoais da vida de Oppenheimer com passagens da história. Isso mantém a atenção e a tensão o tempo todo, o que é muito bom para um longa. O cenário também é bonito, típico das grandes produções de Hollywood”, acrescenta prof. Herom. Em nenhum momento aparecem corpos mutilados ou mortos amontoados característicos de cenários de guerra. A angústia despertada pelo drama fica por conta das cenas de gigantescos cogumelos levantados pela bomba e o imaginário de destruição causada pela explosão na hora e por muitos anos a partir da radiação liberada.

O filme foi baseado em livro, mas o diretor Christopher Nolan afirma que deixou claro que não queria uma adaptação da obra, e sim uma interpretação dos fatos. O elenco conta, inclusive, com cientistas reais como figurantes.

  • Oppenheimer: 2 horas e 49 min. Gênero: Biografia, Drama, Guerra
  • Baseado no livro biográfico American Prometheus: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer, dos escritores Kai Bird e Martin J. Sherwin.
  • Do mesmo diretor de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), A Origem (2010), Interestelar (2014), entre outros.
  • Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr, Matt Damon, Emily Blunt, Florence Pugh, Benny Safdie, Michael Angarano e Josh Hartnett.

 

Texto: Malu Marcoccia
Última atualização: 10/08/2023

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