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"A religião popular do século XVI pela visão de Thomaz Müntzer" foi debate de aula magna de Ciências da Religião

por cindy lima Última modificação 2023-09-01T17:43:49-03:00

Neste 16 de agosto último, o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo discutiu sobre a tese do professor Martin Barcala sobre “O povo não me entendeu direito: a religião popular do século XVI pela visão de Thomaz Müntzer”. 

Thomaz Müntzer foi um dos primeiros teólogos alemães da era da Reforma, se tornando um dos líderes rebeldes na Guerra dos Camponeses e virou-se contra Martinho Lutero, apoiando os anabatistas. Sua morte ocorreu em 17 de maio de 1525 após ser capturado, torturado e decapitado. 

O teólogo se instalou na fronteira das duas molas propulsoras dos movimentos reformadores, não conseguindo ganhar apoio institucional suficiente e nem adesão popular maciça. “Enquanto outros teólogos conseguiram apoio, apesar da perseguição, Thomaz conseguiu um certo apoio institucional não suficiente para blindá-lo das investidas de Luteranos e Católicos, e também não consegue adesão popular suficiente para causar as transformações que ele pretendia em relação as hipóteses”, comenta o professor Martin Barcala. 

As reflexões de Müntzer eram colocadas muitas vezes como diabólicas e de um fanatismo insano, outras como uma encarnação de um heroísmo revolucionário e precoce. Müntzer se posicionou pelos direitos e reinvindicações do “homem comum”, apesar de usar expressões como “pobre, rude povo, digno de compaixão e misericórdia”.  

O professor Martin na aula magna faz uma citação de Gutiérrez que resume a frase famosa de Thomaz “O povo não me entendeu direito!”, que mostra que a reforma não se iniciou pelas pregações dos seus teólogos, mas na recepção das ideias e no modo que se concretizaram na realidade, resultando em algo além do que todos pretendiam. 

Tradutor 

Nas liturgias, Thomaz realizava alterações que apesar de mínimas, davam outro significado. “Müntzer faz intencionalmente a troca de palavras, ele mantém a estabilidade das formas e mínimas alterações nas letras e conteúdo”, pontua Martin. 

O teólogo chegou a abrir uma gráfica clandestina após mandar fechar a antiga que divulgava suas obras, e começou a publicar textos pequenos por já estar sendo perseguido. “Você tem possibilidades de divulgação das ideias em um estágio inédito, mas que esbarra nas características próprias do processo de tradução que são dois sujeitos ativos. O Müntzer se dirige poucas vezes aos camponeses, o público-alvo dele é quem vive as margens da cidade”, comenta Martin que complementa “Müntzer se encontra com uma série de dissonâncias, como por exemplo o povo não querer pagar mais tanto imposto, o que os fazem aderir a essa contestação da autoridade. Mas o povo não tem nada contra a autoridade, ideologicamente falando. O Müntzer não”.  

Para Müntzer, na liturgia dele o tirano era aquele que pretendia ser mais temido do que Deus. “Para o povo, não tinha uma preocupação necessária em relação temer ou não o tirano, desde que isso resultasse no alívio das cargas, que haja possibilidade de se comer e pagar menos impostos”, pontua. 

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