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Mesa redonda debate o envelhecer com dignidade no Congresso Metodista 2022

por cindy lima Última modificação 2022-11-10T15:21:31-03:00

No último dia 26 de outubro, o Programa Aquarela participou do Congresso Metodista 2022, com uma mesa redonda, para debaterem o tema “Envelhecer é natural, sem dignidade não!”.

“Se envelhecer é um processo que inicia a partir do momento em que nós nascemos, porque não falamos sobre isso? A gente não conversa sobre o processo de envelhecimento”, inicia Claudia Cezar, mediadora da mesa redonda e coordenadora do núcleo de Arte e Cultura da Universidade Metodista.

Claudia questiona a razão de pautarmos a velhice apenas quando nós começamos a ter as perdas, quando nos olhamos no espelho e vemos rugas, quando a medicação começa a aumentar a dosagem e a procura médica se torna mais constante.

“Pensar na dignidade da vida, é também pensar que ela é finita. E, que se queremos, e nós queremos envelhecer, precisamos falar sobre isso sem medo, sem tabu, falar abertamente sobre o assunto, porque a nossa sociedade não fala”, aponta a mediadora.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil já está passando por uma transição. Dados apontam que em 2025 o Brasil será o 6° país do mundo com mais pessoas acima de 60 anos. “Nós não podemos falar de velhice no singular, mas em velhices, porque não é uma só. Eu provavelmente irei envelhecer de um jeito e vocês de outro, e a gente quer colocar tudo em uma caixinha como se fosse uma coisa só”, disse Claudia.

Rosamaria, especialista em gerontologia, o estudo que aborda o processo de envelhecimento nas dimensões biológicas, psicológicas e sociais, é uma das convidadas a participar da mesa redonda e aborda a questão de que muitas vezes nos ofendemos quando chamados de velhos.

“Existe toda uma história, uma construção social que fizeram. Se você pergunta para alguém o que ela faz com alguma coisa velha, ela responde que joga fora”, pontua.

A gerontóloga e também fisioterapeuta, aborda que é necessário entendermos a diferença entre velhice e envelhecimento. “Eu quero começar diferenciando duas palavras importantes, o que é envelhecimento e o que é velhice. Envelhecimento é um processo, ou seja, irei passar pelo processo de envelhecimento por toda a minha vida. No entanto, existe uma etapa da vida que nós chamamos de velhice”.

Apesar da velhice ser uma etapa da vida, constantemente as pessoas não percebem que estão envelhecendo, e, quando percebem, podem recorrer a procedimentos estéticos, tentando evitar algo natural, já que a visão que a sociedade coloca sobre ser uma pessoa velha é com um olhar negativo.

A própria OMS recentemente queria caracterizar a velhice como um problema de saúde, uma doença. “Como eu posso dizer que uma etapa da vida igual a infância, a adolescência, juventude e a vida adulta, é um problema de saúde?”, questiona Rosamaria.

A psicóloga Cintia Bordwell pontua que a questão socioeconômica é um grande fator na hora de pontuar quem atingiu ou não a terceira idade em países desenvolvidos e os que estão em processo de desenvolvimento, e defende que precisamos criar uma cultura de envelhecimento.

“O idoso de hoje não é o mesmo da década de 60 e 70. Na psicologia, nós propomos que seja criada uma narrativa baseada em estudos científicos, onde só se pega aspectos negativos do envelhecimento, rejeitando, mas também não idealizando esse processo. É uma narrativa equilibrada onde trazemos o potencial do idoso e os desafios enfrentados”.

Com o aumento da população idosa, os contextos tiveram mudanças. Pesquisas apontam que é comum nas famílias existirem várias gerações, idosos cuidarem de idosos, como por exemplo, as mulheres velhas da família acabarem se tornando cuidadoras e esquecendo de cuidarem de si, e como as comunidades são afetadas.

“Nós temos a generatividade, que é a preocupação com a comunidade como indivíduo e também com as próximas gerações. E esse é o grande potencial da terceira idade, poder apoiar e ensinar os mais jovens”, pontua Cintia.


Políticas públicas, preconceito e autonomia da pessoa idosa

Os direitos do idoso já estão garantidos no Estatuto da Pessoa Idosa, existente desde 2003, mas, apesar de estarem presentes, tem coisas que ainda não saíram do papel, como por exemplo, a educação para o envelhecimento nas escolas.

“O Estatuto diz que na escola, na educação básica, você precisa educar a criança para o que é o envelhecimento e uma cultura de paz, porque só assim que você consegue ensinar a criança, ao adolescente, o que é ser velho”, comenta Rosamaria.

A promoção de saúde e prevenção de doença é outro tópico que precisa ser abordado desde a infância. “Se eu sei desde criança que eu estou envelhecendo a cada dia e eu me conscientizo disso, talvez eu acabe vivendo de um jeito diferente”.

Maria Helena, que faz parte do Projeto Aquarela, compartilhou que somente na pandemia da Covid-19, a cidade em que mora, São Caetano do Sul, foi descoberta a quantidade de pessoas acima dos 100 anos no município.

Além dessa falta de atenção com a pessoa idosa e a falta do ensinar sobre o tema envelhecimento, a ideia que fica na cabeça da maioria das pessoas é o preconceito de achar que o idoso perde a sua autonomia.

Algo que vem acontecendo e Claudia compartilha, é que nas consultas médicas o profissional se direciona ao acompanhante jovem sobre o estado de saúde do idoso. Participantes da roda falam sobre casos que os profissionais de saúde se recusarem em atender pessoas da terceira idade por estarem sozinhas, além de que no geral, muitas pessoas deduzem que tem certas atividades que idosos não devem realizar por “passar da idade”.

‘’Para que eu envelheça com dignidade, eu preciso acreditar de fato que eu posso fazer tudo que eu quiser”, destaca Rosamaria.

Juridicamente, se o idoso tem suas funções mentais, cognitivas e intelectuais preservadas, ele tem autonomia e direito de escolha. Caso a família não concorde ou questione, os profissionais de saúde, principalmente psicólogos e assistentes sociais, precisam mediar a reunião de família.

“Primeiro pegamos a pessoa idosa, e, se ela consentir, chamamos a família. Em seguida explicamos o motivo da reunião e escutamos os familiares, realizando essa mediação. Mesmo que tenha essa questão de amor e carinho com a pessoa idosa, precisamos entender que autonomia e independência são os maiores tesouros que um idoso tem”, fala a gerontóloga.

É importante destacar que até mesmo a ideia de envelhecer e voltar a ser crianças, é um pensamento enraizado. A pessoa idosa possui conhecimentos e vivências que uma criança ainda não possui por estar em desenvolvimento. Rosamaria alerta o perigo de aceitarmos essa ideia.

“A partir do momento que assumimos que voltamos a ser crianças, estamos dando ao outro todo o controle da nossa vida. Então damos liberdade ao outro de pegar o nosso cartão, o poder de decidir se posso morar sozinha ou com um filho, se irei para uma casa de repouso e assim por diante”. 

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