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Maria Carmo Moreira Lima, pastora metodista na 1ª Região Eclesiástica (RJ), ex-aluna do Curso de Especialização em Estudos Wesleyanos da FaTeo. Ela atua na Pastoral com Crianças e Adolescentes Infratores.

O dia em que se deu a parceria PT/PMDB no espaço do Instituto Metodista Bennett ou Metodista-Rio foi de verdade, um momento de grandes possibilidades. Não me refiro somente ao acordo político feito pelos partidos e seus candidatos, mas a oportunidade de ver abrir-se “espaços” e contatos interessantes.

Imagino que saibam estou no Departamento de Ações Sócio-educativa (DEGASE) desde sua existência, o ano de 1994, quando ocorreu a extinção da FUNABEM, sob as “luzes” do evento Estatuto da Criança e Adolescente. Nestes tantos anos de Serviço Pastoral prestado aos adolescentes em medida de internação, foi possível conhecer os “abismos” existentes no cotidiano desta instituição governamental, que passou pelas Secretarias de Estado de Justiça, Direitos Humanos, Criança e Adolescente e que mais recentemente está alocada na Secretaria de Ação Social.

A maturidade é algo fantástico! A princípio nos dedicávamos somente aos adolescentes, e devo confessar que havia pouca (ou nenhuma!) disposição para um grupo muitíssimo importante no sistema: os e as agentes de disciplina. Mas com o tempo, as tantas experiências, percebemos que esta instituição é um sistema, e que como tal possui seus sub-sistemas, que funcionam ou não adequadamente.

A "iluminação" do conhecimento de como se dá o dia a dia da Unidade de Internação, me permitiu perceber a realidade deste sistema e seus sub-sistemas:

o stress a que estão submetidos os agentes de disciplina ou educacional, sua carga horária, seu despreparo, a necessidade de cumprir o “papel” que o Poder Público lhe confere: a “contenção a qualquer preço” (o que Foucault nos ajuda a entender), sem contar com o fato de que há duas categorias de funcionários: concursados e contratados desde 1994(!);
os apertos da equipe técnica, sempre tão menor que a necessária, pois com a superlotação cada psicóloga(o) / pedagoga(o) / assistente social / psiquiatra devem atender 30 ou 40 adolescentes em seu dia na Unidade de Internação;
as Escolas que funcionam (ou não) dentro destas Unidades Fechadas, e o preparo ou des-preparo deste corpo docente;
os limites da equipe de administradores, que tantas vezes administram o caos(!), como ter que lidar com o fato concreto de não ter uma vassoura ou papel higiênico na Unidade.

Enfim..., sentir o “pulsar” de uma Unidade de Internação nos permitiu conhecer as tantas e tantas ausências do Poder Público!

Estar tanto tempo em uma Ação Pastoral comprometida com a Paz que só se constrói com Justiça, permite sentir, ver, ouvir os limites e possibilidades da condição humana com outros olhos e ouvidos... Creio que o “sentir” se torna mais humanizado, mais tolerante e compassivo. E obstinada como sei que sou, depois de tanto tempo de frustração com as descontinuidades, a desumanização, que gera a violência cristalina do Sistema Total (que segundo Goffman tem sua própria lógica), a oportunidade de ter ali no Bennett o candidato apontado como favorito para o Governo do Estado, era imperdível!

Com energia (e nem imagina quanta!), decidi que tinha que falar com o tal candidato... E naquela “loucura”, com tanta gente empurrando e tal, pensava em que estratégia utilizar... Mas que bacana! Deus sempre está conosco! E conforme nos afirma o rev Dr Martin L. King : “Luta pela justiça e pela verdade. Deus estará sempre ao teu lado”! E está mesmo!

De verdade aquela noite foi incrível! Encontrei um amigo com quem trabalhei na Secretária de Estado dos Direitos Humanos, no período em que governou Benedita da Silva. Foi tudo de bom! Ele já conhecia a situação do Sistema Degase, e se mobilizou para me ajudar. Colocou-me em contato com o Prefeito de Quatis (do Sul Fluminense) que me apresentou um homem, que naquele momento acreditei ser um assessor do candidato Sergio Cabral, mas que na verdade era o próprio candidato a vice-governador! Ele me deu seu número celular e pediu que ligasse marcando uma entrevista.

Como aquela viúva insistente (Luc 18;1-8), passei três semanas ligando e ligando e ligando para o Sr Luiz Fernando “Pezão”, vice candidato ao Governo do Estado do Rio, e na manhã do dia 19 de Outubro, 11hs, lá estava eu, na Sede do PMDB-Rio(imagine, na sede do PMDB!), esperando o Sr “Pezão” com os funcionários contratados do DEGASE, intermediando as possíveis negociações.

Bem... o candidato se comprometeu em contar com minha presença no momento de transição do governo, que será PMDB para PMDB, mas com grupos diferentes do mesmo Partido. Com a ajuda de Deus, dez dias após a confirmação, pelo povo, de que Sergio Cabral é o novo governador deste Estado, lá vou eu buscar abrir espaços de intervenção e negociação.

Amigos e amigas compartilho contigo esta “historinha”, desejando contar com suas orações e bons desejos para que nós, Ig Metodista, possamos de forma incisiva INFLUÊNCIAR POSITIVAMENTE. Isto, resultado de anos de obstinação em acreditar que o que fazemos (mesmo com a negação de tantos e tantas colegas!) é uma AÇÃO PASTORAL comprometida com o Reino de Deus e sua perspectiva de Justiça. O Bispo deu o “OK! Pode fazer! E se for necessário, vou contigo”, e assim começo uma outra etapa: a articulação com alguns parlamentares do PT (e quem sabe PMDB, uma vez que me enveredei nesta seara!) para influenciarmos na permanência do DEGASE na Secretaria de Estado de Ação Social, e nas escolhas para a direção do DEGASE (Socorre-nos! Oh! Senhor nosso Deus!), e algumas mudanças que são absolutamente necessárias.

Estou desejando, também, uma “aberturinha” para contato no CONANDA em Brasília, em minha viagem neste mês de novembro onde farei uma Oficina com a Confederação de Mulheres Metodistas. Tenho esperanças de que este seja “o Tempo” de mudanças efetivas e a concretização de um SONHO: o sistema sócioeducativo! E com toda força, a tal sede e fome de justiça, desejo ver novos dias para o Sistema DEGASE, e sei que SÓ com pressão! E muita pressão!

Temos contado com setores da Igreja Metodista aqui no Rio, que tem fortalecido e afirmado o compromisso com a Unidade de Internação em que estamos: CAI-Belford Roxo (que recebe adolescentes de toda a Baixada Fluminense, interior do Estado e São Gonçalo). Em situações limite onde faltava tudo, recebemos doações de material de higiene da Escola Bennett, que na administração do prof Bertalo não só arrecadou os materiais, mas foi até lá para entregar. Os adolescentes da Igreja Metodista de Vila Isabel, com a coordenação da querida Rute Noemi e o apoio do Rev. Ronan Boechat de Amorim, estão em uma campanha mobilizando toda a Igreja para a obtenção do material diverso.

Contamos também com a gestão passada da Federação de Mulheres (RJ), que de maneira generosa além de ajudar a montar a Padaria da Unidade, foram até lá (enfrentando o medinho...!) para a entrega dos objetos.

Recebemos no primeiro semestre o apoio da Igreja Metodista de Nilópolis, que com o afeto integral da Revda. Joana D’Arc Meirelles, abriu suas portas para acolher (inclusive com almoço!) o Curso de Capacitação que nós, Igreja Metodista, oferecemos os/as professores/as da Escola Barbosa Lima Sobrinho (que funciona dentro do CAI-Belford Roxo) e alguns agentes de disciplina da Unidade de Internação, e inclusive o seu Diretor. O Curso foi ministrado pela equipe do LIPIS/Pontifícia Universidade Católica-Rio, e a querida profa. teóloga católica-romana Teresa Cavalcanti (também da PUC-Rio). Deus seja louvado pela boa atenção e carinho com que nós todos fomos recebidos pela Ig Metodista de Nilópolis! Vocês nem podem imaginar o TESTEMUNHO de serviço que esta comunidade ofereceu aos e às que participaram do curso.

Enfim... neste dia 30 de Outubro começaremos uma nova etapa: um segundo momento de articulação. Como sociedade civil organizada que somos, e desejando que nosso Deus-companheiro nos dê sabedoria, ajudando-nos a abrir caminhos concretos, para assim influenciar o novo Governo do Estado do Rio nas decisões sobre o DEGASE, peço e conto com suas orações, apoio, suporte.

Muito obrigada por “ouvir” minhas historinhas.

Um grande abraço,

Pastora Kaká

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