Além de redes sociais, Bolsonaro usou vácuo de projeto alternativo de PT e PSDB, diz analista político

Professor Kleber Carrilho falou na série de palestras do Metô XP
Além de redes sociais, Bolsonaro usou vácuo de projeto alternativo de PT e PSDB, diz analista político
Professor Kleber Carrilho falou na série de palestras do Metô XP

Não foram só as redes sociais que projetaram os campeões de votos nas eleições de 2018. Deram-se bem candidatos que surfaram na onda conservadora do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que por sua vez soube se apropriar do sentimento antipetista dominante no País.

O grave nesse cenário é que o PT não conseguiu construir respostas às críticas que vinha recebendo. Exemplo pode ser constatado quando o candidato Fernando Haddad, no final do 2º turno, começou a alardear a capacidade de magicamente tabelar o botijão de gás a R$ 49. “A impossibilidade de vitória do PT ficou clara nesse momento tão decisivo, uma gravidade enorme porque jogou a eleição no varejo do R$ 1,99 e negou as quatro vitórias anteriores do partido”, entende o coordenador do curso de Marketing Político e Eleitoral da Universidade Metodista de São Paulo, Kleber Carrilho, que falou na noite de 6 novembro sobre Que país é esse? – O que vivemos e aprendemos nas eleições de 2018, na série de palestras Metô XP.

Segundo professor Kleber, Bolsonaro venceu a partir do vácuo em que entrou a campanha do PT devido à falta de sensibilidade para compreender o que ocorria no País. Do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef em 2016 ao discurso do rapper Mano Brown às vésperas do pleito de 2018 sobre o distanciamento do partido das classes populares, não teria havido autocrítica para montar alerta para este ano. “Daí a guinada conservadora, porque não houve construção de uma alternativa”, afirmou.

O tamanho do antipetismo é bem representado pelo vencedor João Dória (PSDB) em São Paulo, que conseguiu associar o adversário Márcio França (PSB) ao PT, acrescentou professor Kleber, que também atribuiu a vitória de Bolsonaro ao que chamou de “incompetência do PSDB”. Disse que em 2014 houve “mimimi de Aécio Neves” ao não aceitar a derrota para Dilma, em 2016 o partido enfileirou-se na corrente do impeachment, mas neste ano “vendeu-se para João Dória”.

Analista político, o professor da Metodista disse que ele próprio projetou outro cenário nestas eleições, mas que o desfecho não surpreende. Bolsonaro foi o substituto do momento para o caráter populista que caracteriza as eleições no Brasil, como o foram Fernando Collor como “caçador de marajás”, Fernando Henrique Cardoso como “pai do Real”, o hoje presidiário Luis Inácio Lula da Silva como “herói dos pobres” e Dilma Roussef como “mãe do PAC”.

Compartilhe sem dó

Citando que os eleitos com maior votação também para os Legislativos foram youtubers e blogueiros, Kleber Carrilho admitiu a força das plataformas digitais, que tornaram a propagação de informações mais ágil e com alcance infinito para o bem e para o mal, como no caso das fake news. Mas lembrou que boatos e notícias falsas sempre existiram.

Além da onda antipetista, teria prevalecido um “espírito de concordância” com o que os eleitores recebiam em suas redes. “Não houve discussão ou troca de argumentos. Houve muita briga ou disseminação daquilo que se acreditava ou não”, citou o coordenador da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Metodista. Ele destacou que pesaram ainda a campanha do “compartilhe sem dó” e do que estudiosos definem como “lei da simplificação e do inimigo único” usada pelo presidente eleito.

Professor Kleber também mostrou que Jair Bolsonaro não veio do lugar nenhum. Ele se transformou em celebridade self-made há pelo menos quatro anos, quando começou a trabalhar componentes importantes numa campanha, entre os quais o tempo necessário para a troca de poder, a interação com o cidadão-eleitor e a capacidade de encarnar personagem com discursos populistas -- no caso, o anticomunismo e questões de gênero como o kit-gay. O atentado a faca sofrido em Juiz de Fora teria acrescentado músculos à narrativa de Bolsonaro, pois acrescentou  o sentimento de "humanidade" ao candidato e muitas horas de exposição no noticiário nacional.

Kleber Carrilho também enfatizou que, ao contrário do propagado, marqueteiros não têm qualquer controle do ambiente político. Sem horário eleitoral e membro de partido nanico, Bolsonaro é prova disso, emendou.

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